quinta-feira, 5 de junho de 2008

os nossos (velhos) costumes

Dizia o actual Bispo da cidade do Porto, D. Manuel Clemente, num opúsculo publicado há poucos dias com o JN (em comemoração dos seus 120 anos) que a imprensa diária tem uma muito curiosa tarefa: tratava-se de, em parco espaço, comunicar/ informar sobre tudo o que se passou durante esse dia. Ou seja, englobava um imenso trabalho de selecção de acontecimentos relevantes, em claro prejuízo de outros.

O que acontece as mais das vezes com a actual comunicação social é que, na escolha das peças informativas, ou só se prende a um tema, ou ignora aquilo que mais releva. Resultado: durante dias a fio dá notícias repetidas, recheadas de lugares comuns que criam no destinatário uma dispensável sensação de enfado. Constantemente repete-se o mesmo, constantemente se fica pela superficialidade da abordagem, constantemente se ignora que, no país e no mundo, há mais do que a subida do preço do petróleo ou que a selecção portuguesa a preparar-se para um europeu de futebol... E, pior, rigorosamente todos os canais repetem o mesmo, talvez temendo dar uma informação diferente e, acima de tudo, informada. O resultado é que até o que É importante parece ser superficial. Veja-se o petróleo: é problema de extrema urgência. Porém, já não se aguentava ouvir mais e mais tanta desinformação.

O rol destas situações é imenso: Entre-os-rios, tsunami, o Martunis (acarinhado pelo Scolari),caso meddie... Períodos de tempo em que, no mundo, a vida pára, em que, na vida, só aquilo importa, em que, da vida real, qualquer acontecimento relevante deve ser logo afastado para segundo plano, porque o destinatário da informação só quer ouvir as mesmas notícias repetidas, e repetidas, e repetidas...Nada mais errado, nada mais falso. Se há regras deontológicas dos jornalistas, por certo alguma deverá abarcar o dever de informar. E esse dever também se consubstancia em saber qual a informação relevante e qual aquelea que mais não é que a sempre recorrente espuma dos dias, perfeitamente dispensável.

O absurdo chegou há tempos com o comentário do então director de informação da SIC Alcides Vieira (não sei se ainda o é), afirmando que uma não notícia é também uma notícia (e disse-o a propósito do caso Meddie). Como? Uma não notícia é uma notícia? Então os jornais deverão começar por referir que não houve tsunamis em Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Alemanha...Suiça...Que não houve avalanches nos Alpes suiços (nem no lado francês...), Pirinéus, Andes, Himalaias...Que nenhum animal fugiu do zoo, que não houve qualquer homícidio em Santa Comba Dão, que as gentes desta terra continuam a querer criar um museu em honra de Salazar...enfim, o absurdo é tão gritante que me abstenho de desenvolver mais.

Ao que parece a nossa selecção está neste momento a cumprir um designío nacional. Assim o retiro do destaque que tem tido...E é inspirando-me em todas essa manifestações de júbilo que unem os portugueses de aquém e além fronteiras que vou terminar este meu post:
Tanto tempo depois, podemos já não ser o país do fado (que por ora parece ser música étnica, ou world music, ou algo do género), mas continuamos a ser o de Fátima e do Futebol. Mais: aqueles que tanto medo têm da globalização podem relaxar - têm aqui o povo português aparentemente a demonstrar que jamais largará os seus impulsos idólatras e supersticiosos, que nenhuma cultura destruirá este seu carácter que, enquanto houver esperança, aguardará eternamente o herói que volta do nevoeiro.

2 comentários:

Anónimo disse...

sim senhor tiago!!! uma critica muito mordaz àquilo que se passa em portugal, mas no fundo a perguna poe-se
O k é uma noticia???
-Será algo mediatico... caso Maddie(é maddie n meddi ;) ) caso esmeralda
-será algo destrutivo... oh não há um tufão nos mares da china-- boring-- olha mais uma cheia na malasia--- boring. As pessoas ja estão apaticas relativamente aos desasters naturais.
-Oh olha mais alguem entrou numa faculdade nos EUA e matou 30 pessoas...
- ei k fixe o vale e azevedo fugiu para inglaterra!!!(a justiça em portugal funciona mt bem)

Chego à conclusão que o mundo não mudou assim tanto, se virmos um telejornal de 3 em 3 dias somos capazes ainda de ver noticias repetidas, e são ou sobre desastres ou sobre futebol ou daquelas mediaticas sem interess que mais parecem uma novela e mostram quam degradante é por vezes o nosso pais!

Anónimo disse...

Notícia (em termos amplos, de improviso): acontecimento novo, relevante, de especial relevo para a comunidade que é destinatária da mesma.

Acho que no caso meddie - ou agora da selecção - chegamos a ter uma notícia e dezenas de repetições da mesma notícia no bloco informativo.

Não faz sentido algum.

E tens completa razão: no momento actual de 3 em 3 dias encontramos notícias repetidas. Enfim.

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