Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.
Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,
o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
“Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá”.
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:
Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.
Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar.
Sérgio Reis
filhos da Duna
Há 3 dias
5 comentários:
Filho és pai serás, conforme o fizeres assim o receberás!
=)
curiosamente existem mesmo muitas histórias assim a passarem-se todos os dias e passa-me um bocado ao lado. de alguma forma que ainda não consegui muito bem encaixar, existem filhos que despejam literalmente os pais longe das suas vistas e só aparecem de volta no dia da sua morte.
O estado de Minas Gerais lançou um anúncio publicitário com este poema. Vale a pena.
E acho que se calhar não estamos assim tão despertos para a exclusão dos idosos como deveríamos.
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