quarta-feira, 8 de julho de 2009

Esta semana tenho andado por sítios muito estranhos

"Pai, dirigimo-nos a Ti pedindo perdão e procurando o Teu conselho e a Tua orientação.

Conhecemos as Tuas palavras, "Ai daqueles que chamam ao mal bem", mas isso é exactamente o que temos feito.

Nós perdemos o equilíbrio espiritual e pusemos valores do avesso.
Nós confessamos que temos ridicularizado a verdade absoluta da Tua palavra e chamado-lhe pluralismo.
Nós temos idolatrado outros deuses e chamado-lhe multiculturalismo.
Nós temos patrocinado a preversão e chamado-lhe aceitação de estilos de vida alternativos.
Nós temos explorado os pobres e chamado-lhe lotaria.
Nós temos ignorado os que mais necessitados e chamado-lhe auto-preservação.
Nós temos premiado a perguiça e chamado-lhe bem-estar social.
Nós temos morto crianças por nascer e chamado-lhe escolha.
Nós temos morto abortistas e chamado-lhe justificação.
Nós temos negligenciado a educação das nossas crianças e chamado-lhe construir auto-estima.
Nós temos abusado do poder e chamado-lhe habilidade política.
Nós temos cobiçado as coisas dos nossos vizinhos e chamado-lhe ambição.
Nós temos poluido o ar com blasfémia e pronografia e chamo-lhe liberdade de expressão.
Nós temos ridicularizado os valores ancestrais dos nossos antepassados e chamado-lhe progresso.

Procura-nos Senhor e conhece hoje o nosso coração, testa-nos e vê se há em nós crueldade, limpa-nos de toda o pecado e liberta-nos.

Guia estes homens e mulheres, que estão aqui por vontade do povo o Kansas e que foram ordenados por ti para dirigir este grande estado.

Concede-lhes sabedoria para governar e que as suas decisões nos conduzam ao centro da tua vontade. Peço-o em nome do teu filho, o salvador vivo, Jesus Cristo.

Amen"

Oração proferida pelo Rev. Wright a 23 de Janeiro de 1996, durante a primeira sessão do congresso do Kansas. Depois destas palavras um congressista abandonou a sala e três proferiam discursos criticando as palavras do pastor, o que gerou uma enorme discussão e acesa troca de palavras entre republicanos, que tinham convidado o orador, e democratas, que se sentiram ofendidos pela "mensagem de intolerância" do Rev. Wright. Na comunicação social o tema foi profusamente discutido.

16 comentários:

jünger disse...

já sei que depois disto vem a Esquerdinha com os seus ideais puros insurgir-se contra as palavras citadas. Perante isto apenas tenho a dizer, fizéssemos todos esta oração e não nos preocuparíamos com metade dos problemas contemporâneos. Alguém que, em consciência, me prove o porque das palavras do Reverendo não serem correctas pf.

Maximilien Robespierre disse...

Seria bom recordar que este ilustre cavalheiro foi durante 20 anos o pastor do então senador Obama, só tendo o hoje Presidente abandonado o "rebanho" quando o calor da cozinha mediática começou a tornar-se insuportável.

Não deixa, contudo, de ser algo irónico que um homem que se dizia assíduo frequentador dos sermões do senhor Wright só tenha reparado no grau de intolerância e extremismo dos discursos quando estes começaram a ser escrutinados pela opinião pública. Parece que pelo menos em 1996 ele já falava assim, mas Barack Hussein devia andar distraído...

Se bem que a julgar pelo que diz Jeremiah Wright, o afastamento do Presidente se deveu "aos judeus que dominam a Administração" ;p

Caro Jünger, se não vês nada de errado com afirmações do tipo:

- Nós temos idolatrado outros deuses e chamado-lhe multiculturalismo;
- Nós temos patrocinado a preversão e chamado-lhe aceitação de estilos de vida alternativos;
- Nós temos explorado os pobres e chamado-lhe lotaria;
- Nós temos poluido o ar com blasfémia e pronografia e chamo-lhe liberdade de expressão.

E não vês o que há aí de perigoso, totalitário e atentatório contra os valores da liberdade, do ecumenismo, da tolerância e do respeito pela diferença, então realmente não temos muito para discutir.

Ary disse...

João,

Eu até acho que tudo o que ele diz tem um fundo de verdade, mas a escolha de palavras denota uma dificuldade em dialogar com outros pontos de vista porque rotula como pecado uma série de comportamentos que muitos acham ser aceitáveis, naturais, ou até bons.

Pessoas Wright são raras, fascinantes, intensas, polémicas, radicais nas palavras mas muitas vezes mansas nas acções e por isso é que acho que Obama frequentava a sua igreja. Eu sinto-me mais atraído por pessoas com as quais não concordo, mas em cujo discurso vejo boas intenções, bom coração e um fundo lógico, do que por outras com as quais concordo mas que são pouco inspiradas e nada inspiradoras, pouco provocadoras, pouco desafiantes.

Ary disse...

A haver uma oração no início dos trabalhos - o que já acho muito estranho quando haja separação entre o Estado e as Igrejas - ela deveria ser o mais ecuménica possível, tanto do ponto de vista religioso como do ponto de vista político. Enfatizando o que nos une e não o que nos separa, deixando uma mensagem de esperança, lembrando-nos dos valores que partilhamos.

As orações em grupo servem também para reforçar o grupo, não o estilhaçar.

Maximilien Robespierre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maximilien Robespierre disse...

Mon cher Ary,

De boas intenções está o Inferno cheio. "Um fundo de verdade" podemos nós encontrar em todas as críticas que se fazem ao Estado das coisas, pois todas elas, sem excepção, acabam por reflectir o reconhecimento de problemas que nos surgem naturalmente no espírito: pobreza, criminalidade, desigualdade etc.

O que distingue os indivíduos ao nível ético e humano não é a colocação de problemas, mas a sua interpretação e escolha de soluções apontadas.

Quando para combater a pornografia, a crise de valores, a preguiça, a crise no ensino ou a cobiça, o senhor Wright implicitamente propõe a limitação das liberdades e o corte nas relações multiculturais, denota-se uma tendência muito clara.

Também não é pelo simples facto de um comunista "dizer umas verdades" sobre as desigualdades sociais que isso vem desculpar ou atenuar os crimes do Estalinismo ou Maoísmo. O próprio Hitler também soube apaixonada, radical e fascinantemente denotar "umas verdades" sobre a humilhação internacional, crise económica e temor do comunismo na sua Alemanha natal e assim fundamentar a perseguição de judeus e outras minorias e criar o mais criminoso dos regimes do século XX europeu!

Tenhamos cuidado com esses "iluminados" da verdade, tão raros, fascinantes, intensos, polémicos e radicais, ou não tarda estaremos a "admirar" a obra de sangue que tendem a deixar-nos com a sua falta de mansidão!

Também não substimes Ary o poder dos discursos e o peso da palavra, ao julgar a "mansidão" dos actos ;)

E sobre os motivos por que Obama frequentava a sua Igreja, dado que ele depois da crítica pública e queda nas sondagens eleitorais de 2008 veio dizer que estava " outraged by the comments that were made and saddened by the spectacle (...) The person that I saw was not the person that I met 20 years ago. His comments were not only divisive and destructive, but I believe that they end up giving comfort to those who prey on hate, and I believe that they do not portray accurately the perspective of the black church (...)", bem, parece que afinal não deve ter sido atraído por esse espírito polémico e radicalismo nas palavras de que falas, já que aparentemente em 20 anos nunca reparou nele lol.

Ary disse...

Muitas vezes é útil ouvirmos algumas coisas com as quais não concordamos. Elas são indispensáveis para a maturação das nossas convicções.

Quando alguém faz uma oração/discurso com esta intensidade há qualquer coisa a admirar e muita coisa a criticar. Admiração e repulsa não são por si só mutuamente exclusivas.

Ferreira Ribeiro disse...

Correndo o risco (consciente) de repetir algum dos argumentos esgrimidos quer pelo Ary quer por Robespierre mas respondendo ao repto do João, parece-me que aquilo em que as palavras do Reverendo não são correctas é no facto de associarem uma data de valores que todos os que partilhamos uma visão democrática, progressista, fundada na dignidade da pessoa humana, tolerante e aberta ao diálogo da sociedade hodierna partilhamos a uma série de pecados, de denegações da Palavra (para os crentes) ou de vícios condenáveis dessa mesma sociedade (para abrir a discussão aos não crentes) cuja vigência todos reconhecemos. As palavras do Reverendo tornam-se injustificáveis pelo facto de este não condenar as perversões desses valores, os maus usos que lhe podem e têm vindo a ser dados e que vão sendo aceites e praticados por muitos como expressões puras dos valores em causa. Ou seja, não são estes valores que devem ser criticados mas sim o seu corrente mau uso.

Diria "amen" com o Reverendo no final desta oração se ele dissesse que temos vindo a chamar bem estar social a coisas que na verdade não passam da apologia da preguiça. Diria "amen" se ele dissesse que a procura louca, desenfreada e imoral do progresso sem olhar aos meios utilizados é uma deformação e um desrespeito por valores que devemos respeitar acima de tudo. Diria "amen" se ele dissesse que temos vindo a idolatrar o dinheiro e a fama fundada em feitos tontos e imbecis como novos deuses.

Se concordo que temos vindo a ridicularizar a verdade absoluta da Palavra, a idolatrar outros deuses, a patrocinar a perversão, a explorar os pobres, a ignorar os mais necessitados, a matar crianças e a negligenciar a sua educação, a abusar do poder, a cobiçar as coisas do vizinho, a poluir o ar com pornografia e blasfémia e a ridicularizar valores ancestrais dos nossos antepassados, não posso concordar que isso se deva a defendermos o pluralismo, o multiculturalismo, a aceitação de estilos de vida alternativos, o bem-estar social (!) e a construção e aumento da auto-estima associada a uma ambição regrada como caminho para o progresso.

Afinal não acreditamos todos nisto?

Maximilien Robespierre disse...

Amen, mon cher ;)

Francisco disse...

O Esquerdinha foi um bom lateral esquerdo do FCP. Chegaram a dizer que era o novo Roberto Carlos mas as noites em Vigo acabaram por desviá-lo de uma carreira promissora...

Ary disse...

Amen

D. disse...

sim senhoras, o grande esquerdinha. lembro-me bem dele e provavelmente o senhor lourenço terá por casa uma camisola por ele oferecida....
quanto ao discurso, não acha que seja muito surpreendente, mas é verdade que os ateus têm uma visão um pouco radical da igreja. portanto, não deixo de ficar contente ao notar que algumas pessoas crentes reparam no discurso coisas bastante reprováveis. aliás, seriam reprováveis mesmo que proferidas num outro qualquer contexto.

Ary disse...

Há ateus chateados com Deus, há ateus chateados com a Igreja, há os que não acreditam no homem, e só uma pequena minoria não acredita mesmo em Deus =P

TR disse...

Isto de termos um Robespierre a comentar começa a ser engraçado. Sei que este comentário não tem nada a ver com o Post, mas o pitoresco da situação é muito curioso. É que dirigimo-nos a Robespierre sem aspas. Já não é um anónimo encapotado, mas um pseudónimo. Usando o francês do nosso comparsa, tres bien!

D. disse...

bom, eu não me considero chateada com deus... por vezes chateada com os que acreditam em deus! :P mas sim, será muito difícil encontrar alguém que nunca num momento da sua vida, não tenha acreditado ou pelo menos querido acreditar.

sim, robespierre já é uma espécie de cliente deste sítio... várias vezes tenho pensado sobre quem será que está por detrás , isto acreditando que no além não existe internet e blogger. muahaha

jünger disse...

Subscrevo o que genericamente foi sendo dito. Apenas continuo sem concordar com aqueles que veem nas palavras do reverendo um atentado ao pluralismo e á liberdade de expressão. Este mesmo reverendo mais não diz que temos ao longo dos anos camuflado os podres da nossa Sociedade chamando-lhes progresso ou enconbrindo-os com uma veste bonita a fim de sermos diariamente por eles impingidos.
Não vejo no seu discurso mais do que uma apologia de bons Valores e Principios. Sim, admito, talvez a retórica não tenha sido a mais feliz..

P.S. O Esquerdinha nem era mau..

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