quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Eutanásia, já?

Segundo noticiado pelo Público 26 "destacados militantes" do PS vão levar ao congresso uma moção que pretende pôr em marcha o debate sobre a eutanásia em Portugal.

Confesso que [já ou ainda?] estou um pouco farto dos "temas civilizacionais" [que conceito mais idiota!] mas mais tarde ou mais cedo este tema teria que vir para a agenda política pela mão de um qualquer partido de esquerda e aí mais vale ser o PS que o BE, perdoem-me o preconceito.
Este é provavelmente um tema filosoficamente fascinante, mas não me engano ao ponto de pensar que será esta a via adoptada na hora de despultar o debate. Creio que não temos a maturidade política, democrática, filosófica, para discutir o tema com a elevação que ele merece. Tenho a certeza que veremos mais uma campanha absurda semelhante à do aborto.
Eu confesso que não tenho posição firmada sobre o tema. Lembro-me de ter defendido vigorosamente o "Não", num debate na escola no 9º ano, chegar a casa e a minha mãe me ter cilindrado. Neste post, antes que a "feira de enganos" recomece gostava de usar este blog para discutir a questão sumariamente e aferir a opinião de quantos nos visitam.

Claro que a vida nos pertence, mas podemos dispor irrestrictamente dela? Estamos perante o verdadeiro "direito a morrer", de um direito a extinguir todos os outros direitos, de um direito a renunciar ao direito à vida? A eutanásia está mais perto do homicídio ou do suicídio? E nos casos em que não é possível adivinhar a vontade do próprio, vale a vontade da família? 

5 comentários:

Frederico de Sousa Lemos disse...

Eu também cheguei a defender o não num debate em filosofia no 10.º ano. Entretanto mudei de opinião, principalmente depois de ver o filme Mar Adentro.
Acho que quando uma pessoa fisicamente incapacitada está na plenitude das suas capacidades mentais e decide que não quer continuar a viver, deve ter a possibilidade de terminar a sua vida por intermédio de outra pessoa.
Estamos a falar de pessoas com doenças em estado terminal, incuráveis. Pessoas incapacitadas, que não têm qualidade de vida, que deixaram de ver qualquer sentido na sua existência, e que vêem na morte a única opção capaz de pôr fim ao seu sofrimento.
Nesta posição realço a necessidade de existir uma vontade expressa pelo próprio, e de este estar mentalmente capaz de tomar uma decisão. Será necessário que seja o doente a decidir de forma consciente (e não a família a decidir por este). E será indispensável que a pessoa seja acompanhada psicologicamente, para aferir a sua capacidade para tomar decisões.
Como disse Ramón Sampedro, o poeta espanhol que durante 30 anos reivindicou uma morte digna, inspirando o filme Mar Adentro:

Una libertad que quita la vida no es libertad. Una vida que quita la libertad no es vida.

D. disse...

eu sempre achei que sim. não poderia deixar de defender o sim depois de ter presenciado durante seis meses a morte lenta e a vida prolongada apenas em sofrimentos, de uma das pessoas que me foram mais importantes. existem certos limites que fazem com que a vida deixa de fazer sentido. um desses é quando viver é estar morto, mas com o coração a bater e uma dor permanente e agoniante que nenhuma morfina consegue minimizar. quem somos nós para impor a alguém nesse estado o prolongamento da sua vida? mas acho que não é assunto que caiba nas páginas de um blogue, sem dúvida que se faz frente a frente.

Vasco PS disse...

Cada caso é um caso. Mas seguindo a linha de pensamento do Frederico e da Daniela, pergunto-me se prolongar a vida de alguém nessas condições não será mesmo egoísmo da "nossa" parte. Tema difícil.

Anónimo disse...

Vasco, eu penso que prolongar a vida de alguém nessas condições é sim egoismo.
Não digo que seja no entanto um egoismo mal intencionado (no sentido de que se pretende prolongar a vida de outrem com o intuito de estender paralelamente o seu sofrimento)mas sim uma reacção natural perante a possivel perda de quem amamos.
Por muito absurdo que possa parecer um coração bate apenas com ajuda de maquinas por vezes ainda oferece uma réstia de esperança -por muito inutil que ela seja - aqueles que hão-de chorar a morte da pessoa em causa.
Contudo, creio que há um momento em que temos de deixar as pessoas partir e que por muito justificavel que o nosso egoismo seja temos de o por de lado e pensar no que a pessoa diante de nós quer.
Recuso-me a acreditar que ficar preso a uma cama, comer por um tubo, delirar e depender de todos para as coisas mais triviais seja viver... Não há nada mais triste do que ver alguém morrer todos os dias e tornar-se cada vez mais numa sombra daquilo que era.

Quanto ao facto deste ser ou não um debate precipitado eu retiro estas linhas do site da TSF:
"Há sete portugueses que estão inscritos numa associação suíça que ajuda estrangeiros com doenças terminais a morrerem. A confirmação foi feita por uma professora universitária no Fórum TSF, que aconselha a um debate rápido sobre a questão, a que o bastonário da Ordem dos Médicos não se opõe."
Debate precipitado seria quando um destes sete portugueses acabasse mesmo por morrer com o auxilio desta organização...

Ary disse...

Creio que aderimos muito mais às ideias por factores emotivos do que por argumentos racionais. Parece-me estranho ter uma visão da vida que compreenda a sua própria negação em determinadas situações. Admito que seja possível, essa negação, mas é complicada de engolir.

Já não me lembro que monarca exclama no meio do campo de batalha "o meio reino por um cavalo", mas sei que foi a rainha Isabel I de Inglaterra quem teve como últimas palavras: "all my possessions for a moment of time". É provavelmente demasiado idealista pensar assim, que cada momento neste mundo incrível é um fantástico dom. O problema é a imposição desse comportamento pelo Direito.
Não me parece exigível a alguém que continue a viver em condições subhumanas e em que a esperança é nulo ou muito reduzida. O Direito não pode pedir nem santos, nem heróis, nem sábios. E só estes quereriam viver até ao fim.

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