quinta-feira, 31 de julho de 2008

história e memória

O que não se encontra na Internet; o que para muitos nada diz. Textos longos, compridos, reflectidos. De ilustrados. Este excerto é do guia de estudo de história do pensamento jurídico de António Pedro Barbas Homem, professor agregado (não sei se catedrático) da FDUL.

“O esquecimento que os alunos universitários revelam é o resultado intencional das experiências pedagógicas a que foram submetidos. Não pode pensar-se, o que seria uma atitude fácil, que se conformam com este diagnóstico. Encontro muitas vezes tristeza e revolta. Tristeza porque a ignorância implica a incapacidade para compreender o presente; revolta, porque esta incompreensão implica a incapacidade para agir sobre o presente e, assim, ser autor do seu destino.
A destruição da educação a que vimos assistindo nos últimos anos, em geral, e da história, em particular, tem um resultado terrível para as suas vítimas inocente. A destruição da liberdade para agir, porque só quem conhece pode agir com consciência da sua liberdade. Está em causa um conhecimento da sua própria historicidade, e também da geografia, da literatura portuguesa e estrangeira…
A destruição da dimensão temporal da história em favor de pré-compreensões metodológicas – como complexos e crises – tem um efeito: a história torna-se um conjunto de factos e de problemas de tal modo incompreensíveis no seu desenvolvimento que os alunos são incapazes de articular um pensamento coerente: tudo surge sob uma aura de inevitabilidade – o homem, de agente e autor da história, torna-se a sua vítima.
Igualmente grave é o facto de a dimensão histórica da literatura portuguesa não ser estudada na sua relação com a história geral, o que agrava a incapacidade de compreender a relação entre a criação literária e artística e a história política. Os alunos são incapazes de articular os diversos planos da história d acultura, com uma consequência precisa: a alienação do homem. Não se trata da alienação marxista, mas da alienação do homem pela ignorância da cultura e da sua própria historicidade. Daqui arranca este vício fatal dos nossos tempos, a indiferença. Tudo é lícito, tudo é permitido, nada é maligno, nada deve ser proibido. Da tolerância passa-se ao relativismo; do relativismo dá-se o último passo para a indiferença.
A condição do homem moderno de que fala HANNAH ARENDT assenta no saber e no conhecimento. Pelo contrário, os totalitarismos do século XX assentaram na manipulação da história e na manipulação da filosofia da história. É conhecido o dito acerca dos países submetidos a ditaduras estalinistas e maoístas, de que era mais fácil conhecer o futuro do que o passado. Em função de cada purga, o passado era rescrito, com filmes e fotografias adulterados, livros destruídos e outros impressos. (…)
O conhecimento da história não é, por isso, apenas condição para o progresso da ciência e da cultura. É essencialmente uma escola de liberdade. A sabedoria de um cronista antigo pode ser invocada. FREI JOÃO ÁLVARES alerta para a importância do conhecimento histórico, como matriz da acção política: «a memória das coisas passadas dá conhecimento para as do presente e avisamento das que são para vir» (Tratado, p.4). Ecoa a matriz clássica da história como mestra da vida.”

Perante o texto - com que me identifico totalmente – conseguimos enquadrar muitos dos temas que temos vindo a abordar.
- O mau jornalismo, a sociedade plástica, como uma sociedade de futuro, desprezando a história. A história surgindo encabeçada por uns quantos heróis – deuses – e por uns pequenos diabretes – demos. Não se procura perceber, conhecer. Ou é bom, ou é mau. Ou se consome ou deita-se ao lixo. (repare-se que hoje os jornalistas são licenciados em jornalismo; soa como um curso de culinária em que a aprendizagem se cinge a provar pratos de autores famosos. Nada de dar quadros mentais substanciais, de um certo saber. O que importa é saber comunicar. Plástico.)
- Podemos saber, em princípio, pela leitura histórica, que revoluções são aceitáveis ou não. Se, em abstracto, alguns de nós são pró ou anti revolução (provavelmente por adesão filosófica), em concreto as posições devem aproximar-se. Se, à luz das regras gerais da experiência (experiência histórica- e só saber um mínimo suficiente quase se apresenta como um labor de sisífo), do circunstancialismo da situação e dos concretos perfis dos actores revolucionários seja previsível uma melhoria da vida em comunidade sem custo injustificado, só por teimosia alguém continua a ser anti revolução. Parece-me, até, uma questão literária: uns gostam do romantismo do Maio de 68 (revolução cultural), outros gostam de pequenas mudanças. Mas todos anseiam pela melhoria da realidade, acolhendo qualquer meio idóneo a alcança-la (à dita melhoria).
- Para o leitor da história, a guerra afigura-se quase sempre como uma evitabilidade. Recordo uma velha entrevista no por outro lado do intrépido militar Vasco Lourenço, já calejado pela experiência, em que afirmava com seriedade bastante: “a guerra não é solução”. Veja-se, paradigmaticamente, a guerra do ultramar, que demorou quase 15 anos. Evitável (pelo menos em tal dimensão). Acho que, lendo a história, nem o nosso prezado amigo canotilho concordaria com imensas guerrilhetas que por aí se travam.

Mas ler história custa. Obriga a interpretar, a reflectir, ao permanente confronto entre o presente e passado. É sempre mais fácil dizer e ouvir “tive uma ideia inovadora” (quando, tantas vezes, mais não é que uma a visão adulterada e corroída de uma qualquer posição de um autor anterior).

Esta casa defende que a História é um prius da liberdade; uma escola de saber; um manual de acção. Desta feita, alguém fica no contra?

Guerra

Dix-septième parallèle é um filme documentário de Joris Ivens de 1968. O realizador demorou dois meses a filmá-lo, focando-se numa aldeia do Vietname do norte Vêem-se aviões americanos, bombas americanas, a captura de um piloto americano, a destruição dos campos de colheitas, os relatos das populações, imagens de um ataque em que caíram cerca de 80 bombas por habitante da aldeia, crianças a aprenderem a combater, a brincar às capturas de pilotos americanos. Relata também uma verdadeira comunidade que, unida, sobreviveu. Em TODO o documentário perpassa a certeza daquele povo de que vencerá. O “hospital” da aldeia (um buraco no chão) tem numa placa à porta: “O hospital é um campo de batalha. Cada cama é um posto”. Não são situações baseadas em factos reais. Não há excelentes actores. Há situações reais de pessoas reais numa barbárie real.
Porque refiro isto?
Porque creio que quem quer que veja o filme – tudo o que perpassa é uma luta pela liberdade (estamos a falar de camponeses muitas vezes analfabetos) – se identifica com a ideia que lhe subjaz. Durante as quase duas horas “todos somos vietnamitas”. E recorda-se a pergunta que ainda há tempos o ari sugeria: de quem são as guerras? Há uma altura em que um sujeito da aldeia se pergunta sobre o porquê de aqueles soldados americanos lutarem, sem nenhum ideal. De quem é a guerra?
. O que hoje saltou à vista, o que hoje senti com tanta intensidade foi o poder da coesão social, da humanidade em cada um dos seus membros. É também lembrar vietnamitas indignados com os “yankees”, ou piratas, por os obrigarem a sair de casa. A dizerem que só eles, vietnamitas, podiam queimar a própria casa. Que queriam morrer na terra dos antepassados.
É a luta. E, naquela população, é uma luta pela liberdade. Pela liberdade face a um poder externo. Uma imensa ode à força do combate comum que, de resto, levou a um resultado do conflito diferente do esperado à partida. Como se diz na folha da cinemateca: “No hemisfério ocidental, onde estava o público a quem o filme se destinava, ninguém, ou quase ninguém acreditava à época, que a toda poderosa América pudesse perder uma guerra, fosse com quem fosse, e muito menos um povo paupérrimo e mal amado, como eram os Vietnamitas”.
Podemos pensar na história colocando o enfoque nas copulas e nos actores políticos. Este filme mostra-nos o ponto de vista da população, esquecendo militares heróicos ou jogos diplomáticos de bastidores. “É um filme sobre a força da vida, sobre o amor pela vida humana nas condições mais adversas.” E aí não vietnamitas ou americanos, há homens.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Spam Lusitano

Disse Clara Ferreira Alves na sua habitual crónica no Expresso do último Sábado, o que, com alguns cortes, passo a transcrever:

"Uma boa parte do que se publica em jornais é Spam. Spam é lixo electrónico, a quantidade inesgotável de mails e mensagens sobre coisa nenhuma, avisos e alertas desnecessários, indignações de rodapé e comentários de nada. O spam atravessa as nossas vidas cibernéticas e estima-se que o tempo que perdemos a fazer “delete” mais o tempo que perdemos a lê-lo, mais o dinheiro gasto pelas companhias que inventam filtros de spam a inventar e a instalar esses filtros, é calculável em muitos milhares de milhões de dólares. Acções potencialmente inúteis porque os fabricantes de Spam e os anunciantes de Spam conseguem iludir todas as vigilâncias e dotar o lixo deles de poderosas propriedades de infiltração das nossas consciências.

O que quer dizer que o avanço tecnológico trouxe o seu reverso, a estupidificação progressiva das massas e a atrofia do cérebro, cada vez mais cheio de Spam e de trivialidades e menos ocupado com raciocínios e pensamentos que suscitem inteligência e concentração.
Na revista americana "Atlantic", o ensaísta Nicholas Carr publicou um texto com o título "Is Google Making us Stoopid?", e o subtítulo "What the Internet Is Doing to Our Brains". Carr é autor de um livro sobre o tema da revolução tecnológica na informação: The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google, e o que ele diz é, essencialmente, uma constatação: qualquer pessoa que esteja habituada a ler livros, e livros grandes e difíceis, com muitas páginas e muito raciocínio, livros que só dão alguma coisa se o leitor der algo em troca, apercebe-se de que se torna cada vez mais árdua a concentração nesses livros e que a tendência para a dispersão e a diminuição da atenção se tornou uma segunda natureza no leitor.

Vivemos em "overdose" de informação desnecessária e invasiva como um tumor maligno. Escapar a esta "overdose" é impossível, tanto na imagem como na palavra escrita, a não ser que desliguemos todas as tomadas eléctricas. Essa informação multiplicada, e muitas vezes burocraticamente multiplicada, tende a inverter ou destruir as hierarquias e a subverter o essencial ao acessório. Existem novas leis: a imagem sobrepõe-se à palavra, a palavra tem de estar dividida e segmentada em parágrafos e pedaços, com destaques, de modo a prender a atenção. Na luta infernal pela atenção dispersa do ouvinte, leitor, espectador, tudo tem de ser hiperexplicado ou, em alternativa, sensacional e eufórico, sensacional e disfórico. Uma vez convenientemente digerida nos intervalos de outras infirmações que competem entre si, a informação não chega a ser hierarquizada nas nossas mentes e tudo é igual a tudo, na grande teoria da indiferenciação cultural que gera a nossa indiferença.

Só o aberrante, o pai austríaco que manteve a filha prisioneira durante 24 anos, ou o grandioso, a Espanha ter ganho o Euro 2008, ou o catastrófico inovador, o tsunami da Ásia que matou 250 mil pessoas, ou o criminoso policial, o desaparecimento de Madeleine McCann, provoca a nossa atenção não dividida. Tudo o resto cai em saco roto, e não nos espanta ver em rodapé de um noticiário pimba de televisão a notícia "180 mortos no Iraque em atentado terrorista", porque a notícia que devia ser importante tornou-se secundária. O terramoto na China foi completamente engolido nas nossas televisões pelo futebol e os desígnios insondáveis de Scolari. Assim sendo, o noticiário internacional tornou-se esparso e irrelevante e o noticiário nacional tornou-se tablóide e grotesco. No reino da estupidez, vale tudo. Portugal está inundado de Spam na informação e certas notícias historicamente relevantes nem chagam a ter cobertura jornalística. Em vez de informar, deforma-se. O major Valentim é mais importante do que as tropas portuguesas no Afeganistão.

A estupidez contamina a audiência e forja o preconceito violento e iletrado que enche as caixas de comentários e certa blogosfera azeda. Carr não fala de jornalismo, descreve dificuldades pessoais para ler um livro e inscreve a história e efeitos da inteligência artificial, explicando como estamos a ser privados de "um reportório de densa herança cultural" (a cultura ocidental) e a ser transformados em "pessoas-panquecas", segundo a teoria de Richard Foreman. Pessoas-panquecas, fininhas e achatadas enquanto se ligam à rede de informação pela mero toque de um botão. Pessoas panquecas que deixarão de ler romances russos, livros de Kant e Hegel, Aristóteles e Platão. Pessoas-panquecas que deixarão de ler, simplesmente. E que terão opinião sobre tudo."

Esta crónica fez-me reflectir, deixou-me apreensiva. Não estará Clara Ferreira Alves, com tais palavras proféticas, a pintar o quadro um pouco negro demais? Ou será que, como a maior parte das vezes, está certa, e o jornalismo português caiu num poço sem fundo? E o filtro de spam do "português médio", estará estragado, desactualizado, ou simplesmente farto de ter que filtrar? Será que a sua pluma, além de caprichosa, é hiperbolicamente alarmista, ou será que esta "overdose de informação" está mesmo a tornar-nos "pessoas-panquecas"?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

"Hatemail"

Este blog tem tido um dinamismo que eu, nem sendo muito optimista, esperaria. Temos conseguido manter um número de visitantes bastante razoável, um número de comentários muito significativo, boas discussões, posts com uma qualidade flutuante mas sempre a cima do nível da água e em geral eu já andava muito satisfeito com o rumo das coisas.


Mas confesso que por vezes, olhava para todos estes factos e lamentava o facto de toda esta qualidade estar aqui retida, não sair para um mundo lá fora que bem precisa de mais discussões. É uma pena ... - pensava eu - tão boas coisas por aqui e tão grande o desperdício quando quem precisa mais destas coisas não é quem as recebe.

Isso pensava eu até às 19h do dia 28 de Julho de 2008, altura em que me apercebo que este blog tinha acabado de receber a sua primeira (esperemos que de muitas) "mensagem de ódio". Aquilo a que na gíria informática se chama: "hatemail".

Passo a transcrever:

"e se fosses levar no cu,ramalho??

tu,esse ari e o canotilho...

cambada de cromos!!"


Kripton

O nosso fã do Super Homem, ou da química moderna, ficamos sem saber, mas mente astuta e subversiva, atingiu-nos de forma acutilante e certeira com os seus versos eloquentes. E eu fiquei a saber que este blog é lido por outras pessoas que não os seus autores. Mais! Por pessoas que não gostam de nós. 

Caros amigos [e inimigos, sim porque agora eu sei que vocês também andam por aí],

não sei se se aperceberam da magnitude disto. É que com uma blogoesfera tão sobrelotada como temos hoje é complicado para um blog surgir do nada e, sem andar feito parvo a comentar blogs da moda ou receber destes a benção papal, impôr-se e começar a receber visitas de outras pessoas que não os autores e alguns amigos. Aliás por isso é que as pessoas se cansam dos blogs. Para conversar entre amigos marcamos um café. Mas dificilmente durante esse café chegaria alguém há nossa beira e, encapotado, aliviaria ali mesmo as suas mágoas.

Escusado será dizer que o comentário não será apagado e que o blog manterá a mesma política de comentários, permitindo a TODOS expressar a sua opinião. Só assim permitiremos a participação dos que, claramente, mais precisam de participar.

domingo, 27 de julho de 2008

Auto de um feio Portugal.

DN de 26/7/08. Páginas 2, 3, 4 e 5. Uma bem conseguida reportagem relata a história de 3 paraquedistas caídos em combate na guerra da Guiné que, 35 anos depois, são trasladados para casa. Relata a dor dos que ficaram. Relata as vidas desses que foram. E sugere – porque em cada palavra tal cruamente transparece – o horror da guerra, no todo muito superior à algébrica soma das partes.
É também a história de um país. De um país manchado.


Acto Primeiro. A dor. Memória.
Cena 1 – o liberal
António Vitoriano, Castro Verde, 21 anos. Fazia aviões de papel. Sonhava ser piloto de aviação. “Muito activo, liberal e ambicionava viver em Inglaterra.” Cicatriz de infância na cabeça, de uma queda de burro, o que permitiu a identificação. Estudou até à quarta classe. Começou a trabalhar como barbeiro, também foi barman. “Encarou a Guiné com naturalidade e como um desafio”.
Cena 2 – o anjo
José Jesus Lourenço, Fornos, Cantanhede, 19 anos. “Era um anjo, por isso não me pertencia”, diz a mãe. Acaba a primária e, nas palavras do pai, começa a trabalhar no duro, cozendo cal e enfornando os fornos. Deixou cá um amor interrompido. Que fez luto, a que se associaram todas as raparigas da aldeia. “Era o moço mais bonito do lugar”. Conta um companheiro que morreu para salvar outro. Recorda ainda que, na iminência da partida, disse “Ai a minha mãe! Ai a minha namorada!”.
Cena 3 – o valente
Manuel Peixoto, Gião, Vila do Conde. Pouca informação nos é dada. Assim reza o escrito no verso de uma das fotos que o acompanhava: “Dentro do avião quando íamos para o quartel do exército que está perto da fronteira. Uns riem-se e outros pensam no que podia acontecer perante as operações, mas correu muito bem só tivemos um morto”. Nas palavras de um companheiro “Era um homem destemido, uma verdadeira máquina de guerra: eu ouvia um tiro e escondia atrás das árvores, ele não, ele rompia para o inimigo.” Ou, segundo o irmão, “já aqui era valente, faz parte da família”
Acto Segundo. Analepse: A emboscada.
Cena 1 – o inferno
23/5/08. “Aquilo era o inferno! A minha arma escaldava de tanto fogo. Houve uma altura que começou a disparar sozinha”. 45 minutos sob fogo. Uma coluna de 60 a 70 homens. Tiros do PAIGC. Mortos. “Levamos os mortos às costas até Guidaje”. Começam a decompor-se, da humidade. Inumados dois dias depois.
Cena 2 – o padre e a GNR.
Entra o pároco de Fornos na casa da família e anuncia a morte de José Jesus Lourenço, a 28 de Maio de 1973. A GNR anuncia-se e anuncia à família o fim de António Vitoriano. Abre-se o luto.
Acto Terceiro. A vergonha
Cena 1 – A medalha
Na altura de umas comemorações do 25 de Abril a família de Manuel Peixoto é chamada a ir a Lisboa para receber uma medalha de honra pelo seu filho, caído em combate. A cerimónia era, afinal, um grande comício. Sem medalha.
Cena 2 – A trasladação (1)
Até 1968, o Estado só trasladava os restos mortais se as famílias pagassem esse serviço.
Cena 3 – A trasladação (2)
Lopes Camilo, vice-presidente da Liga dos Combatentes: “Não abramos uma caixa que nunca mais conseguimos fechar”. Teme que mais famílias venham reclamar os seus mortos. Tem um subsídio de 250 mil euros para realizar toda a tarefa de identificação de corpos e cemitérios militares.
Cena 4 – A trasladação (3)
Os corpos daqueles 3 soldados voltam a casa 35 anos depois.
Acto Quarto. Os outros.
Cena 1 – Os jovens
800 mil mobilizados.
Cena 2 – Os que não voltaram.
Estimam-se 10 mil mortos.
Cena 3 – Os que ficaram deficientes físicos.
4 mil.
Cena 4 – As valas.
1250 militares em diversas zonas de combate.

Retomo o fito que me orienta. Centenas de milhar de jovens são recrutados durante anos. Vão para uma guerra que não é sua. Vão defender o sonho de um Império que não é seu. Deixam a família com quem querem ficar. Matam, têm de matar. Entram na selva africana. Vêm um preto armado e matam. Outro e matam. O preto é o inimigo. São brutos mesmo que o não fossem. São duros para serem temidos. Matam para não serem mortos. Numa guerra que não é a sua. Sai da barbearia e vai para a mata. Sai dos fornos e vai para a carnificina. Sai do campo e torna-se uma “máquina de guerra”. As famílias esperam. As famílias aguardam. A guerra também não é sua. Um dia são emboscados e, agora eles, morrem. São inumados dois dias depois. A família sofre, a namorada sofre, o padre sofre, a aldeia sofre. A guerra continua. Os companheiros sofrem e guardam as últimas palavras para recordar à família. “Ai a minha mãe! Ai a minha namorada!”. O outro era um bravo. O outro ainda era um boémio. Agora são mortos. Numa vala da Guiné.
A Guerra acaba. A política muda. As antigas colónias tornam-se Estados independentes. Instabilidade política em Portugal. No seguimento de uma revolução iniciada, quiçá golpe de estado, procurava-se criar uma sociedade socialista. Socialista. Com respeito pelo homem. Socialista. Jovens capitães – brevemente majores – encabeçam e orientam os rumos do país. Socialistas. Há que esquecer a guerra, há que avançar. Comemora-se o 25 de Abril, os cravos, a paz. Os velhos soldados – terminasse a guerra com vitória e seriam “veteranos” – voltam a casa. Retomam as suas vidas. Acordam a meio da noite lembrando-se das agruras daquele tempo. Mas não importa. O país está a avançar. As famílias recordam os filhos, irmãos, cunhados, maridos que ficaram. Mas não importa. A guerra já foi. O país agora é outro. Socialista. O centro é o homem. O filho ia receber uma medalha em Lisboa. A família viaja cerca de 7 horas. Para assistir a um comício. Há que avançar, há que avançar.
35 anos depois, três caídos em combate voltam. 35 anos depois, mais de mil militares continuam no solo de África. 35 anos depois todas as famílias os recordam. “A vinda dele dá-me paz”, diz a mãe de um. “Tenho dito às pessoas: cantem e batam palmas quando o meu filhinho chegar à nossa terra. Por favor, não abracem, não chorem nem me dêem os sentimentos”. 35 anos depois. Desde os 42 até aos 77 ansiando pelo filho. E os que ainda não vão voltar. Os que nunca vão voltar. E as famílias que ainda e sempre os aguardarão. Mesmo depois de caída a esperança.
Insuficiência de fundos. Insuficiência de fundos. Insuficiência de fundos para trazer de volta aqueles que fizeram uma guerra que não queriam, a que não se podiam furtar, que morreram em combate. Há prioridades. Há sempre prioridades. Há que avançar, há que avançar.

Há vergonha. Há vergonha que nasce de tão depressa “fazer por esquecer.”De tão depressa esquecer. Há vergonha.

sábado, 26 de julho de 2008

These are a few of my favorite things ...

Há já alguns anos que, de uma forma ou de outra, tenho com o Tiago uma discussão sobre as revoluções. Quando a MJ disse, em comentário ao último post, que não achava que eram precisas revoluções senti-me triste, porque acho que cada vez mais elas são desprezadas num mundo que tanto precisa delas.

Eu acho que o mundo precisa de mais revoluções. Não precisam de rolar cabeças, nem de correr sangue e às vezes nem precisam de sair nos jornais. Nem sempre basta que as pessoas saiam à rua de laranja (ou de branco, ou de azul, ou de amarelo às bolinhas). Não basta barricar umas ruas e colar uns cartazes. Basta que se diga basta. Mas bem alto e com força. Com aquela força quem têm os que durante muito tempo foram fracos. E nem é preciso gritar. Às vezes basta um livro, uma folha, uma página corajosa avidamente lida de olhos abertos.

Há quem diga que morreram os heróis. Eu espero que não. Recuso-me a acreditar. Até porque toda a gente sabe que os heróis, a morrer, só morrem no fim do livro quando todos os vilões foram embora. Eles devem andar por aí, escondidos. Como o Rei Artur que voltará quando sentir o reino em perigo.

Pode ser infantil, mas não é egoísta. Pode ser insensato, mais não é cruel. Acho que a humanidade precisa de heróis e o mundo de revoluções. E daí nasceu este texto. "Um dia vamos mudar o mundo. Hoje é o dia."


Eu gosto de revoluções. Gosto do idealismo e da simplicidade revolucionárias. Gosto da falta de compromissos. Gosto da ideia de que podemos mudar o mundo todo de uma vez, de que amanhã o Sol brilhará com mais força. Gosto de grande tiradas em vozes roucas com suor, daquelas que são gravadas em pedra e fazem arrepiar. Gosto de discursos que fazem crescer lágrimas nos olhos e qualquer coisa grande, gigante, enorme no peito, quando se torna dificil respirar e temos vontade de gritar alto. Gosto de multidões até perder de vista, de pessoas a sair à rua, com perigo para as suas vidas, só porque tem de ser. Gosto de músicas com pratos e tambores, que falam de coisas maiores que a vida. Gosto de avôs que dizem "eu estive lá" e contam coisas que não vêm nos livros de História. Gosto de cartazes nas paredes pintadas de fresco com murais vermelhos. Gosto de grandes ideias e de pequenos gestos, como os cravos na ponta das armas. Gosto da ousadia, da incerteza, do heroísmo, da coragem e do medo. Gosto de David a vencer Golias, de cargas de cavalaria, dos trezentos de Termópilas, da Invencível Armada, do Napoleão e de Júlio César, da Cleópatra e da Maria Antonieta. Gosto da queda do muro de Berlim e do Homem a pisar a lua. Gosto de fronteiras que são quebradas, de mares que são rasgados, de nuvens que se deixam atravessar. Gosto da maçã do Newton e da morte de Sócrates. Gosto de Leonardo e de Stalin, de Rafael e de Lenine, de Fidel e de Picasso. Gosto de Malcom X e de Luther King. Gosto da grande marcha e da de um milhão de homens. Gosto da Bíblia e do livro vermelho, do Príncipe, do Mein Kampf e das declarações de direitos. Gosto das bandeiras, das tochas, das armas, dos hinos, do "sangue, da espuma e [dos] cânticos nos lábios". Gosto das pegadas em areia virgem, dos aplausos, dos assobios. Gosto dos pulos da História, e de vê-la a correr diante dos nossos olhos, à nossa beira, ao nosso lado, dentro de nós. Gosto de sentir que vivemos no melhor dos tempos e no pior dos tempos. Gosto de sentir que algo importa, que algo fica e que as coisas mudam. Angustia-me a morte, o esquecimento, o vazio, o frio, o nada. Quero tudo! Quero dizer que valeu a pena, que estive lá, que vi fazer e fiz; que o mundo ficou diferente e afinal alguma coisa importa. Eu sou assim: gosto de revoluções, de palavras, de abraços e de sumo de limão.

E se houvesse um novo 25 de Abril?

É incrível a quantidade de blogs em que participam alunos da FDUP. Assim sem grande esforço consigo lembrar-me de uns 20, e isto sem contar com os "blogs secretos" que, ao que fiquei a saber, também existem por aí.

Já pensei que fosse um sentimento oco, irracional (estúpido, até) mas há boas razões para termos orgulho na nossa Faculdade. Este projecto não sairia do papel na maior parte das faculdades, temos uma quantidade incrível de actividades feitas por alunos para alunos, tirando algumas excepções não temos maus professores (e a julgar pelas entradas no CEJ e na OA não devem ensinar-nos assim tão mal) basta entrarmos no bar e agitarmos o jornal no ar apontando para "as gordas" para termos discussão pela certa, nunca como aqui encontrei uma percentagem de gente tão interessada em temas tão diversos: se quiser falar de cinema tenho pelo menos uma dúzia de pessoas a quem recorrer, se quiser falar de história não tenho muito menos, política! não quero fazer contas, economia continua a haver uma ou outra pessoa, quanto à música também não estamos mal servidos, é possível falar de filosofia com bastante elevação e sem sermos olhados de lado, etc.

Temos muita massa crítica, mesmo muita, para uma faculdade com 700 pessoas. Especialmente se pensarmos que umas 200 só põem lá os pés para os exames.

Hoje passeava pelos blogs da nossa comunidade académica, quando me deparei com a seguinte frase do Jorge Sampaio no blog do Luís Faria aka "Tó Nebes" sombra secreta:

"E se houvesse um novo 25 de Abril, uma nova revolução para mudar Portugal?... Em 74, queríamos liberdade, democracia... E se fosse agora, que país quereríamos?"

A frase deixou-me a pensar por uns segundos, e como eu acredito nas virtudes do "brainstorming" aqui fica a posta, uma pedrada neste "Think tank". Espero que comentem.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Estará a China pronta ou mais do que pronta?

Porquê a escolha da China para anfitriã dos Jogos Olímpicos?

Concerteza o comité que votou a favor de Pequim,(e tão rapidamente, já que foi a mais rápida votação nos últimos quatro ciclos olímpicos, vencendo Toronto), entenderá que esta reuniria mesmo as melhores condições a nível infra-estrutural. Porém não podemos negar que uma decisão destas terá sempre um fundo(ou serão as condições infra-estruturais o fundo?)político.

Entenderão que por estarem os olhos de todo mundo bem postos na China, esta aprenderá a contralar os seus excessos humanitários? Como se de um julgamento em praça pública se tratasse? Como se, ao transmitirem ao vivo e a cores as barbaridades praticadas pelo regime, acabassem por corar o rosto de Hu Jintao?

"Ainda recentemente, uma campanha anticrime levou à execução de praticamente 1800 pessoas só nos últimos três meses — mais do que o resto do mundo em três anos."

"Serão interditos protestos, bem como utilizar panfletos ou slogans contra o Governo. Pessoas com intenções "subversivas", doenças mentais ou sexualmente transmissíveis, ou com objectivo de se prostituir não poderão entrar no país."

Parece bem claro que a China deseja mostrar a todos que é uma grande nação. A maior de todas até... Alguém se recorda de uns tais JO em 1936 ocorridos em Berlim, com um tal senhor Hitler à mistura e uma enorme máquina propagandística?

Esta casa defende
que a escolha da China, muito antes do tempo foi um erro. A China está mais do que preparada para conseguir o que quer, mas muito pouco preparada para que vejam a forma como o alcança.

"Isto vai pôr o selo da aprovação internacional nos abusos e encorajar a China a aumentar a repressão" e consolidar um regime autoritário. Ou por outro lado, à imagem de Seul, permitirão uma mudança política?


Direito & Linguagem

Desde o início do ano, depois da leitura de um dos livros de Teoria Geral, tenho em mente a relação entre o Direito e a Língua. Agora, em tempo de férias, leio um livro sobre a linguagem, [depois de pedir uma sugestão a "alguém de quem não me lembro"(obrigado ari).] de onde se retira este excerto:
Fonte: Teoria da linguagem: natureza do fenómeno linguístico e análise das línguas, José G. Herculano de Carvalho, Atlantida Editora, S.A.R.L, Coimbra, 1970, p. 87
"Diante da linguagem humana, em todos os tempos e lugares, encontramo-nos portanto perante um fenómeno uno na sua essência, mas extremamente vário nas suas realizações particulares, não sendo aliás esta enorme diversidade nada mais do que uma manifestação da liberdade do próprio homem que a realiza"

Mutatis Mutandis, não é o mesmo que se passa com o Direito, para lá de todas as suas concretizações singulares de cada ordenamento enquadrado num sistema mais amplo? (com excepção, claro está, do direito organizatório/ institucional) Não se reconduzem os ordenamentos jurídicos português e espanhol (do sistema romano germânico), inglês (anglo saxónico), indiano (do hindu) e, enfim, todos as ordens jurídicas, a uma mesma ideia de base?

Mais uma estreia

Esta casa defende que todos os homens de cabelo comprido são Jesus.
Cyanide and Happiness, a daily webcomic
Cyanide & Happiness @ Explosm.net

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O verdadeiro espírito da Sociedade de Debates...

Saudações caros colegas...

Estreio-me, com muito gosto, neste espaço de discussão cada vez mais interessante.
Sendo já membro do blog, à uns pares de semanas, entendi que só me poderia estrear após uma verdadeira participação na Sociedade.
Não fosse ser acusado de ser um "orador não praticante"...

Esta casa defende que...

A Sociedade Debates é essencial, pois cobre uma enorme falha da nossa faculdade. A tradição do exame oral é hoje quase inexistente, e os alunos cada vez mais se atemorizam perante "o falar em público".
A Sociedade Debates será, mais do que um simples espaço de divertimento e convívio, um espaço de progressão e evolução de um dos maiores handicaps actuais.

Ou será que estamos simplesmente a "brincar aos políticos", a absorver doses de demagogia em quantidades industriais?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Esta casa acredita que o ideal olímpico está morto.

Afinal o que é o espírito Olímpico? Estará ele vivo quando os jogos parecem já não ser mais que uma forma de exibição dos atletas, uma manobra de marketing bilionária, uma desfile de moda ou um gigantesco anúncio?


Muitos dos atletas que são apanhados a tomarem drogas reclamam dizendo que todos o fazem e todos os anos surgem notícias que alimentam essas suspeitas.

Atletas com patrocínios fabulosos e grandes equipas por trás competem lado a lado com aqueles que correm só por amor ao desporto. E o amadorismo é excepção e não regra, correndo mesmo o risco de desaparecer.

Por outro lado continuamos a escalada em busca do "citius, altius, fortius", mais rápido, mais alto, mais forte. Recordes são batidos a um ritmo fabuloso durante esse mês de Agosto de quatro em quatro anos.

Os jogos recebem mais atenção que nunca e continuam a ser a grande celebração da auto-superação humana.

Está o ideal olímpico morto, ou mais vivo do que nunca?

Devagar se vai ao longe...

Um pequeno vídeo e a frase surgiu.
Através do olhar atento da câmara, os intervenientes procuraram, em quinze minutos, defender a "sua" posição. Quinze minutos para procurar encontrar falhas, pequenas ironias, um discurso eloquente. Quinze minutos para, em apenas sete, conquistar o público e destruir o adversário.
Alguns com mais experiência, outros (como eu) com os nervos à flor da pele, mas tentando aparentar a calma por que tanto ansiavam (afinal de contas uma simples gota de suor já fez perder eleições).

Entre argumentos a favor e contra, chegou a minha vez. Uns têm mais facilidade para falar, outros para escrever. Digamos que a arte da oratória não é uma das minhas qualidades, mas não foi isso que me fez desistir.
"Subi ao púlpito" e dei o meu melhor. Talvez o meu melhor não tenha sido grande coisa... mas será uma pedra no caminho que nos deve fazer desistir?
Eu não acho. Considero que o primeiro passo foi dado e o importante agora é continuar. Só lutando contra nós mesmos, só enfrentando os nossos medos é que conseguiremos ultrapassá-los.
E, na minha opinião, esse é o objectivo da sociedade de debates. Ajudar os bons a ser melhores e os maus a ser bons e quem sabe um dia a ser tão bom como os bons.

É tempo de voltar à Grécia e aprender a arte da retórica, é tempo de participar.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Creative Industries

É realmente com anúncios assim que percebo o porquê do sector das "Indústrias Criativas" incluir, além das manifestações artísticas mais consensualmente aceites (pintura, escultura, fotografia, cinema, teatro, literatura, música, etc), a publicidade. Embora a maior parte das vezes não lhe reconheçamos esse cunho, por vezes deparamo-nos com anúncios que são a mais pura Arte, porque nos tocam e atingem como só ela o faz, com a sua genialidade. Como este.

http://www.youtube.com/watch?v=tYFPIx6oX8g

domingo, 20 de julho de 2008

AdSense - Relatório 20 de Julho de 2008

De forma a promover a transparência das contas da Sociedade de Debates, vou passar a publicar no blog um relatório semanal relativo ao Adsense.


Desde o início de Maio, registaram-se 164 cliques em anúncios e foram feitas 9 consultas que levaram a mais 5 cliques. Esses cliques resultaram num total de $21,50.

Desde o início de Julho, resgistaram-se 1012 visitas, que geraram 5 cliques em anúncios e foram feitas 0 consultas. Esses cliques resultaram num total de $1,96.

Nos últimos 7 dias, registaram-se 323 visitas, que geraram 5 cliques em anúncios e foram feitas 0 consultas. Esses cliques resultaram num total de $1,42.

terça-feira, 15 de julho de 2008

relíquia de direito natural

Alejandro de Hales (1185-1245)
Compara a lei natural ao sol que sempre reluz, se bem que em caso de eclipse, por se interpor entre o sol e a terra um corpo estranho, deixe de iluminar, i.é., deixe de receber luz. Assim, a lei natural reluz sempre mas nem sempre ilumina, nomeadamente se se interpõe as tibiezas do pecado.

domingo, 13 de julho de 2008

Último Debate do Ano Lectivo 2007/2008

Fui desafiado pelo Tiago Azevedo Ramalho a promover mais um debate na sociedade antes do final do ano. 


O último é de Direito do Trabalho quarta-feira, dia 23, às 10h. Sugeria portanto um debate para dia 23 às 14h.

Algumas coisas que precisamos de fazer/decidir:

Debate
1. Eu acho que podiamos tentar ter 2 debates a decorrer em simultâneo. Isto se tivermos pelo menos 20 pessoas interessadas (16 para debater e 4 para as mesas).
2. Quem quiser participar por favor inscreva-se deixando um comentário a dizer: Mesa ou Debate.
3. Alguém gostava de experimentar outros tipos de debate?
4. Alguém quer experimentar debater em inglês?
5. Eu acho que era giro convidar pessoas de fora da faculdade para assistir, que acham?

Divulgação
6. Gostava que pelo menos uma pessoa de cada rede se voluntariasse para mandar mensagens em quantidades industriais para gente da faculdade.
7. Vale a pena colar cartazes? Acho que não.
8. Alguém tem mais ideias para métodos de divulgação? (Claro que vamos usar o blog).

Aspectos técnicos
9. Manuel, podes trazer a campainha? Se não, alguém tem uma?
10. Alguém tem uma câmera de vídeo para gravar o debate? Eu posso levar um tripé.
11. Alguém gostava/não se importa de ficar como "cameraman", perdão "cameraperson", e não quer nem debater nem ficar na mesa?
12. Eu posso levar a minha máquina fotográfica, mas precisava que alguém tirasse as fotos. Alguém, que não queira participar no debate, se disponibliza?
13. Alguém tem alguma ideia para "entreter" o público durante aqueles 15 minutos de preparação?

Se alguém se lembrar de mais alguma coisa, por favor diga.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Bella Ciao

... Ok esta musica é do meu periodo revolucionario, faz-me lembrar muitas coisas muito boas, e para dancar é muito fixe também... e ja k estamos numa de musicas revolucionarias....

http://www.youtube.com/watch?v=S3K8NYw8U7c

quarta-feira, 9 de julho de 2008

to my red fascist, my sweet dark communist

my dear Daniela, this song's for you...



Fuck You I Won't Do What You Tell Me!

fonte: muriasjuridico.home.sapo.pt

Pedro Murias é professor da FDUL e tem este belo blogue. Vale a pena por ele passar. Até porque o tipo tem muitas vezes bastante piada. Cá vai umas "verdades" do sujeito:


Ver­dades Fun­da­men­tais do Direito Privado


Ver­dades meto­do­ló­gicas:
1 Contradizer os romanos dá azar.
2 O código civil não é fonte do direito.
3 Três palavras de correcção do legislador e todas as más bibliotecas se transformam em papel de embrulho.
4 A boa juris­pru­dên­cia vincula.
5 Perde a alma quem legisle.
6 Não há regras muito injuntivas, nem regras excep­cio­nais no Código Civil.
Ver­dades dog­má­ticas:
7 A posse é a pro­prie­dade sem tretas.
8 A respon­sa­bi­li­dade civil nunca depende de culpa.
9 O contrato esgota­‑se num momento.
10 O enri­que­ci­mento sem causa aplica-se à bruta.
11 O sinalagma explica metade dos casos.
12 Quase ninguém confia, mas pode confiar­‑se na palavra dada.
13 Até as asso­cia­ções sem perso­na­li­dade jurídica a têm.
14 O direito comercial é só uma desculpa.
Ver­dades geográficas:
15 Savigny morreu, Jhering tam­bém, até ver.
16 O direito inglês parece diferente do nosso.
17 O italiano é alemão com sotaque francês.
18 Não há direito em França.
Ver­dades interdisciplinares:
19 O direito não é eco­no­mia.
20 O admi­nis­tra­tivo nem sempre é direito especial.
21 O fiscal prejudica.
22 O penal atípico ajuda.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Política ou moda?

"Meu caro colega como está? Parece mesmo um Social Democrata! Camisinha azul clarinho, pólozinho sobre os ombros... Sim Senhor!"

"Fascistas! Se era eu que fazia essas figuras por causa desses morcegos..."

"Tem pinta de esquerda. Aqueles farrapos à hippie não enganam"

Tive o privilégio de escutar estas frases nos últimos tempos, o que me levou questionar uma série de pressupostos da ciência política.

A orientação política dos dias de hoje será uma questão de ideologia, de crença em determinados valores que se compatibilizam mais com certos partidos do que com outros? Ou será a vertente estética aquela que caracteriza mais fielmente as facções partidárias?
Terá mais credibilidade no seio dos votantes o partido com melhor programa, com argumentos mais sólidos e soluções mais viáveis? Ou será o mais fashion?

Considerando o modo como se têm diluido as diferenças (na prática) entre os partidos de "esquerda" e de "direita", não me admiraria que o dress code se tornasse o critério de distribuição pelas bancadas da AR.

Do Eu para o Vós nasce o Nós (3)

Universidade Júnior, Universidade Júnior: meu belo repositório de experiências para contar! Assim se apresenta uma folha à porta da sala de espanhol da Escola de Línguas da U.J.

No primeiro terço da folha, um breve cartoon - típico, género da Mafalda - apresenta uma imagem de um aluno a falar com o professor. Por trás do mesmo vislumbra-se um quadro, onde está escrita uma frase com dois erros. Diz o aluno ao professor:

Mi abogado dice que puedo procesar a la escuela por violar mi derecho a ser un ignorante...

Mas, já nos segundo e terceiro terços da folha surgem as conclusões:

Si ser inculto es un derecho
!Dejar de serlo es un deber!
Aprovecha la oportunidad que te regala la Universidad Junior...
Y nunca vas a necesitar a un abogado
(e, já no fim da folha, em letras miudinhas...)
Por la defesa de los derechos & deberes de los estudiantes.

Assim dá gosto!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Do Eu para o Vós nasce o Nós (2)

Novamente retirado desse mundo de vivências que dá pelo nome de universidade júnior.

Quatro jovens de cerca de 13 anos jogam futebol. Ou algo de semelhante. Não se vislumbram balizas, mas elas lá deverão existir naquelas mentes férteis. Não se afigura bola alguma, mas parece que para os ditos a mesma é representada por uma lata de refrigerante esmagada. Como que uma bola em sentido impróprio. Para o observador é notório que um vai marcar um livre. Um livre que é marcado mais ou menos do local onde ficará a baliza imaginária da equipa que representa (ou em que eu imagino que fique, porque o observador sou eu, claro está). Prepara-se, corre, remata. Ou chuta. O guarda-redes que também é defesa, médio, avançado, pivot, ala, ponta de lança, trinco, líbero, centrocampista, central, lateral e bombeiro de serviço, defende.

Comentário do camarada de luta:
"eu tenho um guarda redes impenetrável".

Não diria melhor. Alguém seria capaz de o fazer?

da nossa irracionalidade colectiva

ou quase, que há quem não se reveja no que vou expor.

P- Lixo. Da infopédia.pt.
1.
aquilo que se deita fora por não ter utilidade ou por ser velho
2.
restos de cozinha e toda a espécie de resíduos desnecessários que resultam da actividade de uma casa
3.
pó e sujidade acumulados
4.
lixeira
5.
imundície; sujidade
6.
local onde se reúne tudo aquilo que é para deitar fora
7.
figurado coisas inúteis
8.
pejorativo ralé


p- Guarda chuva. idem.
objecto portátil para abrigar da chuva, formado por uma armação de varetas móveis, coberta de pano, e uma haste central que serve de cabo; chapéu-de-chuva
Corrigiria dizendo que a armação de varetas móveis não tem necessariamente de ser coberta de pano.

C- Porque raio é que se insiste em meter guardas chuvas molhados nos caixotes do lixo? Porque estão molhados? Vejamos o que significa água.

1.
líquido incolor e transparente, insípido e inodoro, composto de hidrogénio e oxigénio, de fórmula química H2O
2.
líquido semelhante a este ou em que este predomina
3.
hidrosfera
4.
chuva
5.
secreção de natureza orgânica, como o suor, a saliva, as lágrimas, etc.
6.
infusão, caldo, cozimento
7.
vertente de um telhado
8.
limpidez das pedras preciosas


Parece-me que água é bastante diferente de lixo. Com a agravante de, por via da cobertura do guarda-chuva estar molhada, o lixo aderir. Então aí sim, o guarda-chuva estará coberto de lixo e só deverá ser colocado em caixotes do lixo.

O que nós fazemos para ter razão.



domingo, 6 de julho de 2008

Esta casa acredita que mais vale ter jornais e não ter governo que ter governo e não ter jornais

"The basis of our governments being the opinion of the people, the very first object should be to keep that right; and were it left to me to decide whether we should have a government without newspapers or newspapers without a government, I should not hesitate a moment to prefer the latter. But I should mean that every man should receive those papers and be capable of reading them." Thomas Jefferson a Edward Carrington, 1787.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

a (in)decision 2008 e a oilpac

Não é propriamente um discurso, mas dá para dar umas boas gargalhadas... infelizmente por motivos não tão sorridentes.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Demonstações de Afecto

"Uma escola de Mesa, estado norte-americano do Arizona, decidiu proibir demonstrações públicas de afecto entre os seus alunos, nomeadamente beijos na boca e abraços que durem mais de dois segundos. 
Segundo a estação de televisão KPHO Phoenix, dezenas de alunos decidiram protestar, na passada sexta-feira, contra a decisão que já levou inclusivamente à suspensão de uma rapariga de 14 anos. 
«Acho ridículo», disse Chelsea Branham, punida por abraçar um amigo depois das aulas. «O abraço não teve qualquer significado maior. Eu não estava a beijá-lo, nem nada disso», reclamou. 
Os alunos acabaram por fazer o seu protesto de forma bem original e apropriada à ocasião. Durante 20 minutos trocaram abraços fortes entre si, numa atitude que visou demonstrar que o gesto não contém quaisquer conotações sexuais."


Amar e ser amado?

As demonstrações de afecto são uma questão controversa num mundo globalizado em que se cruzam diferentes concepções sobre o tema. Em Portugal, dificilmente se proibiriam os beijos ou os abraços em estabelecimentos de ensino, mas isso é porque somos calorosos nas recepções e nas despedidas. Miguel Esteves Cardoso falava de como os portugueses se despedem como se fossem partir para "mares nunca antes navegados", como se tivessem voltado da sua oceânica sepultura.

Expressarmos as nossas emoções, os nossos afectos [e desafectos?] através de gestos socialmente convencionados para o efeito é algo positivo, ou negativo? Será que o ideal humano está nos EMO's ou o Mr. Spock? Devemos ser frios como os alemães e distantes como os japoneses, ou calorosos como os russos e sorridentes como os sul-coreanos?

Que defende esta casa?

terça-feira, 1 de julho de 2008

À Guerra

(Acho que começou a chover. Calei o Seu Jorge e ele deu lugar aos Manowar.)

Já muito se falou de violência neste blog no entanto sem nunca se tocar a violência última: fogo, explosão, aço, suor e sangue – a guerra.
Revia há dias Platoon de Oliver Stone, e não deixava de pensar “como pode algo tão belo emanar de algo tão feio?”. Terá afinal a guerra algo de belo?
Há tempos discutia com um amigo se seria a guerra o “catalisador óptimo” das verdadeiras virtudes do Homem. Afinal, em que outra circunstância será de tal forma determinante a destreza e força física e intelectual?
Surgiu-me depois nova questão. Será a guerra o único acto diplomático verdadeiramente eficaz? Afinal, nenhum outro acto diplomático produz tão evidentes consequências (não apenas juridicas). Nenhum outro acto diplomático é tão perceptível às populações como uma declaração de guerra ou trégua. Nenhum outro acto diplomático deixa tão relevantes marcas na história mundial, ou na do mais ínfimo povo.
Enfim, quando tratando divergências diplomáticas, será a guerra a opção a seguir depois da diplomacia, ou será a guerra o último acto diplomático a seguir?

(Parou de chover. Manowar não é fixe, vou voltar ao Seu Jorge.)

Do Eu para o Vós nasce o Nós.

E nascendo o Nós, todos fiquemos a conhecer a breve novela que passo a narrar.

Um grupo de 3 raparigas quase que caminha na minha direcção, sentando-se ao meu lado. Raparigas talvez de 11,12 anos. Momentos depois, aproxima-se um outro grupo de raparigas e de um rapazito, com as raparigas a rirem-se e o rapaz com um ar profundamente tímido. Cá vai o diálogo:
- Ele diz que não é virgem. Ah ah ah [diz a rapariga que comanda as hostes, quase inebriada por poder contar tal às restantes. Convém explicar a fisionomia do rapazote: cabelo loiro aos caracóis, ar quase angelical, daqueles que quase temos a certeza que em casamentos e baptizados é vestido de marinheiro pelos pais. As raparigas riem-se todas. Algumas, mais tímidas, apenas esboçam um sorriso, não podendo ficar atrás das restantes]
Aí, a jovem comandante revela quase em surdina ao rapaz:
- Virgem é que nunca praticaste sexo...
O jovem, agora tudo percebendo, responde com o ar mais cândido do mundo:
- Ah...então eu não sou virgem.
E, pouco depois, acrescenta,
- Sou sagitário.
Aí, a jovem comandante, findos breves segundos, e temendo a deserção das tropas, volta ao ataque:
- Devias era ser balança, por isso é que és assim redondo! ahahah!
Volta a suceder um riso colectivo, a várias vozes e inensidades. Uma outra rapariga acrescenta...
- ai, vocês deviam era namorar...

A Universidade Júnior: esse belo mosaico onde o amor, a amizade, a vida e o conhecimento se cruzam...