terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

as anedotas

Percepcionar a resolução de um caso prático como um "contar de uma anedota", na sugestiva metáfora do nosso professor de processo penal, leva-nos a muitas vias. Pensava então para comigo que nisto do curso de direito, de ora em diante, o curso da anedota, vamos lentamente subindo pequenos degraus:
No primeiro ano, ouvimos anedotas. Descobrimos locuções de que nunca ouviramos falar e que a a anedota, consoante o modo como se a conte, pode ser um sucesso ou um fracasso. E tudo depende das malditas palavras que o palrador adopte.
No segundo ano, aprendemos a repetir anedotas. De tanto as ouvir, quando damos por ela já repetimos aquelas com que nos tem enchido os ouvidos. Olhamos um pouco de soslaio, ou de inveja, para aqueles que as não conseguem repetir, por cursarem outras áreas. É que se não conseguem repetir as nossas anedotas, pelo menos tem outras...menos depuradas, mais práticas. Se bem que não consigam alcançar a subtileza do nosso refinado, ou cáustico, ou mesmo desafortunado, humor.
No terceiro ano, começamos a pensar nas anedotas. Já ouvimos muitas, já repetimos mais, e de tanta coisa ao barulho ficamos mais exigentes: já não é qualquer historieta que nos vai fazer rir. Coisa estranha: muitas vezes não vemos piada na coisa, mas não conseguimos dar o toque de humor que salve a graçola. Estamos ainda na terra de ninguém, em que nem temos piada nem nos rimos com nada. Uma maçada.
No quarto ano...bem, no quarto ano não sei. Imagino que o processo evolua, e que a dada altura comecemos a caminhar alegremente para construção da anedota perfeita. Que vamos educar o nosso espírito de modo a termos um sentido de humor irrepreensível. E que, com isso, o mundo poder-se-á tornar numa opereta colectiva, do mais sublime humor, sem ninguém ser privado de se rir com os demais.
(Que é como dizer, a procura da justiça em cada situação, o engenho jurídico (o felling) em todas as horas da vida, um mundo justo. Tem toques de tragédia, mas sempre vale como farol para acalentar os nossos esforços.
Melhor que carpir mágoas sentidas ou fingidas, mais vale chamar um jeitoso que suba ao palco e nos encha a tarde: venha a graçola! - em sentido próprio, claro está.)

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