sábado, 21 de março de 2009

Missão do Jornalista

Pacheco Pereira, num texto de hoje do Público, tecia louvores ao Jornal Nacional da TVI, por comparação à qualidade jornalística dos meios de comunicação do Estado. Creio que não estou a distorcer o texto, se disser que o grande argumento por detrás dessa opinião se pode resumir da seguinte forma: o dever do jornalismo é bater a rebate, denunciar, incomodar quem está no poder.


Não posso deixar de sentir uma certa simpatica por essa ideia do jornalista enquanto cavaleiro de pena, ou caneta, ou gravador em punho, desafiando os Golias desse mundo com nada mais do que a Verdade. Há hoje lugares no mundo em que ser jornalista ainda é ser um David, lutar isoladamente contra monstra que podem facilmente fazer-nos "propostas que não podemos recusar" ao bom estilo siciliano. Mas não cresceram os meios de comunicação para se tornarem eles também em Golias?

Vi há dias o filme "Citizen Kane" em que a personagem principal, um magnata dos jornais do início do século XX, percorre um estranho caminho que o leva inicialmente a declarar guerra a todos os que explorassem os pequenos, até ao ponto em que diz que as pessoas vão acreditar naquilo que ele disser para elas acreditarem. Não sei se o mesmo não se passará com muitos dos nossos melhores jornalistas, Manuela Moura Guedes aqui incluida.

Será que o jornalismo é isso, essa luta incessante contra os poderosos?
Não. Não mais do que o Advogado, que o Juiz, que o Polícia, que o Comediante, que o Escritor, que o Padre. Já não me lembro de quem disse que o comunismo era a doença infantil da esquerda. O simples ataque a quem está no poder é revelador da mesma "infantilidade", que talvez melhor se apelidaria de ingenuidade, no jornalismo. A responsabilidade do jornalista não é perante os miseráveis, nem perante o público, mas perante a verdade, garantindo o acesso à história. Só assim são eles, mais que os juizes, mais que os políticos, que os polícias ou os generais, os primeiros e últimos guardiões da Democracia.

Mexendo nos discursos com um hábil corta e cose e palavras, felizes por semear a discórdia, por arruinar carreiras, por perturbar vidas de cidadãos anónimos, por fazer e desfazer as suas estrelas cadentes num passeio da fama descartável, oco, falso, baptizado só por ironia de "real", em que se pavoneiam estes arautos da desgraça, duplamente malditos pela sua soberba de titereiros e pela consciência tranquila de beatas. Talvez isso seja o que mais choca: ser tão completa a ilusão de que eles são os bons, os puros, os incorruptíveis, aqueles que fazem frente aos Dragões, sem repararem que neles nasceu há muito a mesma língua biforcada da serpente.

3 comentários:

Hugo disse...

o último paragrafo tá genial...

Joana disse...

concordo com o hugo.
essa sede de sensacionalismo que chega a ser ridícula em detrimento da pura e simples informação foi um dos argumentos que pesou na minha decisão de não ir para jornalismo.

Ary disse...

Obrigado a ambos.

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