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terça-feira, 2 de setembro de 2008

guerra

Já algumas vezes aqui se falou de guerra. Ficam, nessa linha, as breves palavras que encerram o conto "três soldados miraculosos" de Stephen Crane. Nesta parte da pequena história uma rapariga acorre em auxílio de um soldado do exército rival, atacado por elementos da facção com que se identificava.

«Esquisito», disse o jovem oficial. «Esta rapariga é claramente a pior dos rebeldes e no entanto cai a chorar e a gemer que nem uma louca sobre um dos seus inimigos. Há-de vir de manhã com toda a espécie de remédios...vão ver se não vem. Esquisito.»
O astuto tenente encolheu os ombros. Após reflectir encolheu novamente os ombros. E disse: «a guerra muda muitas coisas; mas não muda tudo, graças a Deus!»

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Guerra

Dix-septième parallèle é um filme documentário de Joris Ivens de 1968. O realizador demorou dois meses a filmá-lo, focando-se numa aldeia do Vietname do norte Vêem-se aviões americanos, bombas americanas, a captura de um piloto americano, a destruição dos campos de colheitas, os relatos das populações, imagens de um ataque em que caíram cerca de 80 bombas por habitante da aldeia, crianças a aprenderem a combater, a brincar às capturas de pilotos americanos. Relata também uma verdadeira comunidade que, unida, sobreviveu. Em TODO o documentário perpassa a certeza daquele povo de que vencerá. O “hospital” da aldeia (um buraco no chão) tem numa placa à porta: “O hospital é um campo de batalha. Cada cama é um posto”. Não são situações baseadas em factos reais. Não há excelentes actores. Há situações reais de pessoas reais numa barbárie real.
Porque refiro isto?
Porque creio que quem quer que veja o filme – tudo o que perpassa é uma luta pela liberdade (estamos a falar de camponeses muitas vezes analfabetos) – se identifica com a ideia que lhe subjaz. Durante as quase duas horas “todos somos vietnamitas”. E recorda-se a pergunta que ainda há tempos o ari sugeria: de quem são as guerras? Há uma altura em que um sujeito da aldeia se pergunta sobre o porquê de aqueles soldados americanos lutarem, sem nenhum ideal. De quem é a guerra?
. O que hoje saltou à vista, o que hoje senti com tanta intensidade foi o poder da coesão social, da humanidade em cada um dos seus membros. É também lembrar vietnamitas indignados com os “yankees”, ou piratas, por os obrigarem a sair de casa. A dizerem que só eles, vietnamitas, podiam queimar a própria casa. Que queriam morrer na terra dos antepassados.
É a luta. E, naquela população, é uma luta pela liberdade. Pela liberdade face a um poder externo. Uma imensa ode à força do combate comum que, de resto, levou a um resultado do conflito diferente do esperado à partida. Como se diz na folha da cinemateca: “No hemisfério ocidental, onde estava o público a quem o filme se destinava, ninguém, ou quase ninguém acreditava à época, que a toda poderosa América pudesse perder uma guerra, fosse com quem fosse, e muito menos um povo paupérrimo e mal amado, como eram os Vietnamitas”.
Podemos pensar na história colocando o enfoque nas copulas e nos actores políticos. Este filme mostra-nos o ponto de vista da população, esquecendo militares heróicos ou jogos diplomáticos de bastidores. “É um filme sobre a força da vida, sobre o amor pela vida humana nas condições mais adversas.” E aí não vietnamitas ou americanos, há homens.