domingo, 25 de maio de 2008

the Value Voters Debate

O Values Voter Debate é um gigantesco debate americano, o maior "debate block" deste país, e teve início recentemente, em 2007.

Este ano teve participações de quase todos os candidadtos republicanos. curiosamente, nenhum democrata lá estava, o que me leva a pensar que esta organização, apesar de bem conseguida, é ceramente muto tendenciosa.

Enfim, um dos discursos de 4 minutos cedidos aos candidatos está no youtube, e é logo do único republicano por quem eu nutro simpatia, acho que se trata de um homem com elevados padrões e um bom político, e esse homem é Ron Paul.



Eu gosto de Ron Paul,seria um sopro, uma lufada de ar fresco no Partido Republicano. Peço-vos que observem o vídeo sem comentarem as ideias em si, pelo menos não obrigatoriamente, mas que se foquem no exemplo de um discurso bem dirigido e condicionado ao tempo disponível de oratória.

6 comentários:

Ary disse...

É impossível não comentar as ideias. Forma e conteúdo estão sempre bastante interligadas.

Eu simpatizo com o Ron Paul, mas abomino as suas ideias. Passo a explicar ... Eu aco que ele, ao contrário de boa parte da direita, está na política com o coração no sítio certo, e, ao contrário de quase todos os políticos, de esquerda ou de direita, tem um sistema coeirente de crenças. Mas isso não quer dizer que concorde com ele, isso aliás só me faz gostar menos dele. Eu sei que é parvo, mas eu tendo a não gostar muito que as pessoas de direita tenham um ideologia (talvez assim seja por não estou habituado).

Por muita lógica interna que tenha o discurso do Ron Paul eu acho que ele falha totalmente nas suas permissas. Daí a importância das perguntas.

Como pode haver mais liberdade como menos Estado? Ele não existe para assegurar a nossa liberdade? Alguém que esteja doente, desempregado, velho, numa situação de marginalização, sem laços, sem raízes, é mais ou menos livre graças ao Estado?

Se tivesse sido declarada guerra ela seria contra quem? "O terrorismo"? Que fez o safado desta vez? A declaração teria feito com que não se discutisse a guerra? Com que todos aqueles americanos não morressem?

Já pensou nas consequências do fim dólar para a economia mundial e para a posição estratégica dos EUA?

Os EUA não devem servir de polícias do mundo (nisso estamos de acordo) e aliás nem devem ligar à ONU. "It's US against the world"? Viver no país mais poderoso do mundo não vem com responsabilidades? Podem/devem os EUA viver isolados do mundo?

Caminhamos mesmo para um estado totalitário? É preferível um totalismo estatal ou um totalitarismo de indivíduos sobre indivíduos?

Muitas mais críticas haveria a fazer a um pensamento erigido sobre o pressuposto de que o Estado é o bicho papão, os "founding fathers" são D. Sebastiães ou reis Artur, a liberdade é cada um fazer o que pode sem ouvir ninguém a queixar-se ao ser pisado, que os políticos adoram impostos e não se preocupam com as pessoas e que a América, por razões que nem vale a pena apontar, aliás nunca vale, é o maior país do mundo.

Desculpa Manuel mas não suporto isto.

Reconheço-lhe alguns dotes de oratória, reconheço-lhe uma boa gestão do tempo, uma boa colocação de voz, uma postura razoável, um discurso com fio condutor, mas a verdade é que não é um discurso bonito, um discurso inspirador, um discurso acertivo, acutilante ou particularmente convincente. Para quem não tem piada, nem arte, nem génio, esparava-se um pouco mais de solidez e menos ideias soltas lançadas para o ar.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

eram 4 minutos ary, é difícil o homem falar mais, daí eu ter dito que era um bom exemplo. ele expôs as suas ideias de forma directa e sólida.
ron paul é um conservador, mas que dirige a sua ideologia para um conservadorismo diferente. ele não cai no "neo-conservadorismo", que se foca nas "forças-vivas" dos EUA, as multinacionais e nos monopólios, mas sim numa visão tradicionalista da liberdade, numa visão saudosista mas ainda assim muito correcta dos direitos atingidos no século XVIII pelos americanos, em relação ao rei de Inglaterra e aos governos centralizadores.

ele em 4 minutos deu a fórmula da sua campanha:
reduzir o peso do Estado;
devolver aos americanos autonomia sobre si próprios, sobre os destinos da sua comunidade, sobre a sua política fiscal, tão comprometida;
deu relevo à questão do habeas corpus, severamente danificada com os últimos Acts aprovados em congresso;
planificar uma política internacional para os americanos, que fizessem com que esta nação protegesse os seus interesses sem atropelar o dos outros.

resumindo, em 4 minutos Ron Paul foi conciso e fluente.
Já no plano ideológico, o que tu não gostas meu caro ary, é ver uma direita cujos ideais não se concentrem somente por ideais económicos ou de política económica, e que se foquem em assuntos de ideologia e sociologia. pois bem, é legítimo esse teu "desgostar" visto que o nosso país tem sido prodigioso no que toca à direita dita "de trazer por casa".

o que eu posso afirmar é que as férias exclusivas da esquerda na wonderland das ideias está para acabar :)

Francisco disse...

Apesar de gostar um pouco mais do Ron Paul do que o Ary, concordo com quase tudo o que este último referiu.
Só mais um pormenor: é engraçado como o Ron Paul faz um discurso muito anti-bélico (o que aprecio!) e acaba depois por dizer que só se deve fazer guerra quando houver "exigências morais" para tal ("moral justifications"). Isto lembra-me o Santo Agostinho.

Um abraço

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

é normal que te lembre santo agostinho, não te esqueças que a doutrina cristã originária em relação à guerra é a de santo agostinho.
é uma visão ultrapassada, mas acredita que em 300-400 depois de Cristo, após a queda do im+ério romano e com bárbaros a assolar a europa, e mesmo depois na idade média e renascimento, a ideia de guerra justa de santo agostinho era "inovadora"

Francisco disse...

Duas observações:

a) Não seria tanto a doutrina de Santo Agostinho. E porquê? Porque muitos dos bárbaros eram cristãos e outros converteram-se (na forma herética do arianismo). Por isso não faria muito sentido a ideia de um espírito de cruzada contra os infiéis. Com os Muçulmanos, sim, Santo Agostinho brilhou mais que nunca.

b) Ainda assim, Ron Paul vive no século XXI, um pouquinho distante da era das invasões bárbaras. Utilizar ideias de uma doutrina do século IV é de um anacronismo preocupante.

Ary disse...

Manuel,

pago para ver. A ideologia da maior parte das pessoas de direita é a ideologia da vaquinha, e dificilmente isso mudará.

Francisco,

tens razão. Falar de guerra justa pode parecer anacrónico, mas entre a guerra santa e o direito de ingerência que provavelmente reclamas para a Birmânia não vai muito.

E qual a grande diferença entre o Iraque e a Bósnia?

Os Estados ainda são senhores do "direito" internacional e arrogam-se do direito a fazer a guerra para salvaguardar os seus interesses, como sempre fizeram. Não vejo grande fim à vista para este estado de coisas infelizmente. Alguma carta na manga?

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