domingo, 17 de agosto de 2008

um país, dois sistemas. uma cerimónia, duas crianças?

Não vi a abertura dos Jogos Olímpicos – não aprecio a propaganda das ditaduras. Um amigo comentou-me avisadamente: “Em escravatura até é possível fazer pirâmides à força de braços.”
Quem viu recorda uma menina que cantou divinamente. Agora soube-se que o regime ignóbil que oprime a China esteve à altura dos seus pergaminhos: a menina das imagens, Lin, não era a que cantava – esta, Yang, foi afastada dos olhos do público porque a julgaram feia. A menina de sete anos viu uma outra de nove substituí-la e enternecer o público com uma voz roubada em nome do “interesse nacional”.
Os dirigentes chineses não percebem que os anjos nunca são feios. Mas o resto das pessoas já deveria saber que as ditaduras, essas sim, são sempre horripilantes.

Por Carlos Abreu Amorim, in Blasfémias.

5 comentários:

Hugo disse...

Não lhe fazia mal nenhum sentar-se e deixar de pensar nos porquês de tudo e...usufruir de um grande espectáculo!

Goste-se ou não(e não tem porque não se gostar, porque divirto-me à brava a ver os JO e não perco 10 seg qd os tou a ver a pensar em politica, pk senao corria o risco de não ver o Usain Bolt)foi a maior cerimónia de abertura e são os melhores jogos olímpicos...

Condenei, e ainda nao mudei de ideias, a escolha da China, principalmente como adepto fervoroso dos JO...por saber que as atenções seriam desviadas...Um bocado como querer ler o jornal o jogo e só ver apito dourado por todo lado, enquanto eu quero é ler se o C.Rodriguez fez um bom jogo ou não(que ontem não fez)...Condenei porque leio uma carta olímpica e custa-me vê.lx na China...e por mtas outras razoes que nao cabem neste comentário...
Mas enfim...agora que já lá estão...Usufruam do espectaculo...

Já agora...quantas vezes voces acham que isso acontece quando as meninas cantam o hino americano no Super Bowl ou nos jogos da NBA...Quantas meninas feias voces veem nesses espectaculos? Só as meninas bonitas é que sabem cantar nos EUA?
Ou em tantos espectaculos em todo mundo...Se calhar por conhecer um bocadinho o mundo do espectaculo não me choca minimamente...

Acho que às vezes é mesmo o gosto de pegar em alguma coisa e fazer de uma bagatela um assunto nacional...

Ary disse...

Hugo,

obrigado por poupares o meu teclado.

Abraço

TR disse...

Hugo, há um ponto em que acho que tens inteira razao: no mundo do espectáculo bastante do que a China fez é perfeitamente corrente. Aliás, parece-me que aqui os críticos ocidentais são um pouco hipócritas. É no "nosso" mundo, se assim o podemos designar, que é corrente que cantoras cantem em playback, que se recorra a castings para a interpretação de qualquer papel, que jovens de 25 anos façam o papel(em novelas) de jovens de 18,... Há muitas críticas a choverem, mas há também abissais telhados de vidro do lado de cá. Somos a sociedade que aplaude a actriz que representa o papel de um homem (em vez de se recorrer a um actor), que aplaude igualmente o jovem actor que faz de velho, o magro que faz de gordo, que torna qualquer coisa num espectáculo vendável. Talvez a China tenha aprendido connosco; e, como narciso, talvez o nosso reflexo nos faça afogar (ou sentir que tal vai acontecer). Só que com um nariz não tão belo como isso...

Onde já não posso concordar é que os jogos façam esquecer tudo o resto. Porque se desporto é diferente de política, a política continua sempre, e está sempre na ordem do dia; mas, se os JO são também políticos, então esse ângulo não pode ser escamoteado.

Por meu lado, desfruto do espectáculo, claro está. Principalmente porque a maioria dos atletas que lá está procura mostrar o o seu melhor, sendo altamente injusto denegrir a sua acção por problemas que, em verdade, lhes são alheios.

O que se não deve fazer é esquecer que a China...não deixou de o ser.

Unknown disse...

Por acaso o texto é meu e não do meu amigo João Miranda.
Foi publicado no Correio da Manhã na quinta-feira, dia 14, e no Blasfémias, no dia seguinte.

Ainda assim, obrigado pela referência.

CAA

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

erro meu.
peço muita desculpa. será corrigido de imediato.

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