Manuel, não podia discordar de forma mais veemente de muitas coisas que aí são ditas, mesmo que até concorde com outras tantas. Palin? Eficiente? A mulher esteve envolvia em tudo o que há de mau na política, desde o jogo dos lobbies, até à corrupção que a fez pressionar a demissão de um chefe da polícia, passando pela proibição de determinados livros em bibliotecas e pela promoção de outros de duvidosa qualidade.
A escolha, por muito acertada que eventualmente se venha a revelar foi totalmente errada nos seus pressupostos: a mulher disse à um mês que não sabia quais eram as funções do VP, McCain falou com ela uma vez, ela foi contactada pela primeira vez pela campanha McCain no dia anterior a falar na convenção. E depois e ideia que subjaz à escolha: a de que ela pode levar outras mulheres a votar nela, desviando os votos de Hilary. Como é possível pensar uma coisas dessas? Como é possível acreditar tão pouco na capacidade das mulheres para distinguir entre duas candidatas que defendem coisas exactamente opostas e cuja única semelhança é serem mulheres?
Sobretudo com a idade avançada de McCain, este teria de escolher um VP que estivesse pronto desde o dia um para assumir a liderança. Não é pensem que é fatalismo ou preconceito contra as pessoas mais velhas, eu aliás apoiei já um candidato bastante velho e não me arrependo, mas com a quantidade de problemas de saúde que tem o candidato republicano (que há meses enviou à impressa fotocópias dos seus registos de saúde dos últimos anos, os quais tinham largas centenas de páginas) é muito possível que Sarah Palin seja chamada e tenha de estar "ready to lead" como gostam muito de dizer os republicanos.
Além de tudo isto, antes que se deixem impressionar pelo bom aspecto de Palin, convém que saibam algumas coisas a seu respeito:
1. Absoluta inexperiência em política federal e internacional;
2. Pretende o ensino do creacionismo nas escolas americantas;
3. Afirmou que os 30 biliões que o governo deu para um pipeline no Alasca foram "vontade de Deus";
4. Defende explorações petrolíferas em reservas naturais no Ártico;
5. Foi mayor de uma vila com o tamanho de Arraiolos ou da Azambuja, mas mais pequeno que a Camacha, que Canelas, ou Caneças, e 12 vezes mais pequeno que Algueirão de Mem-martins ("you get the point", aquilo é pequeno). Ganhou as eleições com 73% dos votos, ou seja: 909.
6. Foi a favor da construção de uma grande ponte no Alasca feita com fundos dados pelo congresso, que não tinha utilidade nenhuma, conhecida como "A ponte para lado nenhum" ("Bridge to Nowhere"). Quando chegou a governadores continuou a construção da ponte, mas a meio do seu mandato de 20 meses decidiu que as obras podiam parar, não se ia construir a ponte e, numa declaração à televisão disse "não muito obrigado" aos fundos congresso. A piada no meio disto é que o congresso nunca mais viu o dinheiro.
7. Demitiu um importante funcionário da administração pública do Alasca por este não demitido o chefe da polícia que se estava a divorciar da irmã. A sua escolha para substituir o funcionário foi um chefe da polícia que esteve apenas 14 dias em exercício depois de uma queixas de assédio sexual. (Todo o caso ainda está em tribunal e a ser revisto internamente como uma questão de ética, qualificação pedida por Palin).
8. Pertence à NRA (o principal lobby das armas nos EUA).
9. Opõe-se aos direitos do homossexuais.
10. É a favor da pena de morte.
11. É contra o uso do preservativo.
12. É a favor da abstinência [daí os 5 filhos?].
O VP tem, além das funções que apontaste, funções de representação do presidente, têm sido usados como importantes delegados internacionais, não sendo raro terem grande relevo na política externa. São conselheiros do presidente, reúnem com pessoas com que o presidente não pode reunir e dão pareceres sobre determinadas áreas que ficam sobre a sua "alçada", muitas vezes em matéria de segurança. Sei também que é muitas vezes ao VP que são dadas pessoalmente as informações dos serviços secretos em reuniões dárias. No fundo o VP procura culmatar a falha que é o presidente não ter dois corpos, não poder estar em dois lados ao mesmo tempo. Acho que é ou desconhecimento ou demagogia dizer que só se está a decidir quem vai ganhar uns milhares de dólares.
Num país como os EUA (e para mais com um modelo presidentecialista em que o presidente é simultaneamente chefe de estado e chefe de governo) um VP é importante, é muito importante, já poupou muitas xatices, e é um absurdo dizer que seria mais económico e mais inteligente não incluir um. No senado em 2001 Dick Cheney deu sistematicamente a vitória aos republicanos desempatanto muitas votações, uma vez que este se encontrava dividido 50/50 entre os dois partidos. O VP é também presidente da NASA e da Smithsonian Institution (um instituto com 19 museus, 9 centros de investigação, um zoo e uma colecção com 136 milhões de items). Como presidentes do senado têm ainda outras funções que não me apetece agora enumerar.
E sinceramente, comparar o perfil de Obama com o de Palin é ridículo. Ridículo! Uma caçadora de alces, Presidente da Câmara e Governadora DO ALASCA durante 20 meses vs Aluno e Professor de Direito em Harvard, Presidente de uma das maiores publicações jurídas do mundo a "Harvard Law Review", trabalhador em projectos para a comunidade em Chicago, voluntário na recolha de votos, advogado, congressista oito anos no Illinois onde promoveu legislação que aumentava o número de pessoas com acesso ao sistema de saúde, reduzia os impostos para a classe média, apoiava a educação primária, e senador nos últimos quatro anos, posição pela viajou pelo mundo negociando mecanismos de prevença da proliferação de certo armamento, promoveu leis pela transparência dos gastos públicos, que garantem apoio aos veteranos incapacitados pela guerra, e anti-corrupção. Acho que de facto ...
Uma coisa é apostar numa pessoa sem grandes credenciais mas com um perfil que deixe antever um bom desempenho, ou é apostar em quem pouco trabalho e meu perfil.
Quanto a Biden, ele é mais conhecido nos EUA do que talvez imagines. Está há 36 anos no Senado e é presidente de um dos principais comité, o de política externa. Além do mais tenho lido coisas sobre o seu sentido de humor e sobre os seus dotes de orador, mas ainda não vi nada de concreto. O lado "mau" de Biden é que ele é um política "tradicional", ou seja, tem até hoje dependido sempre do apoio de certos lobbies para a sua re-eleição. Ou seja, parece que na escolha do seu VP Obama fez uma espécie de cedência ao "establishement".
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