terça-feira, 28 de julho de 2009

É só fazer as contas

"O PSD é mais despesista do que o PS, segundo um estudo do professor Ricardo Reis*. Os governos de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes foram os que mais contribuíram para o aumento da despesa do Estado. (...) Pode argumentar-se que assim foi devido aos compromissos de Guterres, mas o aumento acontece sobretudo no final de mandato com Bagão Félix na pasta das Finanças. (...) o contributo do PSD para o monstro da despesa pública é quase o dobro do do PS. Na análise dos últimos governos, desde a maioria absoluta de Cavaco, se for colocado de lado o esforço para combater a crise no primeiro trimestre deste ano, são os ministros socialistas Campos e Cunha e Teixeira dos Santos os únicos a conseguir reduzir o tamanho do monstro. Outros dados do estudo: as maiorias absolutas gastam menos do que os governos minoritários. A explicação possível é de que os minoritários cedem a mais interesses e têm menos poder para com a Administração Pública."


*Professor de Macroeconomia na Universidade de Columbia e doutorado em Harvard.

9 comentários:

Maximilien Robespierre disse...

Ary, compreendo que tenhas centrado o teu comentário navertente "politiqueira" da notícia, já que aparentemente só soubeste do ensaio de Ricardo Reis pelo medíocre resumo da TSF. Recomendo contudo a leitura do texto original no "I", para que vás além da pura trivialidade partidária. Descobrirás lá coisas muito mais importantes, que decerto darão menos que falar, mas que num país de gente séria estariam a ser o centro das preocupações:

O Estado português consome anualmente mais de 8700 milhões de €. Não se inclui nesse valor o investimento público nem as transferências, pois isso não é tido aqui como consumo, mas redistribuição. Aquela medida refere-se apenas aos recursos devorados pelo monstro! Também o rácio consumo público/pib tem aumentado continuamente, estando nos 22%, superando o da zona euro.

Dados preocupantes: De cada vez que é necessário reequilibrar um défice de 1%, a tendência é para o aumento de impostos em 0,9%. Ou seja, em Portugal, quando a despesa sobe e surge um défice, em média isso leva, a um aumento de impostos que cobre quase a totalidade do aumento inicial. Em 1992(Cavaco Silva) o défice subiu para 7,2% do PIB e o peso da carga fiscal na economia subiu de 30,9 para 33,1%. Com a crise de 2001 (transição Guterres/Barroso) subiu de 34,8 para 36% e com Sócrates, a revisão das estimativas do BdP para o défice (6,8%), levou o Governo a subir a carga fiscal de 35,2 para 37,8% do PIB.

PSD e PS vêm agora em campanha eleitoral prometer que desta vez é que é, que definitivamente não subirão os impostos se forem Governo. Mas AMBOS os "partidos da alternância", com estas mesmas caras, demonstraram sempre incapacidade de fazer face ao aumento da despesa e da dívida por outra qualquer via que não a do aumento dos impostos. Reduções de despesa nunca foram mais do que pura cosmética!

Mas o pior dos dados do ensaio no "I" refere-se à composição da despesa pública: cerca de 90% dos 23,4 mil milhões de € nas despesas da Adm. Central é de difícil redução; 54% refere-se a custos na Saúde e SSocial. A factura do pagamento de juros da Dívida Pública ascende a 12,5%! Há uma grande rigidez nos componentes da despesa, o que dificulta qualquer programa articulado para a sua redução. E dentro do consumo público a principal fatia está nos salários! Sendo este o cerne do problema, não tem havido capacidade política para o enfrentar: este ano o Governo espera apenas poupar 0,2 pontos do PIB com as remunerações. E a reforma da AP nesta área traduziu-se apenas em transferência do valor de salários para despesas na Caixa Geral de Aposentações (porque a saída dos funcionários dá-se por via da aposentação).

Mas há mais: Até 2039 estão previstos 35 mil milhões de € em gastos públicos com as PPPs. Como vão pagar tudo isto? Recordam-me estes dados uma discussão que tivemos há tempos sobre "despesismo" e "boa despesa". O Governo tenta resolver a crise mediante aumento da despesa, acreditando que aí reside a solução. Talvez isso mantenha alguns empregos. Talvez ajude algumas empresas já incapazes de sobreviver no mercado a aguentar artificialmente durante mais uns meses/anos. Talvez seja bonito para "fazer obra". Mas a prazo? Cada ano, 12% de toda despesa do Estado é para pagar juros de dívida passada. Neste momento, várias projecções apontam para que o conjunto da dívida pública venha muito brevemente a superar o valor do PIB. Que gerações verão o seu futuro hipotecado por estas opções que apenas contemplam um horizonte temporal de 1 a 2 eleições?

E segundo Ricardo Reis, a tendência é pior com governos minoritários. Agora, as projecções apontam também para que venha a faltar uma maioria, seja qual for o partido "vencedor". Num país sem tradições de diálogo e compromisso social, isto é um albatroz de muito mau agoiro :(

Bem, a ciência pesa tanto e a vida é tão breve! Acho que por agora vou seguir o conselho do Pessoa e ficar alegremente inconsciente. Está sol por aqui. Vou voltar a olhar o mar. Aconselho-te a fazer o mesmo e disfrutar das férias ;)

:D au revoir!

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

caro Max,

cada vez mais se vai notando falhas na sua salutar imparcialidade.

eu gosto disso (muito, até), mas estou só a avisá-lo, não vá depois alguém que goste menos avisá-lo.

Maximilien Robespierre disse...

Mon cher Manuel,

Ça va?

Agradeço o aviso, mas acredita ser desnecessário.

As pessoas estão tão expostas à crítica como à gripe comum. Acontece a todos. Hubbard dizia que para fugir à crítica há apenas uma solução: não fazer nada, não dizer nada, não ser nada. Quem se assume interveniente activo tem de estar disposto a opinar e assumir uma posição. Confundes talvez o ser-se imparcial com o ser-se morno e insosso, desprovido de coluna e eternamente adaptável a todos os gostos. Não o sou. Direi coisas com que alguns concordarão, outros não. Certos comentários serão mais consensuais, outros menos. Mas o que digo é o que acredito ser correcto. Mudarei de posição mediante contra argumentos ponderosos; o "logos", como diria a "Legião". Não me calarei por avisos de quem goste menos. Aliás, a maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas dizerem mal, é ninguém dizer nada. Estou certo que no Odisseia também se concordará com isso ;)

Au revoir e bom Jantar!

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Maximilien,

tens razão, de facto confundi o imparcial com o insosso.

João Fachana disse...

Epa, Ary não sabia que o blog da SDD também servia para propaganda política. Daqui a uns meses vais ver um estudo de outro Ilustre Professor a dizer o contrário... É o jogo da batata quente.

Anónimo disse...

Robespierre

Quero felicitá-lo pelas sábias palavras.

Aos que me acusam de arrogância, espero que não esteja a vislumbrar uma ameaça nas palavras de Rezende. O típico: quando não há argumentos, passamos à ameaça. Típico de quem joga batalha naval em folhas da Revista Maria...ou faz o sudoku na tv7dias ou lá-como-se-chama-aquela-xxxx.

"Insosso". Um adjectivo interessante. Quando bem aplicado. Acho que a resposta do Monsieur Robespierre foi bastante amargo para o seu sentido do gosto. Trocaria Insosso por Amargo.

Doce amargura da Incongruente Altivez
Torpe o sentido de toda a efeverscência estética
Confunde o Amor casual com a causal Ética
E julga-nos até à íntima e peculiar insensatez

( vá, não está muito bom. Além disso não está no Google. Não percam tempo a encontrar Plágios)

Cura ut valeas
Légion

Anónimo disse...

Quanto ao estudo , taradices... Politiquices... Mesquenhices...

Ary disse...

Tenho estado calado porque estou de férias em S. Martinho, onde não tenho internet facilmente.

O meu objectivo não era fazer propaganda era espevitar o blog. Como o sexo não resultou, fui para a política =).

Claro que o estudo tem o valor que tem, que há outros dados importantes, etc. mas o interessante do estudo é ter conclusões ... vá ... contraintuitivas.

Anónimo disse...

http://www.monde-diplomatique.fr/2008/11/HARRIBEY/16473

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