Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.
Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,
o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
“Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá”.
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:
Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.
Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar.
Sérgio Reis
You can break my heart forever
Há 14 horas
5 comentários:
Filho és pai serás, conforme o fizeres assim o receberás!
=)
curiosamente existem mesmo muitas histórias assim a passarem-se todos os dias e passa-me um bocado ao lado. de alguma forma que ainda não consegui muito bem encaixar, existem filhos que despejam literalmente os pais longe das suas vistas e só aparecem de volta no dia da sua morte.
O estado de Minas Gerais lançou um anúncio publicitário com este poema. Vale a pena.
E acho que se calhar não estamos assim tão despertos para a exclusão dos idosos como deveríamos.
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