sexta-feira, 15 de agosto de 2008

discrepâncias de tons: a palavra e a condenação falaciosa

Após ler o texto do Tiago ocorreu-me pôr uma resposta pequena na caixa de comentários suficientemente simples para me desmarcar de qualquer crítica negativa feita à minha Augusta Personagem. De facto, meu caro Tiago, pensava escrever-te algo assim:

"manuel disse:
tns razão Tiago, ms cmpreendst-me mal páh. eu cncrdo total/ cntg."

No entanto, o Tiago não merece isto. Não merece, ponto final. Acordar, viver a sua sexta-feira, abrir o blogue para descobrir isto, é horrível. De facto Tiago, mantenho esta discussão por duas razões. Discordo contigo pela totalidade do teu texto por o achar amputado, e discordo contigo porque acho que mereces esta prova de respeito, este desafio lançado, a de protegeres a tua palavra pela nobre arte do debate.

E assim começo o meu verdadeiro texto. O Tiago analisa o eterno confronto sofista/filósofo já vindo da Grécia Antiga. Todo o seu texto está ligado, por isso, a uma confrontação dualista entre Mensagem e Palavra. Assim, quando o meu texto provoca ou assume um tom agressivo (por muito que eu me defenda desta acusação injusta, o que provarei de imediato) ele vê uma profanação do seu ideal filosófico, da sua estoicidade de discurso. De facto, a beleza do argumento, para o Tiago, ficará prendida ao uso de uma mensagem sublime e racional, e o uso da palavra será portanto algo usado para o bem da transmição da mensagem, e deverá adaptar-se para os usos da mesma. Daí a menção de um político que falasse permanentemente para as massas.
Assim, estas duas características, a Mensagem e a Palavra, havendo uma submetida a outra, aliadas nesta ordem preconizada pelo meu amigo Tiago, tornam-se benéficas, cordiais, civilizadas, afastadas da ofensa. Sim, a ofensa. Essa ofensa que o Tiago viu no meu texto, que ele sabe não existir. E porquê? Porque ele mesmo usou da expressão "a raiar a ofensa".
Pois bem Tiago, eu venho mostrar-te que, se a Palavra é uma arma, a Mensagem é a assassina. Quantas vezes assim aconteceu? Contam-se inúmeras. Quantas vezes os sofistas raiaram a perfeição filosófica da verdade, e os filósofos raiaram a sociopatia de um homicida? Contam-se inúmeras. Factos, meu caro Watson, factos.
O que é que então separa Aristóteles de Alcibíades? A Mensagem versus a Palavra? Só?
Isso torna, claro, o meu texto ofensivo.
Eu apresento ao Tiago, agora mesmo, um terceiro elemento. Esse elemento é a Falácia. A falácia, segundo o Tiago, nascerá da má compreensão de um texto, do desvio da sua original mensagem, pelo uso do tom. A falácia está, no entanto, imiscuída já no silogismo realizado no texto do autor.
É a falácia que torna um homem capaz de agir de forma idiota, ou embaraçosa. A falácia envolve um erro logo à partida. De facto um argumento falacioso nunca se mantém. É que a falácia é como a mentira, volta atrás e pontapeia o autor nas impudezas.
E ser idiota não é coisa má. Ser idiota, palavra grega de origem, quer só dizer "alheio às opiniões/ideias dos outros".
Portanto, em que é que a falácia influencia verdadeiramente o discurso, tornando-a parte desta Santa Trindade do Debate, o Pai Mensagem, o Filho Palavra, e o Espírito Falácia?
Veremos um exemplo de falácia informal:
"CZAr Putin... Manel vai dormir.. um monarquico a falar assim...!!" esta relíquia, que está na caixa de comentários do meu prévio texto, contém duas falácias. Uma, a "ad hominem", consiste num ataque pessoal, numa impossibilitação da defesa de uma posição pela desacreditação da pessoa que rejeita a conclusão adversária. Isto, e sei que o Tiago vai concordar, é uma falácia.
É óbvio que, como todas as falácias, é uma prova do alheamento que o Homem mostra das opiniões/ideias de um outro. Isto acontece, claro, naturalmente em todos os homens e é imprevisível. Por muita filosofia que estudemos, tanto eu como o Tiago estamos igualmente sujeitos a ela. Eu usei-a, mais que uma vez e culpo-me por isso, com o Francisco Noronha, por exemplo.
Vês agora, Tiago, como a Palavra e a Mensagem não estão sozinhas? Precisam do Silogismo! Para limpar a Falácia! Esta é a minha Trindade da argumentação. Porque retirar a ideia da Mensagem é impossível sem a Palavra, retirar interesse da palavra sem uma Mensagem é impossível sem o retórica, por muito pequena que seja, mas o que distingue a capacidade de um homem de intelecto livre de um escravo é a de se afastar das falácias de argumentação.
Outro erro de argumentação, eu não diria bem falácia, mas é, de certa maneira, é a indução desta mesma frase: "CZAr Putin... Manel vai dormir.. um monarquico a falar assim...!!" Assim, esta escolha de palavras indica que eu defendo o Czarismo russo por ser um Monárquico português. Assim, no seguimento desta indução (que é desde já um seguimento falacioso, mas já que nos enterramos no pântano do alheamento, vamos em frente) Fernando Pessoa era Czarista, Agostinho da Silva adoraria Putin, o próprio arquitecto Ribeiro Telles, do alto do seu ambientalismo, daria tudo por uma tacadas de golfe com o líder dos eslavos do norte. Mesmo odiando aquele bom senhor o golfe.
Como tu vês, Tiago, isto é intolerável. Ou seria, não fosse a intolerância outra falácia.
Outro erro, outro argumento informal, é a má leitura, ou a interpretação falaciosa. De facto, eu nunca disse que o Duarte Canotilho era comunista. Nem tu Tiago, eu sei. Mas aqui vai: "Felizmente k o manel n me conhece... caso contrario podia continuar a dizer falacias sobre as minhas concepçoes de sociedade!!!" temos aqui, felizmente, já uma menção à falácia. Ora bem, analisemos o raciocínio:
O Manuel comparou o meu sentimento de inferioridade ao dos comunistas.
As comparações são todas generalizadas.
:. O Manuel disse que eu sou comunista.
Este silogismo tem uns quantos erros de premissas maiores e menores que me cansa dizer. O próprio silogismo está horrivelmente mal feito, mas servia apenas para dar seguimento à ideia.
Outra falácia(e perdoem-me os leitores se me torno enfadonho, é tudo culpa do peso da minha coroa, oferecida pelo meu amigo Putin, que já me ofereceu um principado em Tonguska) é a da generalização. Até diria que é um falso dilema. De facto, o Tiago, aparentemente um pró-USA (não deves ter mais nada que fazer, caro Tiago, sem ser tornar-te pró de uma potência mundial muito necessitada de miminhos dos seus paladinos, ao que parece), apoiou, como a administração Bush, a intervenção na política interna iraquiana. Logo, tem de concordar com a invasão da Geórgia. És obrigado a isso Tiago, senão eu terei de me responsabilizar por ir até tua casa e cortar-te a barba. Com uma Gillette das velhinhas!
Voltando então ao teu texto.
Não, Tiago, não posso concordar contigo. Mais do que o tom, o Conteúdo da Palavra é o verdadeiro e nuclear elemento. Terás que deixar o tom da Palavra de acordo com a personalidade do orador. Terás de contrapor com o teu arcaboiço moral, isto dito sem sarcasmo, e eu peço-te que, como colega, como amigo, o uses comigo se eu te ofender quando usar ou um tom indigno para contigo, ou que use argumentos obviamente falaciosos. Mas o tom, isso, nunca será um preceito da mensagem. É algo dependente da aceitação dos receptores, e a eles cabe avaliar. Será a veracidade do Silogismo o grande objectivo de uma Sociedade de Debates. Tudo o resto é vão ou nublado. Deixem aos ouvidos a liberdade de ouvir os berros e gritaria que quiserem, se eles se cansarem dessa venda de feira, é tudo aprendizagem.

Para acrescentar, um argumento que eu não consigo identificar ou como falácia ou como despotismo.
"Para n dizerem k eu sou incoerente nas minhas posiçoes.. eu acho k se um genocido estivesse a ser feito no mexico.. condenaria a russia por se meter la.. tal como condeno os Eua por se estar a meter na zona de inflencia da russia!!!!!!!"
isto escrito pelo Duarte.
Caro Duarte. Se um genocídio estivesse a acontecer no México, eu queria que a Rússia se metesse. E Portugal também. E Espanha. E o Zaire. E o Ruanda. E o Reino da Jordânia, que por ser uma Monarquia, de certo iria atrás de Putin.
E o que é uma zona de influência? A República de Nações (sim, eu a falar de República, HERESIA!) que Kant preconizou é assim tão irrealizável? Estaremos assim submetidos a isso? Grandes países com áreas de influência?
Deixa-me adivinhar... Por os EUA terem áreas de influência, a Rússia também deve ter?

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