1. No passado fim-de-semana, organizou o BE o fórum de ideias Socialismo 2008. O modelo adoptado foi sugestivo: em geral, diversas áreas temáticas a todas as horas, com opção de escolha; em particular, algumas intervenções políticas de dirigentes do partido, sem alternativa que não a ausência da sala. Não pertencendo ao BE (mas à JS), não me identificando com as suas bandeiras (às vezes defendendo, até, posições antagónicas), nem com o seu modo de se apresentar politicamente, foquei-me nos ditos debates, em detrimento dos momentos em modo comício. E ao invés de encontrar abordagens parciais, cingidas a um conjunto de domínios normalmente associados ao Bloco, deparei – em geral - com perspectivadas desassombradas, abertas, prontas ao debate. Com público do BE e de fora do BE, com oradores do BE e alheios ao BE. Um evento a fazer jus à designação: um fórum de ideias. Com momentos de puro deleite.
2. Exemplos? Abordagens como o papel da Comunicação Social nos dias de hoje, enquanto manipuladora manipulada da informação (Daniel Oliveira), a ligação entre a poesia e a insurreição (com a poetisa Ana Luísa Amaral), o papel do cinema e a necessidade de a sociedade civil se organizar à margem do Estado (Regina Guimarães), o papel de certas tradições portuguesas como fenómenos de embriaguez dionisíaca (Aurélio Lopes).
3. Ora, por muito que as organizações políticas procurem fazer debates públicos, discutir ideias, confrontar posições, a sua divulgação soçobra perante a bitola da relevância jornalística. Ao espectador continua a não chegar a informação de que uma organização levou a cabo um evento de verdadeiro debate, mas apenas uns certos ecos dos discursos das figuras de proa da organização. Não passa a mensagem de que também se discutem problemas do quotidiano de um modo não inundado de espectros, argumentários, folhetins ideológicos ou discursos afinados.
4. Assim, perante a total ausência de comunicação deste tipo de actividades, continuar-se-á a manter o descrédito no aparelho político, no regime democrático; a política continuará a aparentemente reduzir-se a uns quantos chavões – os únicos que parecem relevar jornalisticamente – e os partidos, inevitavelmente, caminharão para exclusivamente se tornarem máquinas de conquista do poder político. Consequências inevitáveis de um redutor jornalismo que apenas transmite esses velhos lugares-comuns já de todos conhecidos.
Assim se piora o espectro político. Com a conivência, vénia e assentimento desses que, para alguns, são os guardiões da democracia.
filhos da Duna
Há 3 dias
3 comentários:
Foram 4 anos de bloco de esquerda... sei exactamente com deve ter sido! Eles convidam pessoas fora do partido, eles vao buscar os deputados e estrangeiros, mas claro puxam a brasa a sua sardinha(obvio).
Fui a incontaveis encontros do genero em que os jovens extasiados por um fervor revolucionario(ou por outros..digamos... elementos :P discutem as questoes! Chegamos ao ponto de fazer os chamados debates de masturbaçao intelectual--- passo a explicar.. sao debates sobre assuntos muito polemicos dentro das facçoes do partido e em que nao se diz nada de novo e se repetem os mesmos argumentos, mas toda a gente la ia porque lhe dava prazer---.
A verdade é que por tras da aparente abertura se vêem determinadas situaçoes como as de guerras internas e quesilias particulares..
Bem vindos ao bloco de esquerda
foi exactamente isso que me deu impressão ao ver, por exemplo, o debate apresentado pelo daniel oliveira, tiago. um espectáculo de masturbação intelectual. e um bem kinky e perturbador.
vi três apresentações. tu não viste a do estado social europeu, mas ias gostar, porque era um professor de geografia marxista, mas um tipo muito ponderado e deu gosto falar. mas havia éne falácias no discurso.
a unica apresentação que vimos os dois e eu penso termos gostado foi a do miguel portas, sobre a religião e o mediterrâneo.
gostei do ambiente, algumas pessoas eram interessantes, espero que haja para o ano e tudo.
mas fiquei desiludido com tanto cliché.
Canotilho, eu percebi o que querias dizer. Onde eu queria chegar é que mesmo que um partido traga gente de fora para o debate, isso nao tem projeccao. Ou seja, acaba por levar à repetição de velhas bandeiras, as unicas que alcançarao projecçao mediatica.
Manel, eu pessoalmente gostei muito do daniel oliveira.Com excepção de uma deixa ou outra (como a boca para a Manuela Ferreira Leite) concordei com o essencial do que ele disse. Já o Miguel Portas, apesar de ter sido divertido, foi sem dúvida aquele em que menos aprendi no global dos dois dias. Com excepção do fim, já na fase das perguntas em que, finalmente, deixou a ridicularização passando para a defesa de uma abordagem sensata do dialogo intercultural.
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