Rui Bebiano tem um excelente blogue: a terceira noite. Num post do dia de hoje, aludia a três revistas especializadas. A ver o que refere sobre uma delas:
"Para fechar, o bimensário Manière de Voir, editado pelo Le Monde Diplomatique, preocupa-se na edição de Agosto-Setembro com De Lénine à Poutine: Un siècle russe. Esta será, sem dúvida, a mais controversa das três publicações. Por ser a única que oferece textos centrados num tema cujas ondas de choque permanecem, tanto ao nível das representações de um passado recente como no que diz respeito aos contornos do mundo contemporâneo, plenamente activas. Estes distribuem-se por três partes organizadas cronologicamente: a primeira vai da Revolução de Outubro à resistência perante os nazis, a segunda parte da Guerra Fria e fecha com o aparecimento da perestroika, e a última ocupa-se do tempo preenchido com as presidências de Yeltsin e de Putin. É na primeira parte, centrada nos fundamentos do regime soviético e na perversão do Gulag, que se torna possível detectar os textos mais polémicos. Mas os mais perturbantes são aqueles que revelam a Rússia actual como um território que se mantém perigosamente inflamável."(http://aterceiranoite.wordpress.com/2008/08/18/tres-revistas/)
Admiro o encanto que a Rússia espalha por aí; talvez seja encanto de mãe, que faz com que o filho tudo perdoe com um enigmático sorriso de gratidão por tudo o que lhe foi dado.
E aí, sim, o filho será advogado do diabo (rectius, da mãe), dirá que não houve gulags, ou que os gulags não eram tão maus assim, ou que sempre houve muito pior!, que a URSS não colapsou, mutou-se, que a Rússia é um último baluarte de contrapeso ao poderio norte americano e que, sem ela, ai, sem ela o mundo era uma selva de coca colas e mcdonalds. Como filho temente à mãe, não faz queixinhas para fora, não afirma que afinal na Rússia continuam a haver animais mais iguais do que outros, ou que a democracia não está bem bem bem realizada. E que, se calhar, também no país da mamã o dinheiro é metal perseguido, e alguns papalvos não hesitam em ganhar uns trocos à custa da miséria alheia. Como que no capitalismo selvagem. Coisas esquisitas que o filhote até pensa e não diz.
É tao belo o amor à mae.
I Can't Say No
Há 4 dias
10 comentários:
Pensei em colocar num outro post mas de modo a não fragmentar possíveis comentários decidi colocar aqui.
de José Pacheco Pereira.
"A Rússia é muito diferente. Nenhum investidor estrangeiro sério, que não viva de economias predadoras como as que se criam à volta do petróleo, do gás natural e dos recursos mineiros, investe na Rússia. Eles sabem que as regras são ambíguas, a legislação presta-se para tudo, o Estado, a burocracia, central e regional, faz literalmente o que quer, pode mandar prender um novo-rico porque ele se tornou incómodo para o poder político e deixar outro à solta a ganhar biliões, exactamente nas mesmas circunstâncias de fuga aos impostos ou irregularidades financeiras. A discricionariedade política e judicial é total, os controlos dos aparelhos militares, policiais e da justiça são políticos e tudo mergulha num ambiente de corrupção generalizada. Apesar dos enormes ganhos recentes com os combustíveis, a população russa pouco beneficiou da hiper-riqueza dos novos-ricos russos aliados ao poder e das máfias, por sua vez também aliadas ao poder. A Rússia está longe de ter conhecido a verdadeira revolução produtiva da China, e cidades, vilas, regiões inteiras permanecem num limbo de pobreza e mediocridade agravando a deterioração de tudo: casas, linhas férreas, fábricas, serviços públicos, estradas, aeroportos, etc. Saia-se de Moscovo, do centro de Moscovo ou de São Petersburgo, e é como se o cinzento do comunismo continuasse a dominar populações resignadas, com líderes violentos e corruptos."
"O poder político central permanece autocrático e capaz de tudo para se defender. Ieltsin e a família dividiram os espólios de matérias-primas por meia dúzia de amigos e fiéis, Putin chegou ao poder na base de uma história nunca esclarecida de explosões terroristas "tchetchenas", que envolvia os serviços secretos que ele dirigia, e que lhe serviu de pretexto para uma operação militar que, se o Tribunal Penal Internacional fosse o que diz ser, implicaria levá-lo ao banco dos réus de Haia como criminoso de guerra. Putin restaurou o nacionalismo russo a partir da manipulação da genuína sensação de humilhação que muitos russos partilhavam ao ver o seu país perder todo o poder que tinha com a queda do comunismo, e tornou-o na base de uma política externa pouco diferente da soviética, cada vez com mais crescente agressividade, dentro e fora das fronteiras."
"O que se passa na Geórgia deveria fazer soar o mais clamoroso sinal de alarme, não só pelo que significa de per si, como pelo facto de deitar uma luz retrospectiva sobre os erros sucessivos cometidos pelos EUA e pela UE nos Balcãs. O que os russos estão a dizer é: "Vocês humilharam-nos nos Balcãs, nós mandamos no Cáucaso." Mas dizem mais: "Em toda a área das antigas repúblicas da URSS que se tornaram independentes, assim como do Pacto de Varsóvia, nós temos um droit de regard maximalista e reclamamos o direito de 'protecção' das populações russas (quase sempre emigradas para aquelas regiões na sequência de políticas soviéticas de 'russificação' das zonas onde havia mais forte nacionalismo anti-russo, como aconteceu nos países bálticos) que implica a intervenção militar em países soberanos." O resultado é que vários países nas fronteiras da Rússia têm uma soberania limitada, a Ucrânia, a Moldova, a Geórgia, mesmo os países bálticos têm que aceitar enclaves protegidos por tropas russas, constituindo "países" que ninguém reconhece (na Moldova e na Geórgia por exemplo), ou aceitar direitos de passagem, estacionamento e bases militares que limitam a soberania (como acontece na Ucrânia e nos bálticos). Mais ainda: não tenham veleidades de ser soberanos ao ponto de quererem entrar em alianças como a OTAN, porque isso é inaceitável pela Rússia."
"Balcãs e Cáucaso, como sempre, vão continuar a ser o sítio onde se medem as forças. E uma nova Rússia autocrática e agressiva mostrou o seu poder, a UE e os EUA mostraram o seu declínio. Bem-vindos ao século XXI."
http://abrupto.blogspot.com/2008/08/emergncia-de-novas-potncias-no-meio-da.html
OHHH Tiago... A mandar indirectas... a certas pessoas k admiram a HISTORIA da russia!!!
Todos os paises tem os seus podres! Inclusive os STATES! Eu admiro a russia por mt coisa k fez... mas condeno a por mt coisa.. é isso k faz a diferença entre admiraçao e cegueira!
Mas ainda há quem consiga defender ou admirar a Rússia?
Aquele velho ditado "de boas intenções está o inferno cheio" não foi criado para a Rússia?
É um bocado como continuar a comprar a camisola do Mantorras
O tanto será que não foi...
Claro k essa é uma piada... so pode ser n é Hugo!!
Da mm maneira k tu admiras(acho eu) um pais com um lider k é um NABO como os EUA e k tem uma Politica de disparo primeiro faço perguntas depois... Eu admiro a RUssia k tu consideras uma cena toda ... bom... n digo mais!
Não...também não admiro os EUA e muito menos Bush...
Mas tenho que ter ídolos é?
Tenho que ser cego por algum partido, clube ou país?
Não vejo nenhum dos dois como países ideais, apenas como países poderosos...
Mas porventura queres comparar a Rússia actual com os EUA actuais?
Os EUA tem uma política externa com a qual nada concordo, tem falhas internas, que são estritamente do foro das opções políticas...
Estado Direito democrático...
O texto de Pacheco Pereira, se bem que num tom melodramático, poderá elucidar-te sobre esse teu amado país...
Esses filmes que viste, essa opção revoltada e anti-sistema que tomas, está toldar-te o bom senso... admitir que não necessitamx de ser todos seguidores do capitalismo, uma opção comunista ou socialista, vai mais além do que ser adepto da Rússia, que neste momento é simplesmente ridículo (não Rússia conceito, mas sim Rússia realidade)...
Deixo-te com uma questão, o mundo era melhor se fosse toda uma enorme Rússia?
Canotilho, o meu texto estava escrito em tom geral e abstracto. Ou seja, aplica-se a todos os bons sujeitos que nele se revejam. Devo conhecer muito poucas pessoas que tenham uma visão da russia como a que referi. Mas, sem dúvida, estás à cabeça. Numa bela operação de subsunção sim, és um dos destinatários.
Já agora pergunto: o que é que admiras na história da Rússia?
(Hugo, concordo contigo. E é mesmo como continuar a comprar a camisolinha do Mantorras. E, já agora, também subscrevo a pergunta que fazes ao canotilho)
Mais uma voz.
Tiago Barbosa Ribeiro, http://kontratempos.blogspot.com/2008/08/as-ameaas-das-estepes.html#comments
"AS AMEAÇAS DAS ESTEPES. A Rússia ameaça a NATO. A Rússia ameaça a Ucrânia. A Rússia ameaça as relações com os EUA. A Rússia ameaçou cortar os fornecimentos energéticos a parte da Europa. A Rússia utiliza o cínico argumento do «humanitarismo armado» para canibalizar a Geórgia e ameaça quem ataque as suas, imagine-se, «forças de paz». A Rússia ameaça, sem mais: são assim, desde a consolidação da ordem de Putin, quase todas as notícias que chegam do antigo centro do bloco comunista. É certo que o precedente do Kosovo, o aventureirismo do presidente Georgiano, a tibieza europeia e a «democratização» iraquiana propulsionaram as mais recentes ameaças russas, mas exige-se mais da comunidade internacional na reacção a essa conjugação de força bruta, sobretudo por parte de quem viveu durante décadas sob a ameaça soviética na Europa ocidental e quem de facto experienciou a sua barbárie na Europa de Leste.
A Rússia passou directamente do totalitarismo comunista para o totalitarismo das máfias, da corrupção, do autoritarismo de Estado e de clientelas do antigo PCUS que rapidamente foram absorvidas pela «abertura» pós-soviética. Todos os sinistros membros do aparelho repressivo comunista fortaleceram o seu poder nos escombros da URSS à sombra da recuperação da simbólica imperial da Rússia -- um país-continente que nunca existiu sem ela --, da exploração dos seus imensos recursos naturais, da hostilização das suas antigas «democracias populares» e da dependência energética europeia. Aos poucos, isso tem vindo a desenhar um lento mas sólido guião de uma Rússia militarizada que necessita tanto das mundivisões da Guerra Fria quanto o resto do mundo não precisa delas.(...)"
Mais uma voz.
Tiago Barbosa Ribeiro, http://kontratempos.blogspot.com/2008/08/as-ameaas-das-estepes.html#comments
"AS AMEAÇAS DAS ESTEPES. A Rússia ameaça a NATO. A Rússia ameaça a Ucrânia. A Rússia ameaça as relações com os EUA. A Rússia ameaçou cortar os fornecimentos energéticos a parte da Europa. A Rússia utiliza o cínico argumento do «humanitarismo armado» para canibalizar a Geórgia e ameaça quem ataque as suas, imagine-se, «forças de paz». A Rússia ameaça, sem mais: são assim, desde a consolidação da ordem de Putin, quase todas as notícias que chegam do antigo centro do bloco comunista. É certo que o precedente do Kosovo, o aventureirismo do presidente Georgiano, a tibieza europeia e a «democratização» iraquiana propulsionaram as mais recentes ameaças russas, mas exige-se mais da comunidade internacional na reacção a essa conjugação de força bruta, sobretudo por parte de quem viveu durante décadas sob a ameaça soviética na Europa ocidental e quem de facto experienciou a sua barbárie na Europa de Leste.
A Rússia passou directamente do totalitarismo comunista para o totalitarismo das máfias, da corrupção, do autoritarismo de Estado e de clientelas do antigo PCUS que rapidamente foram absorvidas pela «abertura» pós-soviética. Todos os sinistros membros do aparelho repressivo comunista fortaleceram o seu poder nos escombros da URSS à sombra da recuperação da simbólica imperial da Rússia -- um país-continente que nunca existiu sem ela --, da exploração dos seus imensos recursos naturais, da hostilização das suas antigas «democracias populares» e da dependência energética europeia. Aos poucos, isso tem vindo a desenhar um lento mas sólido guião de uma Rússia militarizada que necessita tanto das mundivisões da Guerra Fria quanto o resto do mundo não precisa delas.(...)"
Pessoal ... eu escrevi tudo o que eu admirava na historia da russia mas... o texto era demasiado grande :P Claro que Resumindo posso dizer que é um pais de grandes contrastes na sua historia como nao ha nenhum no mundo
Tiveram o muito bom como aquando do pedro o grande e da Catarina e tiveram o muito mau como aquando do Estaline ou do Bresnev.
Para alem disso foi um pais que influenciou muito a historia do seculo XX... independentemente da posiçao que se tenha...
Acho que a ideia que tenho passado é que queria um imperio so Russia... nao é isso. Gosto da historia e da russia por estas e outras razoes apresentadas... MAS o mundo nao seria bom so como russia ou so como EUA ou so como europa(e isto ainda que seja a opiniao politicamente correcta... é a minha) Um mundo so como russia poderia ter tido consequencias muito graves durante o estalinismo iria ser um "1984" e nao so...
Da mesma maneira que se o mundo fosse Eua apenas ... durante a administraçao bush ou durante a administraçao Truman(que keria bombardear a Uniao sovietica com bombas atomicas) o mundo estaria tambem muito mal
Acho que um equilbrio é necessario.. e a falta de uma potencia que se afirme ao nivel dos estados unidos actualmente é mau... porque se eles quiserem fazem o que querem
De todo o modo, parece que é claro que o que admiras na russia é anterior à revolução de 1917. É o mesmo que adorar a turquia por se gostar do império otomano, os EUA pelo que eram antes da 1ª GM (muito diferentes. basta pensar que a sociedade de massas nasce nos loucos anos 20; ou seja, os rótulos que se colam aos EUA na altura ainda nao existiam) ou Portugal pela sua tradição monárquica. Respeito a posição de pendor essencialmente historicista (uma visão encantada que aprecio). O que já é mais dificil e tragar é continuares a defender tanto a russia quando ela hoje é... o que já está sublimemente expresso nos posts de pacheco pereira e tiago barbosa ribeiro. É isso que não percebo...
De todo o modo, um mundo só de Europa ou EUA seria, pelo menos, uma democracia. Tal vale o que vale, mas ainda vale muito.
Quanto ao equilibrio, prefiro um mundo inteiro hegemónico em que o homem valha alguma coisa que um equilibrio entre potencias em que de um lado há tendencialmente desrespeito ao individuo e noutro respeito. Só me basto com esta possibilidade.
Ah...e neste momento parece-me que a China está ao nível dos EUA, ainda que com a mesma tenhamos menos afinidade cultural e, por conseguinte, menos informação.
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