sábado, 15 de novembro de 2008

XI Debate - "Esta casa defende que todos os Clichês têm um fundo de verdade"

Desta feita, cabe-me a mim sumariar o debate da última quinta-feira. O que é um privilégio não comparável a outros mesmos sumários que tenham sido feitos de antigos debates. E isto porque o XI Debate foi, sem sombra de dúvidas, o mais hilariante até hoje presenciado. Nas palavras do Ramalho, meu companheiro de mesa, um acontecimento genuinamente felliniano. Como sempre, as palavras assertivas do Ramalho para as situações apropriadas.

No Governo tivemos o Canotilho como Primeiro-ministro e o Daniel (estreante) como seu colega de bancada. Na oposição encontravam-se o Guilherme - outro estreante - e o Ary, como líder de bancada.
Cabe dizer que todos os deputados foram férteis em tiradas robuscadas, non-sense ou simplesmente... desconcertantes. O que evidentemente muito divertiu a mesa e a plateia.

Quanto ao debate propriamente dito, creio ser importante sublinhar um aspecto essencial: durante todo o debate, as equipas confundiram sistematicamente "Clichê" com "Preconceito", "Fobia social" e por aí fora... Além de terem usado expressamente estes termos, só assim se compreendo a utilização de argumentos como a homossexualidade, a pretensa burrice de mulheres loiras, o hip hop como música supostamente de pretos, a moleza dos alentejanos, etc. Pior, além deste cruzamento errado de conceitos, apenas usaram o clichê num sentido socialmente pejorativo, como se constata pela lista de argumentos que acima indiquei.
Com este tema, pretendia-se que as equipas explorassem o que é verdadeiramente um Clichê, o que está na sua base (ou o que não está). Pretendia-se que o empirismo de que se rodeia o Clichê, seja ele social, intelectual e culturalmente positivo ou negativo, servisse como prova de que ele não é um mero artíficio para estereotipar grupos de indivíduos, tipologias de acção e pensamento ou tradições.
Exemplo: O Amor não escolhe idades. Quantas vezes vemos e ouvimos este cliche em conversas banais, filmes, músicas ou livros? Inúmeras, concerteza. E que crítica pode ser esgrimida? Das duas uma: ou se rebate e se argumenta que é apenas uma frase feita para justificar situações ocasionais; ou se aceita e se explana que desde sempre o Amor entre mais velhos e mais novos aconteceu (espontaneamente como é óbvio, não estamos a incluir os casamentos por conveniência e situações análogas), e que, por isso, por mais que se banalize e desvirtue a genuidade dessa frase, ela vai continuar inexoravelmente a ter validade, dado que tem o tal fundo, o tal empirismo primário se quiserem, como prova do seu conteúdo.
Por outro lado, se se quisessem utilizar termos sinónimos de Clichê, esses passariam por "Chavão" ou "lugar comum". Termos que nunca se ouviram, o que revela até alguma da incompreensão do tema pelas equipas.

O mais perto disso que desta ideia (altamente passível de desenvolvimento, evidentemente) se esteve foi quando o Canotilho referiu o caso das comédias no cinema, em que a cena do indivíduo que corre a entrar numa sala e leva com uma porta na cara já foi vista e revista. Batida e rebatida. Um clichê. Com um fundo de verdade? Não, aconteceu naquele momento porque assim se propiciou tão-somente, como o indivíduo poderia ter antes dito uma piada qualquer que também fizesse rir; Sim, por mais repetida que esta cena se torne, a verdade é que ela, genuinamente, faz rir - no limite, pensemos nas primeiras vezes que a cena se passou na vida humana e que ela naturalmente tem contornos cómicos. Exponenciados quando passados para a Grande Ilusão que é o Cinema.

O Ary, líder da oposição, lembrou que a sua equipa se limitou a seguir os traços gerais do conceito, definido pelo Primeiro-ministro, como assim manda o famigerado regulamento. Está certo, mas a oposição existe para se opôr ao governo, dispondo nesse sentido do poder de o contradizer, criticar e, mais importante para o caso, esclarecer. Esclarecimento esse que, se de acordo com a concepção formulada pela mesa, lhe elevará o número de pontos. O que, nesta sessão, não aconteceu.

Por tudo isto, as pontuações foram as mais diminutas alguma vez vistas na SdD:
Governo (95):
Canotilho - 50
Daniel - 45

Oposição (100)
Ary - 60
Guilherme - 40

Um abraço,
Francisco.

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