quinta-feira, 2 de julho de 2009

Chamando os bois pelos nomes

Manuel Pinho nunca foi conhecido por ser uma pessoa ponderada, ou por medir bem as suas palavras, por isso a sua atitude irreflectida nem destoa assim tanto do resto das suas intervenções como Ministro.


Demite-se depois de uma cena "triste", "lamentável", "injustificável", "desprestigiante para o Parlamento". Mas acho que talvez mais triste tenha sido o aproveitamento político da situação que se seguiu, com o desfile de notável dos vários partidos da oposição a verem aqui um sinal de desnorte "dos membros do governo", diziam uns, outros menos "do governo", "reflectindo uma atitude de crispação típica do Primeiro-Ministro"*. Na minha opinião mais "triste", "lamentável", "injustificável" e "desprestigiante para o Parlamento" são estas afirmações, estas extrapolações, estas afirmações demagógicas que tentam vender gato por lebre, embrulhando tudo em psicologismo e dramatização.

Aquilo que eu vi foi um Ministro a ter uma atitude de uma infantilidade ridícula. Quem é que se pode sentir ofendido quando alguém faz de touro à sua frente? Ele só se humilhou perante os deputados presentes e perante todos os portugueses! Isto merecia uma gargalhada geral, o Ministro corava, percebia o que tinha feito, o vídeo corria o Youtube e acabava aqui. Queremos mesmo dar cabo da vida de uma pessoa, que o Ministério da Economia fique a ter um Teixeira dos Santos em part-time, numa altura de crise como esta, por uma questão tão lateral como esta?

Eu não gosto do Manuel Pinho, já não gostava, nunca me pareceu que ele estivesse à altura do que lhe era pedido, mas o senhor esforçava-se, andava a correr o país a tentar fazer com que as empresas não fechassem, a negociar com toda a gente, às vezes a prometer mais do que devia, outras a fazer declarações um pouco bizarras, mas nunca apareceu como uma pessoa perguiçosa, mal intencionada, desonesta ou mesmo totalmente incompetente. Se calhar estou a ser injusto, mas pareceu-me ser simplesmente um mediocre esforçado para um tempo em que isso não chegava.

Erros todos os cometemos. Infantilidades todos as temos. Muitas vezes a única diferença é que não estão lá câmeras para nos apanhar e ser-se ou não Ministro parece-me aqui secundário. Se um executivo faz isto numa empresa a outro é despedido ou demite-se? Tenhamos a decência de tomar as coisas pelo que elas são e não pelo que gostariamos de fazer delas.


*As palavras não pretendem ser exactas, mas a formulação foi mais ou menos esta.

9 comentários:

Maximilien Robespierre disse...

A questão não é apenas essa, mon cher Ary.

Já que não tenho muitas ocasiões para concordar com o autarca de Gaia, LFM, aproveito agora para ter essa invulgar experiência:

Quando ele afirma que "Sem deixar de considerar condenável a atitude do ministro, há palavras e insultos contra membros do Governo e contra o próprio primeiro-ministro que se calhar são bem mais graves do que este impensado e condenável acto. Chamar ladrões uns aos outros, fazer insinuações sobre a idoneidade das pessoas, isso, deixa-se passar. Esta é a altura de pormos em paralelo as duas situações".

Bem visto! É inacreditável este país em que "fazer corninhos" é considerado um crime de lesa majestade, digno de condenação pelo Presidente da República e classe política em geral... mas dizer que "o Primeiro Ministro tem uma relação elástica com a verdade", acusar A de ser joguete nas mãos da alta finança, B de mentir compulsivamente, C de só agir por interesses obscuros, D de ser ladrão e E corrupto... ah isso já é normalíssimo no ambiente político português!

Lembrou-me este episódio aquele do Afonso Candal do PS com o Eduardo Martins do PSD: o primeiro lembrou-se assim do nada, sem qualquer prova, sem qualquer fundamento, de insinuar que o social democrata estava a defender uma qualquer posição não em nome do interesse dos contribuintes, mas por uns interesses "legítimos ou não". O Eduardo Martins não se conteve e ali mesmo o mandou para o cara**o.

Resultado: nesse mesmo dia estava a comunicação social indignada! Mas indignada pelo facto de um deputado da Nação se lembrar, por pura politiquice e pobreza argumentativa, de enxovalhar um seu par, pôr o seu nome na lama, atingindo-o na sua integridade, o bem mais precioso que um Homem deve ter? Não, que ideia! Neste país de faroleiros e novos ricos, em que a forma prevalece sobre a substância, a asneira do tipo que via ali o seu bom nome posto em causa é que é errado pois claro!

Aliás, é notável: a imagem da Assembleia anda pelas ruas da amargura. Desde a Primeira República não deve haver memória de um Governo que tenha tido com a Assembleia pior relação, mais afrontosa, mais crispada, mais desrespeitosa e baseada na ironia do insulto velado!

Mas depois se alguém faz "corninhos", aqui del rei!, que está em causa a relação institucional entre Governo e a AR?

Hipócritas!

Ary disse...

Concordo perfeitamente. O problema do Manuel Pinho foi ter sido original. Se tivesse chamado mentiroso, corrupto, ladrão ou qualquer outra coisa a um deputado era capaz de aparecer no jornal em nota de rodapé e já ninguém falava no assunto, como não é todos os dias que alguém leva as mãos à cabeça para fazer aquele gesto sai.

Nós temos uma política muito fraquinha...

Canoas o mercenário disse...

Eu vi na RTP os "apanhados" da politica nos ultimos tempos. E sinceramente, nos todos ouvimos os insultos e bocas quando os microfones estao desligados... acho que o gajo fez simplesmente figura de Urso.
Se ele tivesse mostrado o Dedo!!! Era outra historia... Mas pronto.
Acho que ele nao foi o melhor ministro, nem pouco mais ou menos, dado que pelo que eu vi dele, mostrou ser bastante incapaz. No entanto as empresas gostavam dele e elas é k têm de gostar....

Sinceramente as bocas que o socrates mandou à heloisa apolonia num debate ja ha 2 anos foram bem piores que o gesto do ministro

Canoas o mercenário disse...

Oh.... E ja nem falo que se isto fosse na madeira... BOM ... Era mais um dia perfeitamente normal :)

João Fachana disse...

Concordo perfeitamente quando se diz que o gesto do Manuel Pinho foi completamente exagerado pela comunicação social e pelos deputados. Aliás, eu comecei a ver o debate já o gesto tinha acontecido e ouvia todos a falarem no gesto escandaloso e inclusivé a comunicação social, na altura até imaginava que o ministro tivesse mostrado o dedo ou até mostrado o seu traseiro para o bernardino soares,quando vi o tal gesto ri-me de tão ridícula que tinha sido o gesto em proporção com o que fizeram dele, já que já existiram atitudes bem piores naquele ninho de cucos.
Agora, Ary, não posso concordar contigo quando dizes que é ridículo indicar esta situação como desnorte do governo. Aliás, o que transpareceu é que bastou este pequeno gesto infantil para que o ENGº demitisse (ou melhor, aceitasse a demissão) prontamente o Ministro, como que se tivesse medo de o manter no governo depois desta graçola. E acho que concordas comigo que se calhar hoje o assunto já estava arrumado se o Sócrates não o tivesse demitido. Isto já para não falar na indicação também célere do Teixeira do Santos para a pasta da Economia, sem sequer aparentemente ter informado antes o P.R. Um Sócrates no início do mandato teria certamente reagido de cabeça fria, adiando a resposta a este incidente para um momento posterior e não dando de bandeja a cabeça do ministro à oposição como o fez. Um Sócrates no início do mandato teria certamente feito um discurso para as televisões, além da desculpa que em todo o caso era necessária e inevitável, nos mesmos moldes em que tu escreveste este texto.
Agora um Sócrates em fim de mandato, depois do banho das europeias, treme como varas verdes a cada precalço que ocorre na sua governação, reagindo a medo, pelo que cria menos polémica. Porque ele está com medo de perder o Poder, já que, se isso acontecer, pode muito bem vir a perder também o PS, mas isso saberás melhor que eu.
De todo o modo, poderemos assistir nestes últimos 3 meses a uma implosão do governo se episódios infantis como estes se repetirem. Agora parece que bastará mais uma gafe do Mário Lino ou a descoberta de um buraco financeiro ainda maior para descridibilizar as declarações de Teixeira dos Santos(esta última espero bem que não) para que se sigam novas demissões.
E os resultados da investigação do FREEPORT anunciados uma semana antes das legislativas poderiam bem ser a cereja no topo do bolo, ou melhor dizendo, o dedo que acciona o detonador.

Ary disse...

Não é uma leitura que eu faça. As motivações do Sócrates só ele as conhece e podem ser essas ou outras e os nexos psicológicos são sempre difíceis de determinar. Claro que ele não quer escândalo, sobretudo no fim do mandato, claro que ele se quer descolar de tudo o que possa parecer mal agora mais que nunca, mas isso pode ser calculismo e não desnorte por muito que os conceitos se pareçam opor.

José Silva Oliveira disse...

O gesto é lamentável como são tantos outros. O problema está no facto dos outros não serem condenados publicamente e regularmente. Não está no facto deste ter sido.

Mas, ainda sobre o cargo do qual Manuel Pinho foi demitido, existe um problema maior: faz realmente sentido existir um Ministério da Economia?

Cumprimentos,

Ary disse...

Este gesto, como outros gestos menos físicos, são de lamentar, mas este, até por ser objectivamente menos grave que os outros, não deveria ganhar as proporções que ganhou.

Se me dizes que não devia haver ministério da economia eu começo a dizer que não devia haver ministério da defesa.

Canoas o mercenário disse...

ca para mim isto dos ministérios tem muito que se lhe diga.
O ministério so serve, se efectivamente funcionar ce tiver pesoas competentes

Ex. o ministerio do ambiente, simplesmente esteve parado durante 4 anos. É k literalmente nao fez nada.

Ja o das obras publicas devia ter estado quieto pois so fez asneiras. Desde o famoso alcochete jamé, ao grandioso projecto feito em cima do joelho, sem qualquer considerção pelas populações, chamado alargamento do metro do porto. :S

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