Foguetes e bailarinas

Ilustres e outros que nem tanto afirmam que a cerimónia de abertura de Pequim'08 mostrou a unidade do mundo, sendo uma vera ode à humanidade, um novo exercício que augura tempos de fortuna e de esperança. Uma Maravilhosa cerimónia.
Artifícios do espectáculo: nem que por momentos, o homem prefere conscienciosamente fazer por esquecer que existe censura, julgamentos (?) sumários, condições desumanas de trabalho,... Não, não vende a alma por muito: apenas pede um espectáculo de quatro horas, de um palco aberto para o mundo, com uns quantos foguetes e bailarinas. E ginastas, cantorias e coreografias. Uma Magna encenação
É a alma humana e o vil metal. Que, claro está, ainda hoje consegue limpar a honra e a imagem de um país face ao mundo, comprar o aplauso e, pior, comprar consciências de terceiros. No bom comunismo chinês (ou que assim diz ser): baixo preço, muito lucro.

Pior não é que o vulgo espectador se deslumbre; o mais aberrante é que um cronista de jornal de referência o afirme (como João Lopes no DN), já para não referir os doutos jornalistas desportivos.

É curioso que tanto tempo depois tais opinion-makers ou, mais subtilmente, várias peças jornalísticas que se dizem objectivas - com enorme poder de conformação da opinião pública -, continuam a desconhecer o que é propaganda. Propaganda. Isso para que serviram os Jogos Olímpicos de Berlim - 1936 - e de Moscovo - 1980. Nesse tempo o deslumbramento não foi tanto: faltou o maior investimento em foguetinhos.

Bem, enquanto houver festa a gente entretém-se, dança e aproveita. E esqueçe os problemas da vida. Como a China o sabe; como os convivas o fazem por ignorar.