sábado, 11 de julho de 2009

(Café da manhã e) kant

"O homem é um animal que, quando vive entre os seus congéneres, precisa de um senhor. Com efeito, abusa certamente da sua liberdade em relação aos outros semelhantes; e embora, como criatura racional, deseje uma lei que ponha limites à liberdade de todos, a sua animal tendência egoísta desencaminha-o, no entanto, onde ele tem de renunciar a si mesmo. Necessita, pois, de um senhor que lhe quebrante a própria vontade e o force a obedecer a uma vontade universalmente válida, e possa no entanto ser livre. Mas onde ele vai buscar este senhor? A nenhures, a não ser no género humano. Mas tal senhor é igualmente um animal, que carece de um senhor. Pode, pois, proceder, como quiser; não é, pois de prever como é que um chefe de justiça pública venha a conseguir tornar-se justo; quer ele se busque numa só pessoa singular ou numa sociedade de pessoas escolhidas para o efeito. Pois, cada uma abusará sempre da sua liberdade se não tiver acima de si ninguém que sobre ela exerça poder em conformidade com as leis.
O chefe supremo, porém deve ser justo por si mesmo e, não obstante SER HOMEM. Por conseguinte, é a mais difícil de todas as tarefas; mais ainda, a sua solução perfeita é impossível: de um lenho tão retorcido, de que o homem é feito, nada de inteiramente direito se pode fazer. (...)

Kant

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