domingo, 21 de setembro de 2008

sobre os bichos prestes a extinguirem-se

texto de Carlos Guimarães Pinto, n'O Insurgente.


É verdade que a falência de grandes instituições financeiras levará à perda de confiança nos mercados e um aumento dos custos de financiamento no futuro. Mas, se os factores que estiveram na origem de toda a crise do subprime foram exactamente os baixos custos de financiamento e a fraca análise de risco nos mercados financeiros, não podemos ver nesta correcção um mal em si. Antes pelo contrário, é uma prova de que os mecanismos auto-reguladores do mercado funcionam. Se a subavaliação de vários tipos de risco causou a crise, é normal que da crise resulte um aumento da percepção de risco.

O argumento de que, por via do efeito multiplicador, as perdas totais para a sociedade são muito superiores ao valor do bail-out, apesar de verdadeiro, cai no erro muito Keynesiano de ignorar que também existe um efeito multiplicador (negativo), do lado de quem financia o bail-out: os contribuintes. Por outras palavras, pese embora os efeitos da falência da AIG fossem mais visíveis, não está provado que a perda de 80bn de dólares pelos stakeholders da AIG tenha um efeito multiplicador na economia superior à perda de igual montante pelos contribuintes, financiadores do bail-out. Existe ainda a agravante de no segundo caso, quem suporta primariamente o custo sejam aqueles que não correram o risco e, portanto, não teriam obtido o retorno caso as coisas tivessem corrido bem.

Mas mais importante de tudo, há nesta posição uma violação de princípio do mercado que coloca em causa a defesa do capitalismo em si: a responsabilidade individual. Como alguma esquerda defende, não é justo que sejam privados a obter retornos quando as coisas correm bem e o público a pagar as prejuízos. Se a nacionalização da AIG é um “mal necessário”, então o melhor, e mais justo, é desde já nacionalizar todas as empresas que são demasido grandes ou importantes para falharem, mesmo, e principalmente, aqueles que obtenham lucros actualmente. E todos sabemos onde esta lógica acaba.

6 comentários:

Anónimo disse...

é isso mesmo!
plenamente de acordo...

Ary disse...

Deu-me vontade de rir. :D

Alguém com nome e cara, de preferência com dois dedos de testa, compra estes argumentos?

Os apoiantes do liberalismo estão a tornar-se nos novos comunistas. Discurso dos chavões, confusão entre o meio e o fim, medos irracionais, crença em coisas que nunca se viram e uma fé inabalável num modelo que, pelos seus próprios pressupostos não poderá existir.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

anónimo, por favor revela-te, estou à mercê do keynesianismo obstinado.

Luís Paulo (Estudante de Direito) disse...

Depois de um longo dia, cheio de emoções fortes, decidi roubar um minutinho ao meu sono para vir fazer-vos uma visita. Hoje conheci alguns de vós, ainda que de forma muito superficial, mas o tempo trar-nos-á amizades, é esta a minha convicção.

Hoje venho só mesmo para vos saúdar na vossa "casa", no vosso espaço, e retribuir a simpatia de incluirem o meu Blogue (http://ruadosbragas223.blogspot.com) na lista da Blogosfera FDUP da Sociedade de Debates.

Dentro de alguns dias, possivelmente, talvez ganhe coragem para participar nos temas por vós propostos.

Até breve!
Luís

Anónimo disse...

talvez eu tenha percebido mal o texto... mas o que eu retirei daqui foi uma critica à esquerda que defende a lógica: "ah, a AIG falhou como empresa privada então para quê haver empresas privadas? vamos nacionalizar tudo e impedir que os empresários dêem cabo do resto! esses capitalistas..."

Eu acredito que as forças de mercado, per si, chegam para haver mercado.
no entanto, defendo igualmente que o mercado não deve sobrepôr-se ao Homem. Se assim fosse, a reserva federal nao intervinha e, em nome das leis do mercado, a AIG nao sobrevivia e inúmeras empresas e familias ficavam sem os seus créditos, sem os seus trabalhos, etc...
liberalismo sim, apoio. mas com o respectivo acompanhamento dos governos que não devem descurar o importante papel de atento vigilante, pronto a intervir quando necessário.

Será assim tao contraditório?

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

não anónimo, não é contraditório.
o que se passou aqui não foi uma questão de predomínio do mercado. foi a corrupção a que chegou o crédito, todo o sistema. o facto de os mercados estarem a funcionar, há já algum ano, com mercadorias "virtuais", comprando aquilo que ainda não há e vendendo aquilo que ainda não têm.
não está na regulamentação a salvação do mercado, mas antes a fiscalização do estado para as situações fraudulentas que ocorreram na Freddie e na Fannie, bem como a AIG.
é de salientar que, para além dos marxistas, os eternos avarentos da história da economia, mais nenhum grupo ou escola económica previu esta crise. ou melhor, uma previu. e essa escola foi a austríaca, que vem dizendo há vários anos que o sistema capitalista assenta em falácias de mercado que um dia irão ruir. de salientar que esses "austríacos" são defensores do Livre Mercado.

ps: ary, essa do predomínio do mercado sobre o homem está, de facto, muito batida. está muito batida porque uma economia colectivista também pode impor a economia de Estado sobre o Homem, o que não raras vezes aconteceu. mesmo uma economia dita mista pode jogar de forma repressiva sobre as liberdades individuais do Homem.
e eu creio que não há economias puramente liberais, há é umas mais liberais que outras, que por acaso são as nações mais ricas e com mais crescimento económico no mundo. crescimento esses sustentado e com êxito.
a questão está em saber quem tem mais mérito: se o poder económico, escolhido de acordo com o mérito, ou o poder político, escolhido de acordo com interesses privados e esses sim egoístas.

Enviar um comentário