segunda-feira, 6 de abril de 2009

pretensioso

Às vezes há palavras que se colam nas nossas bocas: chegam por acaso e quando damos por ela são repetidas por toda a gente.
Entre nós, micro comunidade de falantes que, por sinal, fala muito, as palavras evoluem semanticamente a uma velocidade incrível. Como "pretensioso", termo com que por cá se rotula, ou auto-rotula, todo aquele que,Justificar completamente em dada situação, se apresenta dizer mal do que quer que seja. A jeito de defesa, lá se diz sempre: "não quero ser pretensioso", ou mais recentemente, como o Ari: "É triste ser tão pretensioso. Os críticos de cinema devem ser mesmo infelizes."
Eu, confesso, não gosto de ver rotulados de pretensiosos comentários que não mo parecem. E esse mal estar levou-me a tentar encontrar o sentido da palavra. Encontrei os seguintes:
1. que ou aquele que pretende demasiadamente; ambicioso;
2. que ou aquele que pretende ser mais do que é na realidade; presumido, vaidoso
3. que tem arrogância; orgulhoso, soberbo
4. exageradamente amaneirado; afectado, rebuscado, pedante.
Sinónimos - ver sinonímia de empolado e presumido.
Antónimos - modesto; ver também antonímia de presumido e sinonímia de compreensivo.
(Houaiss)
Na verdade, perante isto, parece-me que muitas vezes as reservas que fazemos "não quero ser presunçoso" são um tiro disparado ao lado. Não vejo presunção discordar de um filme, de uma qualquer corrente do que que quer que seja, de um certo status quo. Aliás, parece-me que a presunção não atende, sequer, à materialidade do que se pensa ou se diz; prende-se sobretudo à forma, a um certo modo pedante, presumido de se dizer o que se quer que seja. E, sob este prisma, não me parece que a maior parte das coisas que por cá se escrevem sejam...presunçosas.
A não ser, claro está, que os nossos oradores se sintam demasiado amaneirados, pedantes, orgulhosos, soberbos, ambiciosos, presumidos, vaidosos. Mas não o creio. Como, afinal, o texto do Ari, em que não denotei qualquer presunção.

3 comentários:

Ary disse...

Muito obrigado por me defenderes dessas calúnias que eu dava a proferir contra mim mesmo =).

Quando eu falo sobre cinema geralmente não me ponho a dizer mal do casting, dos ângulos da câmara, da adequação da banda sonora. A maior parte das vezes limito-me ou a dizer bem desta ou daquela interpretação, a repetir diálogos bem conseguidos ou a contar simplesmente a história de maneira tão pormenorizada que ninguém precisaria de ver o filme depois.

Fazer certo tipo de críticas parece-me pedante por que me estou a fazer mais do que aquilo que sou: um "visitador" de cinemas mais ou menos assíduo, com alguns bons filmes vistos, mas sem grande olho, formação, conhecimentos, etc. Eu não faço ideia quem é o actor x, ou o realizador y, se o cinema checo é melhor que o polaco ou em quantas fases se pode dividir a obra de Woody Allen.

Sou, no cinema, como na música, como no futebol, um tipo que gosta, conhece umas coisas e depois vai acompanhando.

Francisco disse...

Ah, ok, Ary! Eu pensava é que estavas a acusar o filme de "pretensiosismo". Daí a minha incredulidade. Não cheguei a perceber que te estavas a acusar a ti mesmo. Acusação de que, tal como o Tiago, não partilho. :)

Um abraço.

Ary disse...

O texto de facto não era muito explícito quanto a esse ponto.

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