terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bem me quer Mal me quer

Quem, porventura, ou desventura neste caso, pensa alguma vez em dizer em elogiar, em defender, em dizer um "mas", que seja, só para amostra, é carneirista traidor do povo, está metido com eles, não tem espinha dorsal, anda praí a lamber botas e a arrastar a língua pelas pedras da calçada ao passar das carruagens e certamente não poderá ser bom pai de família.

A maldicência, o insulto, a incompreensão, ou os uivos de raiva e de protesto, são por todos bem vistos, considerados, demonstram sentido crítico, poder de análise, são assim coisa de gente que não deixa os seus créditos em mãos alheias, gente de coragem e valia, que abre o peito às balas e as convida para entrar. Os reis do bota abaixo são autênticos cavaleiros da liberdade e de nenhuma briga levam desaforos para casa, que os atiram logo todos a quem passa.

Também não defendo o contrário, como ainda vai acontecendo nos EUA, em que quem diz mal é considerado perigoso, anti-patriota, um terrorista em potência: "America: Love it ou Leave it". Mas ainda assim é estranho haver passar por conformistas e ignorantes se dizemos que não vivemos num país de terceiro mundo, numa autêntica ditadura tropical, que a corrupção não trepa pelas paredes, que o SNS até vai funcionando, que a Justiça é lenta mas anda a melhorar, que a pobreza e as desigualdades tem vindo a baixar.

PS: Confesso que às vezes tendo a tomar o lado da barricada com menos gente, só para que não se caia em certos exageros, mas também vou concordando com muito o que se diz. E no que conta a teorias da conspiração, algum dia hão de acertar, algum dia atrás do fumo haverá fogo.


11 comentários:

Tomás Gonçalves da Costa disse...

infelizmente as coisas não são assim tão simples...

Ary disse...

Isto é simples?

André Levi disse...

No fundo, tudo se resume a questões de padrões, critérios e objectivos, Ary.

Ao que tu chamas malidicência, eu chamo autocrítica, "fome de mais", desejo de futuro.

Este pessimismo crítico de que sofremos é a prova provada de que o sangue de Viriato e Henrique ainda corre nas nossas veias.

A autocrítica é um luxo das nações mais evoluídas e civilizadas. Representa a sábia consciência de que civilização, desenvolvimento, progresso são palavras que se conjugam num gerúndio com ares de futuro perpétuamente distante, que foge de quem o tenta alcançar, com admirável determinação. Atraso é morte.

Não tenhas dúvidas que em Angola toda a gente é muito optimista e "bendicente". Em 2007 na RD Congo, o Governo previa uma taxa de inflação de cerca de 40%. Segundo o que se conseguiu apurar, (com muito pouco rigor, desde já, como é próprio de países como aquele) a inflação ficou-se pelos 30 e tantos %. Seguiram-se manfestações de júbilo pela competência do Governo.

Dou graças a Deus por viver num país que, em geral, e ainda que sob um efeito de um torpor pesado e cada vez mais pesado, não se contenta com um "SNS que até vai funcionando", "uma Justiça lenta, mas melhorzinha", "um país um bocadinho menos pobre e desigual" (os conceitos de pobreza e desigualdade mudaram e ninguém me avisou? xD).

Dou graças a Deus por, todos os dias ao acordar mal disposto, ter a generosidade em mim mesmo de olhar em volta e pensar com adamastórica força carinhosa "que merda de país!".

A inconformidade e o pessimismo são as fundações onde assentam o futuro e a prosperidade. A Distância só está ao alcance de quem quer mais. De quem a quer.

Sei que há esperança para Portugal porque ainda sabemos dizer mal de nós mesmos. Bem vindo sejas, criticismo pessimista!

Não resisto a uma reflexão em voz alta:

Que mundo cinzento em que vives, Ary! Estás velho...

Ary disse...

E falam os velhos do Restelo dos mundos cinzentos em que vivemos e quão tristes e velhos estamos =).

Quanto aos dados estatísticos eles são publicados periodicamente por diversos organismos independentes. Mas, como de costume, há sempre quem diga que não valem nada ou até os finjam desconhecer quando dá jeito.

E quanto ao que interessa, se há discurso velho, rezingão e gasto e esse que nos diz como tudo está mal. Quem é que ainda não imaginou o Bastinhas de cartola e monóculo, como senhor do monopólio, bramindo a sua bengala rabugento? xD

Acusar alguém de esquerda de falta de ambição? A táctica não costumava ser ao contrário? Sinto que não sou eu quem está confuso aqui ;)

Lembro-me de uma frase de Ortega y Gasset que dizia que ser de direita ou ser de esquerda são apenas duas das formas de ser estúpido. Ser pessimista e ser optimista também me parecem, na mesma medida, duas formas de ser estúpido. Dares vidas ao pessimismo inveterado é tão absurdo como dar vivas ao optimismo acéfalo.

Hope for the best, prepare for the worst.
O pessimista queixa-se do vento, o optimista espera que o vento mude. Qual é a diferença de resultado, para além do optimista ser mais provavelmente mais feliz? O segredo não está nem em rabujar ("que merda de país") nem em fazer de conta que tudo é espectacular, mas em ir ajustando as velas.

Pensa nisso e vais ver que ainda rejuvenesces uns anitos à custa disso ;)

André Levi disse...

"E falam os velhos do restelo do mundo cinzento em que vivemos e quão tristes e velhos estamos"?
Nunca me tomei por um velho do restelo, nem nada em mim, penso humildemente, faz crer que sou um. Mas enfim...

Mais acho que só leste metade do que disse. Eu não faço a apologia do pessimismo patológico, mas do que ele representa. Há uma boa dose de ironia no meu texto. Não é irónico, mas tem ironia. Obviamente que ao acordar não blasfemo contra a Pátria, embora acorde invariavelmente mal disposto.

Bengalas e cartolas, só mesmo, segundo me dizem, no quarto ano. Até lá, abstenho-me. Monóculo não serve. Vou mesmo precisar de óculos, ao que parece. Esclarecido?

E considero muito interessante o egocentrismo político... Quem é que para aqui chamou a esquerda ou a direita? Porventura a esquerda é a pátria dos ambiciosos e a direita dos instalados? A esquerda, a da juventude e a direita, a da velhice? Nunca sugeri eu nada semelhante, nem tão puco o contrário por duas razões muito simples: 1) não faz sentido; 2) esquerda e direita não existem: são uma tosca e errada aproximação para satisfação de ímpetos agregacionistas.

Lembro só que ser pessimista é bem diferente do que ser inerte, porque, muitas vezes o pessimismo não tem uma verdadeira existência autónoma. É reflexo de determinadas estruturas mentais. É reflexo de um inconformismo militante, da perpétua e constante "fome de mais", da profunda esperança de dias mais felizes. Nessa perspectiva, sou pessimista. E só nessa.

Ajustar as velas? Coisa tão tímida. O segredo está em navegar! Não em ficar à espera que o vento mude, não em queixarmo-nos que o vento não muda, nem tão pouco em ajustar as velas: o segredo está em comprar um barco a motor! Quem perde tempo a esperar que o vento mude ou a ajustar velas, não navegará grande coisa...

Em jeito de conclusão, não deixo mais nenhum comentário sobre a tua juventude ou a falta dela, Ary. Já te chamei velho, tu já disseste que eu podia rejuvenescer uns anitos. Já perdeu a originalidade.

No entanto, não resisto a dizer-te que as aparências iludem. Nem todos os que têm como adereços, cvartolas, bengalas ou munóculos, são velhos. Aliás, não há qualquer relação. Quem não os usa, também não é necessáriamente velho, nem deixa de o ser, só por causa disso.

Devo-te dizer que essa dupla rotulagem que tentaste fazer ao meu estilo e às minhas opções políticas, é totalmente desinteressante e tem vistas curtas. Muito curtas. Não sugerindo que não há jovens míopes, é uma característica, certamente, mais própria de velhos. ;)

Ary disse...

Oh Bastinhas ... Quem quis encostar pessoas ao canto com rotulagem aqui não fui certamente. Que malabarismos desnecessários xD

LOL És tão previsível.

André Levi disse...

Nem por isso, Ary. Nem por isso...
Talvez o aches. Não quer dizer que seja verdade. No final das contas, não me conheces.

Levas-te demasiado a sério, Ary. Descontrai. Estás a ser demasiado pretencioso ao atribuir uma dimensão perversa, enexistinte, desde já, às minhas palavras.

O que disse, está dito. E dito em conciência. Não tentes pintar as coisas a teu gosto.

Rotulagens? Onde é que vez rotulagens nas minhas palavras? Ou porventura a tua opinião é de uma categoria tão especial que não a posso contrapôr sem atentar contra uma classe de pessoas?

Estás a exagerar e a ser indelicado.

Uma brincadeira é uma brincadeira. Um galhardete, um galhardete. Uma opinião, uma opinião. Nem vejas fantasmas onde eles não existem.

Por ME DIZEREM de direita, quando discuto a opinião de alguém de esquerda, tenho, forçosamente que pôr em causa toda a esquerda ou todos os esquerdista? Sugeres que por, em jeito de simples e inócua provocação, te ter dito cinzento, estou a acinzentar toda a esquerda? Isso é pretenciosismo.

"Encostar pessoas ao canto com rotulagens"? Tem juízo e decência. Pensa no que dizes.

Quantoa ti, não sei se és ou não previsível. Não te conheço de lado nenhum.

Ary disse...

E depois sou eu que me levo demasiado a sério? xD

Oh pá. Tu é que me levas demasiado a sério, porque se não não dizias que eu te tinha ofendido. Eu não ri-me quando li o teu comentário a chamar-me velho. Ri-te tu também d e esquece lá essas teorias da conspiração. Eu não me levo muito a sério, pelo menos não levo muito a sério aquilo que escrevo em tom jocoso num comentário breve neste blog.

E se não te conheço, só te digo isto: imagina se te conhecesse ... ;)

André Levi disse...

De facto, um cenário interessante de imaginar... Um mundo em que eu e tu nos conhecemos!

É capaz de ser um cenário giro. Qualquer dia temos que ir tomar um copo!

Ary disse...

Parece-me um bom tom para terminar a "disputa". Fica prometido tomarmos um copo. Que tal esta quinta?

André Levi disse...

Também me pareceu!
Quinta-feira parece-me bem. Ainda hoje te envio um sms. =)

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