Decidi assinalar o meu retorno ao mundo dos vivos e ao peso da responsabilidade redigindo o já atrasado comentário do debate que eu presidi (não sem uma mácula de turbulência, confesso) à mesa.
O tema era “Esta casa acredita que todo o acto humano é egoísta” – do lado a favor, Flávio e Frederico, do lado dos ressabiados, Tiago e Henrique.
A discussão viu-se iniciada logo com a definição do PM Flávio que proclamou que “toda a acção consciente e racional exercida pelo Homem é feita em benefício próprio”. A ela somou um elenco de argumentos que listavam a atitude humana como tendo sempre em vista a obtenção de reconhecimento, aliados ao credo, muito contestado, aliás, que “satisfazemos os outros para quem eles nos satisfaçam a nós”.
Seguiu-se-lhe o MO Tiago que deu o egoísmo como um caminho que leva à destruição do Homem e à aniquilação das relações, considerando este um comportamento contra natura na medida em que alegou que o Homem fora criado para viver em sociedade e, portanto, (direccionando a sua acção) para os outros.
Numa exposição que podia ter sido caracterizada por um maior entusiasmo e uma menor redundância, o Ministro da Oposição centrou o seu discurso numa postura anti-egoísta para beneficio dos relacionamentos, que não se concebem, na perspectiva do orador, sem “amar e confiar nas pessoas”, ambos irrefutavelmente altruístas.
Ora que surge no púlpito o MG Frederico que fez questão de brindar a audiência com um caso de desfecho e contornos tão controversos como inesperados. De um acto aparentemente alocêntrico de um homem que se suicida para que os seus orgãos possam ser doados, somos reconduzidos a um passado em que este é responsável pela morte de 7 pessoas, convertendo-se um acto, ao que tudo indica, nobre num acto de contrição, e portanto egoísta. Desta forma, o Ministro do Governo reiterou que o móbil de toda a actividade humana é sempre e incontestavelmente o proveito próprio, mesmo que tal não seja passível de deslindar ao primeiro impacto.
Num discurso marcado por uma tonalidade sarcástica e em que a necessidade de cometer actos egoístas nos foi apresentada como condição sine qua non para o usufruto de uma vida social, é apenas de assinalar a gradativa perda de vitalidade do discurso deste deputado, que se havia lançado como promissor.
É então que o LO Henrique lhe vê concedida a palavra, dando assim início a uma argumentação repleta de parábolas e alegorias afins, ficando apenas a faltar algumas fábulas de La Fontaine para que nos sentíssemos de facto na presença de um verdadeiro Contador de Historias.
Destacam-se frases galantes como “a acção humana é composta por duas vertentes – o amor próprio e o amor pelo outro” ou ”a produção fundada entre dois homens é menor se egoísta, maior se altruísta” e outras mais incompreensíveis como “você vai descrever o interior da laranja, mas eu vou ficar por fora porque acho mais bonito” que surge, no contexto de uma argumentação anti-egoista, um pouquinho a despropósito.
Não obstante a lufada de ar fresco que a inovadora postura do Líder da Oposição trouxeram ao debate, não lhe foi, porém, de gabar a capacidade de captar a audiência nem a de manter um fio de argumentação concretamente demarcado.
Para rematar, voltou o Primeiro-Ministro ao púlpito, só para reforçar que “não há almoços grátis” e relembrar situações da vida quotidiana que nos obrigam agir egoisticamente. Não deixa de merecer ressalva a patente evolução estilística e argumentativa deste orador, que nos demonstrou uma postura mais sólida e adequada do que a assistida em desempenhos antecedentes.
Ficou a frase “a doutrina diverge porque as pessoas seguem o que acham correcto”, e, indo no encalço desta linha de raciocínio, seguem-se as pontuações que a mesa considerou correcto atribuir:
PM Flávio – 69 pontos
MO Tiago – 60 pontos
MG Frederico – 64 pontos
LO Henrique – 65 pontos
Governo – 133 pontos
Oposição – 125 pontos
filhos da Duna
Há 3 dias
4 comentários:
O debate parece que ja foi ha muito mesmo! XD
A parte da laranja era uma clara referência a Ortega y Gasset XD
beijos
se as pontuações foram estas então empataram...
Hugo, olha com atençao :)
Ah...batoteira!
Foste alterar o post para dizer que eu estava errado...
(se pensas que vou admitir o erro estas mt enganada)
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