Dix-septième parallèle é um filme documentário de Joris Ivens de 1968. O realizador demorou dois meses a filmá-lo, focando-se numa aldeia do Vietname do norte Vêem-se aviões americanos, bombas americanas, a captura de um piloto americano, a destruição dos campos de colheitas, os relatos das populações, imagens de um ataque em que caíram cerca de 80 bombas por habitante da aldeia, crianças a aprenderem a combater, a brincar às capturas de pilotos americanos. Relata também uma verdadeira comunidade que, unida, sobreviveu. Em TODO o documentário perpassa a certeza daquele povo de que vencerá. O “hospital” da aldeia (um buraco no chão) tem numa placa à porta: “O hospital é um campo de batalha. Cada cama é um posto”. Não são situações baseadas em factos reais. Não há excelentes actores. Há situações reais de pessoas reais numa barbárie real.
Porque refiro isto?
Porque creio que quem quer que veja o filme – tudo o que perpassa é uma luta pela liberdade (estamos a falar de camponeses muitas vezes analfabetos) – se identifica com a ideia que lhe subjaz. Durante as quase duas horas “todos somos vietnamitas”. E recorda-se a pergunta que ainda há tempos o ari sugeria: de quem são as guerras? Há uma altura em que um sujeito da aldeia se pergunta sobre o porquê de aqueles soldados americanos lutarem, sem nenhum ideal. De quem é a guerra?
. O que hoje saltou à vista, o que hoje senti com tanta intensidade foi o poder da coesão social, da humanidade em cada um dos seus membros. É também lembrar vietnamitas indignados com os “yankees”, ou piratas, por os obrigarem a sair de casa. A dizerem que só eles, vietnamitas, podiam queimar a própria casa. Que queriam morrer na terra dos antepassados.
É a luta. E, naquela população, é uma luta pela liberdade. Pela liberdade face a um poder externo. Uma imensa ode à força do combate comum que, de resto, levou a um resultado do conflito diferente do esperado à partida. Como se diz na folha da cinemateca: “No hemisfério ocidental, onde estava o público a quem o filme se destinava, ninguém, ou quase ninguém acreditava à época, que a toda poderosa América pudesse perder uma guerra, fosse com quem fosse, e muito menos um povo paupérrimo e mal amado, como eram os Vietnamitas”.
Podemos pensar na história colocando o enfoque nas copulas e nos actores políticos. Este filme mostra-nos o ponto de vista da população, esquecendo militares heróicos ou jogos diplomáticos de bastidores. “É um filme sobre a força da vida, sobre o amor pela vida humana nas condições mais adversas.” E aí não vietnamitas ou americanos, há homens.
filhos da Duna
Há 3 dias
1 comentário:
Muito profundo, tiago, gostei muito, puseste-me com vontade de ver a fita. Já agora, na mesmíssima linha, recomendo-te o "The Wind that Shakes the Barley", do Ken Loach. Fabuloso.
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