quinta-feira, 10 de junho de 2010

Portugal

"Um estranho é apenas um amigo que ainda não tevemos oportunidade de conhecer"
Provérbio irlandês

Nunca foi particularmente nacionalista, o que nunca me impediu de ser particularmente patriota; pelo que nos dias de Portugal me sinto afastado do timbre e do tom que vai pautar os discursos e as celebrações. Parece-me por vezes, hoje e durante os jogos da selecção, que há uma espécie de concurso entre todos os portugueses para ver quem consegue mostrar que gosta mais do seu país, enquanto que durante o resto do ano o concurso é um pouco ao contrário: quem é que consegue dizer pior e lixar mais o país para todos os outros viverem.

Isto de ser português tem muito que se lhe diga. Isto de Portugal ainda tem muito a cumprir-se e todos devemos sentir o apelo a ser mais portugueses sendo melhores cidadãos, transformando as comunidades à nossa volta. Esse deve ser a nossa vontade comum.

E bem vistas coisas esse propósito tem muito pouco de nacionalista e bem mais de ética do cuidado. Nós somos naturalmente afeitos a proteger e a cuidar aqueles que nos são próximos, aqueles que entendemos como iguais, aqueles que percebemos como nossos irmãos. E há muito pouco que possamos fazer para superar esse instinto, porque sentiremos mais intensamente o que nos é mais próximo. 

A alternativa é ir Moamé à montanha, é estreitar laços com os distantes e com os diferentes; e num mundo cada vez mais pequeno, em que as vias para o diálogo são cada vez maiores essa missão num foi tão urgente, tão necessária e ao mesmo tempo tão simples - e tão portuguesa.

Enquanto país e enquanto planeta dispomos de mais do que dos recursos necessários para suprir as necessidades básicas de todas. Basta que consigamos confiar nos distantes como quem confia nos próximos, que consigamos acreditar nos diferentes como nos iguais e transportar o afecto que sentimos pela nossa famílias, pelos nossos amigos ou pelo nosso país para escalas maiores.

Mas eu só acredito ser possível amar o distante se se ama o próximo. Só pode acreditar no que há de bom em todos quem cria laços com alguns. Por isso são tão importantes as células da nossa sociedade: a nossa família, a nossa cidade, o nosso país... É ao atravessar as pontes pequenas que ganhos segurança, técnica e vontade de atravessar os oceanos - esses que deixam de separar e passam a unir.

Ao contrário do que é dito, cada homem e mulher é uma ilha - é um mundo inteiro na verdade. No dia de Portugal sintamos-nos todos ligados uns aos outros por um enorme oceano e encaremos de mentes, braços, mãos e peito abertos os nossos irmãos de perto e de longe. Podemos não dar novos mundos ao mundo, mas alargamentos certamente horizontes. 
E isso é que é ser português.

6 comentários:

Pedro Sá disse...

Eu é que não vou nessa do amor ao próximo. Sejamos honestos: a pessoa que atravessou a rua ali em baixo é-nos totalmente indiferente.

Ary disse...

Eu ainda me engano afinal =)

Pedro Sá disse...

Enganas-te? Explica :P

Luís Paulo disse...

Excelente, Pedro! (Se não fosse, ou eu não achasse, não comentava.)

Cumprimentos!

Ary disse...

Luís, obrigado.

Pedro, eu dos últimos anos da minha vida passei mais tempo a trabalhar para pessoas que muitas vezes não conhecia sem receber nada em troca do que a estudar, a ir às aulas ou a fazer qualquer outra actividade, daí que tenha dito que me engano ao interessar-me pela pessoa que atravessou a rua. Claro que podes dizer, na lógia do egoismo psicológico, que todas as nossas acções são de facto egoístas...

Hugo disse...

Aí está uma grande questão para pessoas com o nosso estilo de vida...

Quando é que uma acção é verdadeiramente altruísta e se essa acção sequer existe...

:)

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