sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Oh Friedrich Nietzsche, Oh Nietzsche*

"Nós só sentimos agrado para com os semelhantes - ou seja pelas imagens de nós próprios - quando sentimos comprazimento connosco. E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós. É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento.

1 - O que nos é estranho pode causar em nós o ensejo do conhecimento e também da aversão, o primeiro tende a ter mais importância, visto que se dermos a esta e nao àquela mais intensidade caímos na falta de tolerância! FN, aqui mostra uma visão reduzida de como o homem pode e deve ver a Novidade, o estranho! É que a aversão só acontece, quando o novo provoca em nós náusea e para tal há um processo de conhecimento... Ainda, a premissa de que o Homem se se amar a si próprio rejeita o outrem é completamente absurda, quando porventura é exactamente o oposto, estando bem connosco próprios podemos receber os outros com um sorriso. Mais uma vez, a ler FN penso que ele não conseguiu ser crente em valores e tal se traduziu num pessimismo, por vezes certo, mas muitas vezes ignorante!

"Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma aproximação com os demais.

2- e o espectáculo continua! O menosprezo pelo próprio ser traduz-se no amor à humanidade.. Ora bem, se nõs não gostamos de nós mesmos, de nós homem, como gostaremos de outros? Só se criarmos ídolos e crenças por eles... Se o homem não gosta de si, não gostará dos outros! A menos que alguém o preencha com alegrias e amores, mas se alguém, o outrem o fizer, vai crescer em nós mais estima e passamos a gostar mais de nós, logo desse amor do próximo, surge o amor de nós próprios! (um ciclo...) a justificação de FN:

"Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que leva à sociabilidade com muita gente.
Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são; quando isto se verifica, então receberemos uma grande alegria: afinal, estamos na mesma situação.
E, talqualmente nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos semelhantes.
Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles diminui, e dá-se a reaproximação."

3- aceitando tal premissa (a do esquecimento do EU - sociabilidade e a do desgosto do EU convive com os desgostos do OUTRO para haver reaproximação) desvirtua-se o que é o contacto com os outros, desvirtua-se o que é o dar e receber numa qualquer relação social! Desgosto e desgosto provoca ainda mais desgosto, não um sentimento de compaixão pelo desgosto! Se tiver deprimido e me juntar a outro deprimido, ainda fico mais deprimido, não vejo como surja compaixão que faça "arder o meu coração", a surgir compaixão é uma compaixão desumana, no sentido que apenas se cultiva o negativo e a dor. A única compaixão que deviamos aceitar é a "dor atenuada pela felicidade e esta atenuada por aquela".

Oh
Friedrich Nietzsche, Oh Nietzsche, o ser-se humano não é uma apologia do que há de pior nele, é uma apologia do que há de melhor com "pós" dessa marca negativa, não o contrário. Faz cânticos à dor, à depressão, ao desprezo, desconfia da humanidade e, assim, crias os pilares do "Não-saber-ser-se-humano"..

Triste, muito triste...

* ou como quem diz: "Não é por aí Lousada, não é por aí..."

1 comentário:

Marta Lima disse...

Incrível até que ponto a relação que temos connosco determina a maneira como nos relacionamos com os outros e deturpa a visão que temos do mundo. A imagem reflectida no espelho (metaforicamente falando) projecta-se em todos os cenários da nossa vida, o que, conforme os casos, oscila entre o fascinante e o cruel.
Brilhante escolha de texto.

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