sábado, 12 de setembro de 2009

excertos

"Todo o esforço intelectual que com rigor o seja afasta-nos solitários da praia comum, e, por rotas recônditas que precisamente o nosso esforço descobre, conduz-nos a lugares retirados, situa-nos sobre pensamentos insólitos. São estes o resultado da meditação. Pois bem: o anúncio ou programa reduz-se a antecipar estes resultados, deles arrancando previamente a via ao cabo da qual foram descobertos. Mas, como veremos, um pensamento separado da rota mental que a ele conduz, insulano e escarpado, é uma asbtracção no pior sentido da palavra, e, por esse motivo, é ininteligível." (11)
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"O vigor intelectual de um homem, como de uma ciência, mede-se pela dose de cepticismo, de dúvida que é capaz de digerir, de assimilar. A teoria robusta nutre-se de dúvida e não é a confiança ingénua que não teve a experiência das vacilações, não é a confiança inocente mas antes a segurança no meio da tormenta, a confiança na desconfiança." (40)
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a propósito do séc XIX (a parte inicial não releva, mas enquadra o fim do excerto)
"Resulta, pois, que estas ciências - sobretudo a física - avançam fazendo daquilo que era a sua limitação o princípio criador dos seus conceitos. Portanto, para melhorar não tentam saltar fora da sua sombra, superar o seu fatal e nativo termo, mas, pelo contrário, aceitam este alegremente e apoiando-se nele, instalando-se sem saudade dentro dele, conseguem chegar à sua própria plenitude. A atitude oposta a esta era a dominante no último século [XIX]: então cada qual aspirava a ser ilimitado, a ser o que os outros eram e ele não era. É o século em que uma música - a de Wagner - não se contenta com ser música, mas um substituto da filosofia e até da religião; é o século em que a física quer ser metafísica, a filosofia quer ser física, e a poesia ser pintura e melodia, e a política não se contenta com ser política, mas aspira a ser um credo religioso e, o que é mais atrevido, tornar felizes os homens." (42) (sublinhado e interpolação meus)
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"O positivismo foi uma filosofia aldeã. Como disse Hegel: «O medo a errar é já um erro e, se o analisarmos, descobrimos no seu fundo um medo à verdade.» (68)
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Ortega y Gasset, "O que é a Filosofia?", Lisboa, Biblioteca editores Independentes, 2007

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