Nas eleições para os discentes ao Conselho Geral (CG) a abstenção é a grande vencedora. Pode até já ser típico, mas certamente 92% de abstenção começa a ser exagerado, mesmo para os padrões portugueses, pondo em causa a democraticidade real destas eleições. Mas nem outra coisa era de esperar no climax da época de exames em que ninguém está no Porto e quem está quer é estudar e que ninguém o chateie com listas e eleições para órgãos que apenas 1% dos alunos devem saber para que servem e continuam "lá longe". Há um trabalho de anos de consciencialização democrática a ser feita não apenas na Universidade como na sociedade em geral.
A segunda vencedora é a lista A. Recolheu 1068 votos (64%) o que lhe permitiu eleger 3 representantes: Rui Reis (FMUP, 369 votos), Alexandra Babo (ICBAS, 322 votos) e Paulo Vasconcelos (FEUP, 244 votos). Venceu de forma expressiva em Medicina, Farmácia, Direito, Nutrição, Psicologia e Biomédicas. Talvez a grande surpresa é o facto de Paulo Vasconcelos não apenas ter perdido expressivamente em casa como ter sido o último a ser eleito. Isto porque estamos perante um veterano do movimento associativo, que esteve 3 mandatos à frente da maior AE do Porto, realizando um trabalho que considero excepcional a todos os níveis. Rui Reis e Alexandra Babo mostraram o que já todos sabiam: medicina tem sempre uma grande capacidade de mobilização, talvez por ter alunos mais interessados, mas sobretudo, creio, pelo facto de as respectivas direcções das AE estarem no terreno todos os dias e terem provas dadas.
A lista B não sei se se pode dizer verdadeiramente derrotada. A eleição de Luís Rebelo com 337 votos e a vitória em Engenharia, Economia, Ciências e Letras (quatro das maiores faculdades da UP) pode dar alguns motivos para festejar. Para mais esta seria a lista da mudança, da reacção contra o sistema: surgiu da recém empossada direcção de Engenharia que se uniu à nova direcção de Economia, que chamaram Ciências e procuraram ir buscar votos à praxe de Letras e à oposição derrotada do ICBAS. O lugar que conseguem no CG pode fazer estragos, sobretudo porque, caso cesse a lógica de listas, uma aliança de engenheiros pode ter um peso determinante do CG.
No próximo CG teremos dois médicos e dois engenheiros. Vitória para as Medicinas e Engenharias. Vencem as primeiras mais pela capacidade de mobilização e pela qualidade dos nomes, as segundas até mais pela vastidão do universo eleitoral. A derrota das pequenas e médias unidades orgânicas quase tem sabor a vitória quando Letras, Ciências e Economia, que representam 1/3 dos alunos da UP, saem daqui claramente derrotadas pela abstenção ao ficarem longe de conseguir 1/5 dos votos e não conseguindo eleger ninguém. O único candidato efectivo de Letras consegue apenas 52 votos, de Ciências 104 e de Economia 111. Direito, sem nenhum efectivo, apurou a favor da Lista A quase tantos votos como Letras e Ciências juntos a favor dos seus representantes.
A quantidade de brancos (238) e nulos (181) é de fácil leitura. A maior parte dos quase 29 mil alunos da UP talvez não conhecesse sequer um dos 8 candidatos. Devem contar-se pelos dedos das mãos as pessoas que conheciam os oito e ninguém deve conhecer os 16. O voto em pessoas e não em listas colocava um obstáculo adicional a quem gosta de votar em quem conhecesse, considerando que estamos a falar de desconhecidos. Na FDUP é raro encontrar quem não conheça o Ricardo, o Hugo ou a Maria João (mesmo que seja preciso dizer que é a Presidente da Mesa da SdD) mas eu quase apostava que metade das pessoas em certas faculdades não conhecem o presidente da AE. Para mais este processo é complexo, os órgãos são novos e há muita gente desiludida com o actual modelo e com seus representantes. Na nossa faculdade, não há muito tempo, soube que um aluno, que até já se tinha candidatado à direcção num lugar cimeiro, comentou com um elemento da direcção este que ele não se podia queixar do trabalho que tinha porque até ganhava um excelente ordenado.
Há muito desconhecimento e boletins de voto que são complicados de preencher não ajudam. Pela contagem a que assisti em Ciências (onde numa urna com 89 votos havia algo como 15 brancos e 16 nulos) quase todos os nulos eram de pessoas que votavam em mais de um candidato, geralmente todos os de uma determinada lista.
Direito é o vencedor discreto destas eleições. Teve a menor taxa de abstenção da UP com uns ainda assim vergonhosos 82%. Os 177 votos apurados na FDUP só foram superados na FEUP (cerca de 500) no ICBAS e na FMUP (menos de 300 em cada). Contribuimos com mais votos que Belas Artes, Arquitectura, Desporto e Dentária juntas. Foram os 140 votos da FDUP na lista A que lhe trouxeram o seu terceiro representante. Reforçamos a nossa credibilidade como faculdade activa, mobilizadora e informada no seio da UP, abrindo caminho para os que se seguem serem tratados com outro respeito e garantindo que no futuro não serão negados o lugares merecidos a juristas só porque a sua Faculdade é pequena (afinal o tamanho não importa assim tanto). Finalmente, garantimos a possibilidade real de, já no ano lectivo de 2010/2011, termos um jurista no CG por substituição de um dos dois médicos agora eleitos, que acabam o curso no próximo ano. Se nada de bizarro se passar, seremos os únicos representantes de Direito no CG, e os únicos de uma unidade orgânica de pequena dimensão (menos de 1000 estudantes).
Enche-me de orgulho a nossa conquista de ontem, mas sei que ela só foi possível graças ao trabalho de todos os que vieram antes de nós e cujos nomes já só nos chegam pelos relatos de pessoas com quem apenas nos cruzámos fugazmente. E é por isso que me entusiasma ter visto tantos alunos do primeiro ano a votar pela primeira vez. Tenho esperança de que também neles nasça o bichinho de fazer algo pelos outros, não só na Faculdade, mas também na Universidade do Porto e na FAP e na FNED e no ENDA e na AAAES e em muitas outras siglas que para vocês agora não querem dizer nada, mas que poderão um dia ser a forma de um de vocês contribuir de maneira, sempre singela, para melhorar alguma coisa no mundo.
Obrigado a todos por terem tornado a noite de ontem possível.
Direito e Criminologia são fenomenais!
12 comentários:
o artigo ta mt interessante! podias era ter arranjado gente mais interessante pa foto ;) lool
Não sejas desagradável. A Anita "espalha charme" e a Rita Jorge ... até parece a Jamila Madeira =P
Não sejam ambos injustos. A Anita é extremamente simpática (verdade) e não se inibe de o demonstrar, mas a Rita irradia charme por tudo quanto é pixel da sua imagem... e ao vivo nem se fala! Eu estive lá... eu votei... eu vi... eu sei do que estou a falar... :-)
Beijinho para a Rita!
A piada da Jamila Madeira é antiga.
A Anita espalhar charme tinha a ver com o horóscopo dela há uns dias atrás.
Eu bem que já tinha dito que a Anita era miss simpatia, mas ela pensava que eu estava a gozar com ela...(ao que ela responderia "obrigados")...
Tou com Obrigações até à ponta dos cabelos, mas deixarei um post num futuro próximo. há algumas reflexões que tenho a fazer.
Era agora preciso uma semanita de férias entre as epocas normal e de recurso.... Isso é k era bom :P
Mas depois lixava o mes de agosto
Solução: os exames começavam mais cedo... e atrasavamos o ano todo 1a semana....
ai ai... Tenho obrigações (oral) e Urbanismo pa fazer. Tou pa ver como... mas ta bem!
Fala-se de tudo aqui menos das eleições!
Gostei! :)
Digamos que a época das eleições também não ajudou a combater a abstenção.
E os resultados só não foram piores porque tivemos a sorte de nesse dia terem decorrido três exames, sendo que Reais conta por dois anos, visto que há uma grande percentagem de alunos do 4º ano inscritos nessa cadeira...
Pelo que o facto de quatro anos distintos terem ido fazer exames nesse dia, contribuiu na minha opinião, para que a participação fosse razoavelmente aceitável para a época em que estamos...
Na verdade não tivemos só Introdução, Reais e Reais. Questões de Segurança também foi na terça e criminologia também nos trouxe muitos votos. Podemos ser FDUP, mas criminologia afirma-se cada vez mais como uma força viva dentro da nossa faculdade.
Eu já estava a contar com o exame de criminologia.
Apesar de haver uma grande percentagem de alunos do 4º ano inscritos em Reais, o Exame de reais conta somente como UM EXAME!
Ary, não percebo o porque do teu comentário, visto que a certa altura no meu comment eu digo: "(...)o facto de QUATRO ANOS DISTINTOS terem ido fazer exames nesse dia (...)".
Acho que por ter dito isto, penso que não me esqueci de incluir os alunos de criminologia.
Mea culpa
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