José Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Soeiro Pereira Gomes, ...; autores esquecidos dos programas de Português, relegados para o baú do que não interessa. Porquê?
Vai-se a memória, vai-se o passado, vai-se o presente.
Quem faz programas anda desfasado da realidade das escolas. Se os professores não estivessem tão magoados com as palavras de Miguel de Sousa Tavares, cá para mim acabavam com "Os Lusíadas" e punham os alunos a estudar o "Equador".
Ainda bem que Camões, ainda que zarolho, continua a mostrar quem é o Poeta.
Eu cheguei a ler no meu 10ºano "A Balada da Praia dos Cães", de José Cardoso Pires, numa iniciativa que dava pelo nome de "Biblioteca de Turma". Mas a que é que se assistia nesta actividade? A uma escolha de livros por parte dos alunos, invariavelmente, das obras menos extensas, independentemente do seu autor ou do tema da obra literária.
Julgo que o mais preocupante nem é o facto de existirem autores esquecidos no panorama dos programas da disciplina de Poruguês, mas sim o esquecimento de todo e qualquer hábito de leitura.
O novo programa de leitura nacional tem-me parecido interessante. Quando se compram os livros até já vêm com a indicação de pertencerem ao plano nacional de leitura e a que ano lectivo se adequam. Mas falta muita vontade. Cultivar o hábito da leitura não é fácil...pior ainda, o prazer pela leitura.
Sobre o programa da disciplina de Língua Portuguesa li no início de Julho um interessantíssimo artigo de Maria Filomena Mónica no jornal Público, em que esta criticava a escolha das obras.
Permitam-me uma citação: "Seguia-se um texto de José Saramago sobre o sorriso. Não vou falar do suposto mérito literário do “nosso” Nobel, mas desejo reiterar que me parece absurdo fomentar a leitura com base em autores contemporâneos. Nem estes são de leitura acessível nem, mais importante, sabemos se têm mérito: um grande escritor é-o quando resistiu à erosão do tempo. Na segunda metade do século XIX, a elite nacional decidiu que o maior poeta português era Tomás Ribeiro, o qual, em 1862, publicara um poema intitulado "D. Jaime". O mais conceituado crítico da época, António Feliciano de Castilho, teve o desplante de considerar a obra como mais importante para o estudo da língua portuguesa do que "Os Lusíadas", o que não suscitou arrepios. Mas alguém é hoje capaz de ler, sem se rir, as linhas com que abre o "D. Jaime": “Meu Portugal, meu berço de inocente,/ lisa estrada que andei débil infante, variado jardim do adolescente,/ meu laranjal em flor sempre odorante/…”? Quem me garante que José Saramago não é o Tomás Ribeiro do século XX?"
O artigo completo pode ser lido aqui: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1334392&idCanal=58
4 comentários:
Quem faz programas anda desfasado da realidade das escolas. Se os professores não estivessem tão magoados com as palavras de Miguel de Sousa Tavares, cá para mim acabavam com "Os Lusíadas" e punham os alunos a estudar o "Equador".
Ainda bem que Camões, ainda que zarolho, continua a mostrar quem é o Poeta.
Eu cheguei a ler no meu 10ºano "A Balada da Praia dos Cães", de José Cardoso Pires, numa iniciativa que dava pelo nome de "Biblioteca de Turma".
Mas a que é que se assistia nesta actividade? A uma escolha de livros por parte dos alunos, invariavelmente, das obras menos extensas, independentemente do seu autor ou do tema da obra literária.
Julgo que o mais preocupante nem é o facto de existirem autores esquecidos no panorama dos programas da disciplina de Poruguês, mas sim o esquecimento de todo e qualquer hábito de leitura.
O novo programa de leitura nacional tem-me parecido interessante. Quando se compram os livros até já vêm com a indicação de pertencerem ao plano nacional de leitura e a que ano lectivo se adequam. Mas falta muita vontade. Cultivar o hábito da leitura não é fácil...pior ainda, o prazer pela leitura.
Sobre o programa da disciplina de Língua Portuguesa li no início de Julho um interessantíssimo artigo de Maria Filomena Mónica no jornal Público, em que esta criticava a escolha das obras.
Permitam-me uma citação:
"Seguia-se um texto de José Saramago sobre o sorriso. Não vou falar do suposto mérito literário do “nosso” Nobel, mas desejo reiterar que me parece absurdo fomentar a leitura com base em autores contemporâneos. Nem estes são de leitura acessível nem, mais importante, sabemos se têm mérito: um grande escritor é-o quando resistiu à erosão do tempo. Na segunda metade do século XIX, a elite nacional decidiu que o maior poeta português era Tomás Ribeiro, o qual, em 1862, publicara um poema intitulado "D. Jaime". O mais conceituado crítico da época, António Feliciano de Castilho, teve o desplante de considerar a obra como mais importante para o estudo da língua portuguesa do que "Os Lusíadas", o que não suscitou arrepios. Mas alguém é hoje capaz de ler, sem se rir, as linhas com que abre o "D. Jaime": “Meu Portugal, meu berço de inocente,/ lisa estrada que andei débil infante, variado jardim do adolescente,/ meu laranjal em flor sempre odorante/…”? Quem me garante que José Saramago não é o Tomás Ribeiro do século XX?"
O artigo completo pode ser lido aqui: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1334392&idCanal=58
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