Há uns dias, numa madrugada passada em claro que estava em vias de me levar ao desespero, ocorreu-me uma daquelas inúteis e absurdas ideias que só surgem quando se está vergonhosamente desocupado – ir ver as mensagens modelo do telemóvel. E ora que, para meu espanto, algures entre “Estou atrasado. Chego às”, “Agora estou ocupado. Telefono mais tarde.”, “Reunião cancelada.” e congéneres, me deparo com um “Também te amo”. E fui de imediato invadida por uma imensa consternação, para não dizer ‘revolta’.
Talvez nada disto passe de uma hipérbole ou extrapolação [tipicamente feminina], mas não consegui evitar sentir-me estarrecida perante semelhante banalização dos sentimentos, das palavras e, porque não, das pessoas, a que se assiste passiva e catatonicamente na sociedade hodierna.
Seja pela frieza e distância que as novas tecnologias imprimem nas relações, ou pela gradativa usurpação do sentir psicológico pelo sentir físico, em nada mais consegui pensar que não neste vácuo de comunicação que parece absorver a sociedade contemporânea e em quanto das nossas vivências e relacionamentos cada vez mais se sedimenta numa base virtual, fictícia e até acessória.
Que necessidades serão estas da agitada vida do Homem moderno que urgem qualquer um a despachar um “Também te amo” como quem despacha sandes para o almoço?
Quão insólita consegue ser esta existência quando as pessoas se permitem sequer conceber a hipótese de enviar tamanhas palavras, de um modo tão maquinal e autómato?
Não sei, admito. Mas a noite avizinhou-se longa.
La Sigo Amando
Há 1 dia