domingo, 21 de março de 2010

Quem usa as calças?

40 comentários:

Li disse...

Isto fez-me lembrar a (vã) conversa que tive no outro dia (involuntariamente até com alguns membros do corpo praxístico), sobre as mulheres poderem trajar de calças. Parecia que tinha cometido uma injúria, como se tivesse urinado na porta de uma igreja ou no próprio altar. Que ofensa: uma guerra ao traje! (a única tristeza no meio disto [e trajes à parte, que era aí que eu queria chegar, na altura, com a questão da oportunidade de trajar de calças] é que tudo para o Feminino é uma guerra.)

Mas um dia... meus caros... vai haver uma que se vai estar completamente nas tintas para esses estereótipos, tal como certas orfeonistas estiveram quando trajaram pela primeira vez (oh que displicentes, como se atreveram elas? Elas (e tantas outras estudantes), que tiveram que esperar um hiato de 6 anos (1951-1957) para que o seu traje fosse oficializado por uma instituição cujo órgão máximo só pode ser ocupado por um homem. (e ironicamente 50 anos depois, ainda nada mudou nesse aspecto. porque será?)

Li disse...

... como se usar calças ainda ofendesse alguém...

Ary disse...

As mulheres não precisam de ser como os homens para ser iguais a eles. Não precisam de usar calças, ou coletes, ou tesouras, para ter igual dignidade, a estes.

Talvez este período de adolescência corresponda a uma fase de confusão do movimento feminista em torno dos seus propósitos, tenho esperança que assim seja, mas a dois sexos diferentes corresponderem indumentárias diferentes não é de todo um problema, ou uma forma de discriminação...

Haver trajes diferentes parece-me mais uma forma de valorizar pela diferença ambos os sexos mais do que uma qualquer forma de discriminar seja quem for.

Ary disse...

Errado acho falar em tunas femininas e em trajes femininos por oposição a tunas e trajes académicos, porque, em boa verdade, académicos todos eles são.

Li disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Li disse...

"Talvez este período de adolescência corresponda a uma fase de confusão do movimento feminista em torno dos seus propósitos, tenho esperança que assim seja, mas a dois sexos diferentes corresponderem indumentárias diferentes não é de todo um problema, ou uma forma de discriminação..."

1ºponto. Isso ofendeu-me.

2ºponto. Eu não tenho vergonha do feminino ou das saias. Eu não espero assemelhar-me ao homem usando calças - para dizer a verdade eu espero nunca assemelhar-me ao homem (e não é nenhum movimento feminista que provoca esse desejo em mim). O que eu digo é que usar calças não deveria ofender ninguém. Se trajar significa igualdade (ou deveria significar, dadas as questões do aparecimento do traje académico) e se hoje as mulheres as mulheres usam calças, porque não poderem trajar de calças? O traje não é a roupa do estudante? O traje feminino não é a roupa da estudante mulher? Não usam as mulheres calças no seu dia-a-dia? Não me interessa se o traje tem calças ou tem saia. O que me interessa é que as mulheres não possam escolher usar calças, porque "pode ofender", "porque é um desvirtuamento". Eu não estou nada confusa, sei perfeitamente o que estou a dizer.

Li disse...

*(...)O que me interessa é que as mulheres não podem (...)

Ary disse...

Se uma frase tão inócua pode ofender-te, com mais facilidade deverias compreender que alguns se ofendam com a tua sugestão do uso de calças pelas mulheres.

Não me parece que saibas exactamente o que dizes. Não há mal nenhum nisso, não podemos saber sempre o que dizemos. O traje não pretender reproduzir nenhuma evolução na indumentária que se passe na sociedade. Não é por se ter deixado de usar capas, ou gorros, os relógios de bolso, ou batinas, ou por os coletes terem saído de moda que o traje irá mudar. Da mesma maneira, não é se passar a usar uma outra peça de roupa que esta deverá ter uma qualquer adaptação para o traje.

Dizeres que as mulheres devem trajar de calças porque hoje usam calças é para quem traja tão estranho como sugerires que se passem a usar sapatilhas, ou relógios de pulso.

O traje é uma indumentária tradicional com um número restrito de elementos e um conjunto sedimentado de regras de uso. Claro que este poderá e quem sabe mesmo deverá evoluir, mas não me parece que as mulheres usarem calças seja uma evolução.

Li disse...

Este pode e evolui. As mulheres não trajam exactamente como as orfeonistas trajavam. Os homens não trajam hoje como se trajava há três séculos. A capa do traje foi criada há relativamente pouco tempo (em relação ao tempo do traje). Isto são só exemplos. Eu sei o que estou a dizer. Ao longo dos tempos fizeram-se alterações ao traje académico, ou porque certas peças caíram em total desuso ou porque seria mais prático remove-las. Mas pronto... dou-te razão, tem que passar muito tempo não é verdade? Tem que passar muito tempo para que os puristas não se sintam ofendidos com a Mudança. É uma palavra difícil de engolir, especialmente para muitos homens, acredito. De qualquer das formas, eu só disse que há-de chegar o dia... não tem que ser já...

Li disse...

Se bem que até era divertido... ia a uma costureira... aparecia na FDUP... partiam-me as pernas (como disse o Hugo)... com sorte ficava em coma durante uns tempos e acordava em Agosto pronta para ir para a praia...

Hugo disse...

Não acredito que ficares com as pernas partidas te possa por em coma...

Tudo o que te disse é parecido demais com o que o ary disse, como tal poupo o meu teclado

:D

Li disse...

Além disso parece-me que usar sapatilhas e calças de tecido são coisas bem diferentes. Calças de tecido não tiram a harmonia do traje. Que foi para isso que o traje foi criado: para ser um elemento harmonizado, padronizado entre os estudantes.

Li disse...

Mas se ao partirem as pernas eu caísse e batesse com a cabeça na esquina dum qualquer lancil...

Ary disse...

Eu fui mais obamista neste blog do que qualquer outro por isso para mim a palavra mudança não é assim tão dificil de engolir =)

Claro que o traje foi sofrendo alterações. Quanto à capa não tenho tanta certeza no que dizes, já que, ao que sei, ela será um dos seus elementos mais constantes. Mas a bem da resenha histórica é preciso dizer que as batinas variaram muitíssimo em corte e em comprimento e muitos adereços foram sendo introduzidos e caíram em desuso, outros foram ficando.

Mas fica aqui também um argumento que vale o que vale: ou as mulheres passavam todas a usar calças ou então isso criava autenticamente dois trajes para as mulheres, prejudicando assim a unidade do traje.

Além disso há o lado estético, mas esse é tão subjectivo que nem vou entrar por aí...

Li disse...

Ary: "Além disso há o lado estético, mas esse é tão subjectivo que nem vou entrar por aí..." (vou guardar esta frase, para sempre, no meu coração, para que um dia possa incendiar todos aqueles que negam a existência do lado estético)

Um traje de inverno e um de verão :P ahah (estou naturalmente no gozo), eu não creio que dois elementos diferentes mas do mesmo tecido quebrem a unidade do traje. Eu acho que complementa. Mas eu insisto quando digo que não me importa a estrutura do traje: importa-me que as mulheres tenham que criar guerras cada vez que pretendem quebrar estereótipos, guerras que simplesmente não têm razão de o ser - quando as coisas podiam ser tão simples. Enfim, partam-me as pernas se quiserem, mas vejam lá, não me partam a mão esquerda porque é a que eu uso para cozinhar para o meu companheiro. (Estou obviamente a ser irónica [só para o caso de aparecer algum espertalhão a comentar]).

Foste Obamista? E quê, paladino da Mudança? És um herói porque defendeste uma rotura com o sistema-Bush ou porque defendeste um tipo negro?(de qualquer das formas o Obama tem testículos à mesma - não era bem esse tipo de Mudança que eu me estava a referir...).

Ary disse...

Geralmente um =) indica que não estou a falar muito a sério.

Ser ou deixar de ser obamista indica muito pouco, se alguma coisa, sobre a capacidade de uma pessoa para encarar a mudança, mas acho que uma análise superficial das minhas convicções políticas e sociais revelar-te-ia que não sou propriamente conservador. Tenho a minha fé na mudança, no progresso, na evolução da humanidade e sou moderadamente optimista relativamente ao futuro. Medo da mudança não é exactamente o meu problema ao considerar a hipótese de aceitar calças no traje feminino. E não, não sou um herói por ter apoiado seja quem for, seja porque motivos tenha sido. Não precisas de me menorizar para teres razão.

Não há complementaridade nenhuma entre as calças e as saias: elas criam trajes diferentes e substituem-se. Os homens também não têm calças e calções.

Não cries lutas inúteis relativamente a coisas tão pequenas. Enquanto mulher empenhada nas questões de género podias preocupar-te com coisas um bocadinho mais sérias...

Ary disse...

Não percebi a cena do lado estético ...

Li disse...

E eu preocupo-me com questões bem mais sérias... por isso é que estou a discutir isto num blog... porque se levasse isto mesmo a sério já tinha aparecido trajada de calças na faculdade.

Eu não te menorizei... Simplesmente reduzi o zoom à questão...

A cena do lado estético... aaaaah... um dia conto... envolve lobos maquilhados e é chato e não me apetece tricotar agora...

Anyway dou-te razão, até jogar Oblivion deve ser mais importante para o mundo do que discutir as calças do traje. Até porque as pessoas que trajam, se queres que te diga, a meu ver nem merecem essa discussão, mas isso é a minha opinião pessoal. Vou jogar Oblivion...

Hugo disse...

Espero que esta discussão fique cmg no MSN e com o Ary aqui...porque tem grande potencial para dar para o torto...

O teu ultimo comentário, e outras frases menos felizes não reproduzem sinceramente a pessoa que és...Espero que não criem falsos juízos sobre a tua pessoa e que não deem azo a mais uma onda de debate onde se discute mais as pessoas, mais os rótulos, mais o extremismo que qualquer outra coisa...

Como tal acho que deviamos todos ir jogar Oblivion...

Li disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Li disse...

uh

D. disse...

:) embora ache bizarro estar aqui a discutir-se o traje, concordo com a ideia de aparecer na faculdade trajada com calças :P até porque acho que não te iriam partir as pernas, partindo do princípio que se tratam de estudantes universitários civilizados, provavelmente iriam só rir-se por apareces assim.
De qualquer forma, parece-me uma discussão vã, pois o traje é hoje associado a um movimento onde as mulheres estão claramente numa posição de inferioridade muito séc.I a.C. Portanto, será natural que as tuas mudanças na indumentária não sejam bem vistas... E eu tenho um traje, é verdade, e até gosto dele embora tenha uma saia, porque nunca tinha visto as questões desse prisma. Mas sempre me permite ter momentos em que uso saias xD

Li disse...

E eu tenho um traje, é verdade, e até gosto dele embora tenha uma saia, porque nunca tinha visto as questões desse prisma.

Eu também gosto do meu traje, e tenho que mandar arranjar a saia que me é enorme e gosto dele(reciclagem de família) mas já disse que não foi isso que pus em causa. Anyway... nevermind... tenho que calar a boca, ou travar os dedos, porque as pessoas podem pensar mal de mim.

Li disse...

*gosto dela

DC disse...

Bem, e porque não os homens puderem usar saia de traje também?
De certeza que alguns ficavam bem mais contentes, e até sei de um que já o tentou fazer, mas não conseguiu, por não haverem no local saias que lhe servissem...

Uma questão, que eu agora paro pouco na feculdade. A saia é uma peça de vestuário em desuso por parte do sexo feminino?
É que, do que me lembro da última vez que fui à faculdade, a maioria das raparigas andava de saia, nem sequer estava trajada, nem estava calor(estava até algum frio diga-se), e pasme o leitor, as saias eram BEM MAIS CURTA que as saias de traje...

Sinceramente, já vi isso acontecer num movimento a que pertenci, (deixar de ser obrigatória a saia, podendo as mulheres optar por peça de vestuário igual à dos homens) e digo, que na minha opinião, as mulheres que vestiam igual aos homens, não ficavam tão femininas...

Sinceramente, continuo a não perceber essa vontade de perder a identidade sexual e vontade de se assemelhar com o sexo oposto que algumas mulheres têm...

Quanto à afirmação de que na praxe académica, a mulher é inferior ao homem, revela desconhecimento da realidade da nossa faculdade e até da generalidade da academia... Não só actual como histórica...

DC disse...

ah, e o que é Oblivion? para eu também poder jogar...

Guilherme Silva disse...

O Oblivion é a sequela do Morrowind, da saga Elder Scrolls. É um role-playing na 1ª pessoa.
Está bem conseguido, e é bom de jogar.
Eu crio sempre uma personagem Argonian porque eles respiram debaixo de água.
:)
(geek)

Guilherme Silva disse...

Ah, e estava a brincar...
Crio é Redguards porque os Argonians são pussies.

jesuíta disse...

Adragão de Saias?

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

discutir as calças do traje feminino como uma luta pela igualdade feminina é tão válido como defender a causa dos pauliteiros de Miranda, que têm de usar saias.

porque não podem os pauliteiros usar calças?
porque tem a guarda de honra grega de usar saias e tranças?

porque é que os guardas reais britânicos têm de usar aqueles capacetes amaricados? aquilo não é nada prático para um grupo de soldados.

e que faz a guarda suíça do Vaticano vestida daquela forma garrida, armados de alabardas?

seria tão bom se o mundo fosse todo cinzentinho, não era Liliana?
todos iguaizinhos, na medida dos iguaizinhos mediocrezinhos...
mundinho bonitinho cinzentinho.

em vez de se contar às crianças a história da gata borralheira que se tornou uma princesa, contamos a história da gata borralheira que transformou todas as princesas em gatas borralheiras.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Guilherme,

eu sou mais Dragon Age, ou Baldur's Gate.
e escolho sempre o elfo selvagem.

o que fará de mim, do ponto de vista de um gamer, um travesti.

Ary disse...

Ainda assim não me parece que o igualitarismo seja o objectivo da Liliana. Vá ... não uses a rapariga para servir uma agenda política.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

man, you just can't handle the truth...

já agora, vais estar pela fac de tarde?

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

e não, não é uma questão de agenda política.
mas muito de politica está imiscuído no nosso pensamento do dia-a-dia.
mesmo sem o sabermos.

DC disse...

Passei aqui só para dizer que a vir para o escritório passou por mim uma catraia(dos seus 15anos) que levava nada mais nada menos que uma camisa(note-se que utilizo este termo em vez de blusa, normalmente associado ao vestuário feminino por questões de igualdade), umas meias calças de lã grossas, botas de cano alto e casaco de malha...Estive mesmo para perguntar quanto era o tombo, mas pela mochila parecia ir para a escola...

Sendo assim, quero propor que nem saia nem calça...só meias e camisa!

Concordo com o mpr, apesar de também não jogar o jogo(é mesmo?) de que ele fala...
Oblivion para mim é nome de um álbum(ou será de uma música?), mas isso sou eu que sou limitado e não consigo ver à frente do meu tempo...

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Dragon Age existe.
e ninguém se atreva a desdizer estas palavras.

João Fachana disse...

Calças no traje feminino? Opa o traje feminino deveria ainda ser mais feminino do que o que é, vamos agora querer torná-lo mais masculino? Já chegam os casacos "sacos de batatas" e a saia pelo joelho, não vamos estragar mais a beleza de quem usa o traje feminino :D

(Comentário apenas para aparvalhar, não para ser tomado a sério...)

Li disse...

DC:"Sinceramente, continuo a não perceber essa vontade de perder a identidade sexual e vontade de se assemelhar com o sexo oposto que algumas mulheres têm..." - Este argumento parte da errada acepção de que as calças são um elemento masculino; hoje em dia, as calças são uma peça de vestuário uni-sexo, que até pode atribuir bastante feminilidade. Os smokings femininos do Louis Vuitton (original criador) estão cá para provar que nenhuma mulher com umas calças formais se quer assemelhar a um homem; isso é tão ridículo como dizer que uma mulher de botins se quer assemelhar ao Luis XV ou que um homem de kilt se quer assemelhar a uma mulher; Além do mais, reitero, mais uma (inúmera) vez, que aqui a questão é a de que uma mulher quando cria uma rutura, está a criar uma guerra (e não propriamente com o assunto do traje em si). É esse o título do post, e foi nesse sentido o meu primeiro comentário. As vossas respostas só me dão razão, até ao momento.

Manuel: Se trajar fosse só tradição como vocês todos clamam, hoje as mulheres não trajavam. Trajar tornou-se tradição, mas a tradição nem sempre pode ser tudo. Além disso: grow up. Usares o facto de eu ser assumidamente de esquerda para me ridicularizares é não só despropositado (porque ao contrário de ti, nem tudo na minha vida se rege pela minha cor política, felizmente, e esta conversa é um desses momentos em que as duas questões não se cruzam) como arrogante. Mas também... do i care? E depois... podem se sentir todos muito incomodados e acharem todos muito ridículo o facto de uma miúda de um metro e meio dizer que talvez um dia alguém dotado de ovários apareça na faculdade trajado de calças, quando estiver cansado de andar com as perninhas à chuva e de comprar meias de vidro, mas isso não é motivo para me dizeres que quero tornar todas as princesas gatas borralheiras. Não. Nada a ver. Mas não escondo que digo às gatas borralheiras parar conhecerem melhor o príncipe antes de se casarem com ele por dinheiro ou aparência, não vá ser ele sado-maso... ou gay.

Inês P. disse...

serei a única a acreditar que esta discussão não leva a lado nenhum?

DC disse...

Inês, não és.

Li, estás portanto a dizer que as calças são um elemento de vestuário de homem e de mulher, presumo que os calções também.
Já agora a mulher é a única que pode ter peças de roupa exclusivas?
E tens razão, não conheço os "smokings femininos do Louis Vuitton", mas até ler as tuas palavras, ia jurar que nunca tinha ouvido valar de smoking feminino, aliás, até pensava que o smoking só havia de homem, mas estava a partir da errada acepção que os homens podem ter peças de roupa que as mulheres não usam. Shame on me.

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