1. Desta vez não se fala da China ter sido o país escolhido para organizar os JO, nem sobre a cerimónia de abertura chinesa, nem, sequer, sobre os JO como um possível marco da afirmação daquele Estado (dois sistemas) como actor central na sociedade internacional. Não, desta vez a China é quase lateral, apenas o local onde decorrem as provas destes JO. No fundo, falam-se dos JO como devem ser tratados: um acontecimento desportivo, onde homens e mulheres lutam pelo melhor resultado possível. E, dentro desse pequeno mundo, dos nossos pequenos heróis que para lá partiram de louros ostentando.
2. É fácil demoniza-los; é fácil dizer que são todos falhados (excepto a Vanessa!), é fácil, ainda mais fácil, culpabiliza-los. Mas, como sabemos, e como alguém em tempos o disse, se a vitória tem muitos pais, a derrota é órfã. De facto assim o é: obtivessem os nossos atletas excelentes resultados e os mesmos dever-se-iam aos 15 milhões de euros do governo (magnífico incentivo), ao Comité Olímpico (soberbo profissionalismo), ao distinto trabalho das Federações (que evolução recente!) e, last and obviously the least, a um pequeno contributo dos portugas. Mas a história assim não foi, e logo foram estes que falharam, que desperdiçaram fundos públicos, mais não sendo que ingratos, preguiçosos e doentes que não honram a bandeira.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Mesmo num país de navegadores que sente esse forte apelo do Atlântico…
3. Por cá fazemos as nossas abluções. Atribuímos uma bolsa, limpámos um pecado; atribuímos um subsídio, outro pecado está limpo; pomos umas bandeirinhas à janela e, oh, que mais apoio poderiam aqueles querer? (mais um pecadinho desaparecido). Santificamo-nos, idealizamo-nos, imunizamo-nos a qualquer imputação de um falhanço e, sim, lavamos as mãos como Pilatos. Seja como for, a culpa não é nossa, nunca será nossa.
4. Mas a vida não é tão idílica. Não estamos imunes ao pecado da vaidade. Nem ao da avareza. Nem ao da gula. Afinal, queremos colher o fruto da árvore não plantada… Almoçar esperanças e sonhos não enche o papo.
5. É triste que um atleta para receber um bolsa de 1200 euros tenha de ser um dos três melhores do mundo (uma ninharia, de resto); é triste que Obikwelu tenha de treinar em Espanha; é triste que a pista que recebeu os mundiais de pista coberta de atletismo no Pavilhão Atlântico tenha estado anos guardada num armazém (não sei se ainda estará) apesar da carestia de equipamentos desportivos; é triste ouvir, há cerca de quatro anos, um atleta a dizer que tinha de treinar de sapatilhas rotas (?); é triste, continua a ser muito triste (daria um bom fado), que não haja estruturas para os atletas de natação poderem alcançar um nível mundial. Ah, e é triste que a Naide Gomes não possa falhar, que tenha sido uma desilusão o quarto lugar de Gustavo Lima, que a ninguém anime o sétimo de Ana Hormigo no judo,…
6. Acontece que o desporto, hoje, é de alta competição. Se queremos medalhas, não bastam condições razoáveis, boas ou boazinhas. Só a excelência serve. Nos atletas, nos treinadores, nos directores, nos titulares dos órgãos políticos.
7. Parece que continuamos a querer um D. Sebastião. Pode é chamar-se Nelson, ou Telma, ou Vanessa, ou Naide, ou Francis. Tem é de surgir miraculosamente, ser alheio ao nosso trabalho e garantir-nos mais uns segundos de alheamento. Não é que venha do nevoeiro, mas ouvi dizer que Pequim tem uma cortina de fumo e também serve…
8. Alguns serão certamente preguiçosos, outros incompetentes. Não o nego. Apenas afirmo que, se assim o for, mais não é do que o reflexo do nosso sistema desportivo. Ninguém nasce atleta nem campeão; todos são introduzidos e moldados na prática desportiva por terceiros. E, simplesmente, uma águia num galinheiro, ainda que o queira, não voará.
filhos da Duna
Há 3 dias
4 comentários:
Tiago eu acho k se calkhar oteu texto em determinadas partes é muito bondoso com os atletas portugueses. Claro k tambem cncordo com grande parte dele.. mas discordo de outra parte.
1.Concordo plenamente que os incentivos a atletas de alta competiçao sao uma treta... Comparativamente com outros paises é verdeade k portugal peca por falta de apoio. É verdade que se queremos medalhas implica que tenhamos mais investimento
2. Não considero uma desilusão alguns resultados. O Gustavo lima foi sempre um dos meus atletas favoritos, e é verdade que é pena ele nao ter tido uma medalha mas ... não é uma desilusao! Este é talvez o problema... passa-se de Bestial a besta num instante, critica-se demais e demais aquilo que está razoavelmente bem... dizem k so se la vai desperdiçar o dinheiro dos impostos....! É um insulto ao trabalho arduo dos atletas. Claro que a vanessa é que é a heroina.. e talvez seja tambem o nelson evora porque pode ganhar uma medalha e quem sabe o emanuel silva? Se nao há medalhas .. pronto entao nao é bom atleta... é pena k o povo portugues pense assim
3. Isto nao implica que n haja quem va passear aos jogos... Vejamos.. O nosso lançador do peso.. que diz que "de manha so na caminha" ou o atleta dos 200m que diz que "fiquei estupfacto com tanta gente no estadio"... ou atletas a dizer como a Jessica Augusto que disse nao queria correr os 5000m porque a concorrencia era forte!! por favor isto é k é gozar com as pessoas.
Ja a naide... ou o nosso representante no tiro com pistola... estes foram gozar conosco eles sao ambos campeoes mundiais da modalidade... espera-se medalhas, mas se nao.. entao pelo menos uma ida à final. Quem viu os 3 saltos da naide vê que ela esta a saltar como uma principiante... 2 saltos nulos!! ou o do tiro que fez um 6.. va la o k nao é admissivel é que atletas como estes que sao de alta competiçao e que sao considerados muito muito bons façam o que estes fizeram. Pelo menos uma ida à final
4.Ja diferente é o Obikuelo k tem o joelho lesionado.. e mt fez ele.. ou a telma que foi claramente prejudicada no combate com a chinesa.
5. Não interessa so as medalhas.. quem nao da valor aos diplomas olimpicos que com muito esforço foram adquiridos entao se calhar nao percebe o esforço dos atletas.. e o espirito dos Jogos olimpicos
Canotilho, concordo em quase tudo contigo. Mais precisamente, concordo nos pontos 1,2,4 e 5. Não no três.
Pelas seguintes razões:
apenas dois atletas disseram barbaridades. A comitiva tinha algumas dezenas. Admito que haja mais atletas "incompetentes", mas não me parece que seja a maioria. E, ainda que o seja, tenho uma ressalva no ponto 8 do meu texto.
Quanto à naide, não acredito que tenha sido outra coisa que não...falhar. Parece-me, isso sim, que trabalhou imenso (prova disso foi uma excelente marca que obteve há duas semanas). E da mesma forma que um atleta mediano às vezes supera-se, surpreendendo, o inverso também acontece. Um atirador norte americano liderava um concurso de tiro e falhou o ultimo, obtendo 4. Em atenas, também no ultimo tiro, disparou ao alvo errado. E é um excelente atleta. Fernando Mamede dominava nos 10 000m e sempre que chegava a uma grande competição soçobrava. Às vezes esquecemos que estamos perante homens e mulheres, e não máquinas. Se um grande gestor também de vez em quando comete um flop, porque nao um atleta?
E quanto ao ponto 5 acrescentava algo... também muito nos honram feitos como o do mesatenista português que bateu um tunisino na 1ª eliminatória ou do arnaldo abrantes que, simplesmente, se qualificou JO. Pequenas vitórias sempre esquecidas. Abraço.
Com essa brincadeira o americano ficou das duas vezes fora das medalhas...por causa de um tiro.
AH gande Nelson.... Grande medalhado
Grande atleta... e também simbolo de esforço e dedicaçao
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