Não obviamente pela presciência de Peter Schiff, de longe um dos "ursos" cujas opiniões mais vim a respeitar, pela sua prudência, discernimento e sensatez, um dos poucos corretores que consegue evitar a mentalidade de rebanho e a cegueira gananciosa que impera em Wall Street.
Não, estou surpreso contigo, caro Ary. Pensava que te enquadravas nos partidários dessa sinistra esquerda socialista, defensora de um maior Estado, apologista do investimento público, fã pueril das políticas intervencionistas do Presidente Obama, que culpa a desregulamentação financeira e o cliche do neoliberalismo pela crise actual.
Portanto, ver-te a reconhecer a exactitude das opiniões do Sr Schiff, apoiante da candidatura Presidencial de Ron Paul, seguidor dos ensinamentos da Escola de Viena e de Hayek, partidário do mercado livre e opositor da regulação estadual, foi de facto uma surpresa.
Apraz-me contudo que partilhes as suas posições. A produção e a poupança são efectivamente as forças motrizes de um crescimento económico sustentado, e não o consumo alicerçado no crédito fácil, como "especialistas" menos avisados muitas vezes parecem crer. Os pacotes de estímulo, os baliouts e outros artifícios do género mais não são que peneiras, que a prazo resultarão num futuro sombrio, em Estados sobreendividados, gerações comprometidas e com o espectro da inflacção à porta...
Vemos hoje a classe política a defender o reforço dos reguladores, o aumento das competências dos bancos Centrais. Mas isso é um erro, só compreensível á luz da ignorância e populismo que grassa na nossa classe política.
Como bem demonstra von Mises, é precisamente a tentativa por parte dos Bancos Centrais de manipular as taxas e tentar controlar o complexo e multifacetado Mercado que cria voláteis ciclos de crédito fácil, estimulando artificialmente a economia e permitindo excessivo aumento do dinheiro em circulação. Isso dá falsos sinais ao mercado quanto às tendências económicas, gerando clusters de mau investimento, a prazo insustentáveis (como foi agora o caso do subprime).
É triste ver a cegueira dos nossos dirigentes, que, incapazes de superar os seus preconceitos ideológicos vêm na raiz do cancro a sua cura.
Crêem eles que agora o Mundo caminha para a salvação. Cantemos hossanas, pedem eles, a uma regulação económica fortemente sentida, acreditando que teremos um progresso económico milenar, ao substituirmos as naturais leis do mercado pelas decisões que eles, seres iluminados, pois claro, tomarão nas suas secretarias...
Porque não lembramos hoje Paul Krugman e Alan Greenspan, aquando da crise dot-com, quando a Fed viu na disponibilização de crédito fácil no mercado imobiliário a solução para retirar o país da moribunda situação da economia à época? Talvez assim percebamos melhor que, a prazo, nada prejudica mais a economia do que a vinda dos "sábios" reguladores para chafurdar numa realidade demasiado complexa para que eles a possam beneficamente controlar.
Não percebo é como é que apreciar a capacidade de antecipação de alguém numa questão em particular me impede de discordar dele em muita coisa.
Eu ensino-te como funciona: quando concordas tiras o chapéu, quando não concordas vais explicando porquê.
Eu reconheci a exactidão de uma opinião e não e "exactitude" das suas opiniões.
Quanto ao que fazer para evitar a crise, para a ultrapassar e o que fazer depois dela eu discordo desses senhores. Recordo-te que não sou apenas eu que acha que são eles que estão cegos e que os seus remédios sim nem a peneiras chegam.
Já vimos que qualquer teoria económica levada ao absurdo é ridícula.
O capitalismo pode ser perfeitamente esquizofrénico, o comunismo muito pouco entusiasmante, o keynesianismo naif e o monetarismo cínico e niilista.
Acho que já devíamos ter aprendido que na economia há uns quantos truques, mas não há fórmulas mágicas. E vou tender a concordar com todos os que reconhecerem isto.
Podes certamente discordar do senhor Schiff em múltiplos assuntos, divergindo das suas opiniões. Apenas depreendi que nessas questões deverias estar de acordo com ele, já que reproduzes o vídeo sob o título "I told You so...". Como bem denotas, "quando concordas tiras o chapéu, quando não concordas vais explicando porquê". Como não colocaste quaisquer objecções ao conteúdo do vídeo, percebi que concordavas plenamente com a natureza das suas intervenções.
Agora observa, nesse vídeo Schiff relata o que pensa sobre os malefícios de um "progresso" económico alicerçado no consumo, havendo necessidade de incrementar a produção e a poupança. Logo, depreender-se-ia daí que estarias de acordo com uma política adversa ao endividamento, o que a nível público se traduz na contenção da dívida, por oposição às medidas despesistas.
Paralelamente, está patente no vídeo que aí colocas uma crítica bem clara à política conduzida pela Fed de facilidade de crédito e de artificial aumento do dinheiro em circulação disponível. Logo, serias também, nesse aspecto, um crítico da actuação dos reguladores, que agora se vêm também apresentar como parte da solução.
Se assim não o é, faço aqui o mea culpa e apresento as minhas desculpas.
Quanto à rejeição das "fórmulas mágicas", é evidente que para utopias já bastaram Morus e Proudhon. Apenas verás que na minha anterior intervenção me limitei a criticar a visão maniqueísta dos que rejeitam o conceito "neoliberal", que aliás nem entendem, abraçando ideais keynesianos como se fossem a panaceia de todos os males.
Não posso contudo deixar de reparar que a seguinte observação:
"Recordo-te que não sou apenas eu que acha que são eles que estão cegos e que os seus remédios sim nem a peneiras chegam"
É algo infeliz. Há algo de magister dixit nela, totalmente desnecessário. As opiniões valem por si, pela sua lógica e conteúdo. Vê como o senhor Schiff parecia isolado naqueles debates. Mas, isolado ou não, tinha a verdade consigo, e numa discussão não pode existir melhor companheira.
Finalmente,como colocas o "exactitude" entre aspas e nesse contexto, depreendo que não terás percebido o francesismo correspondente às minhas origens francas ;)
Os argumentos de autoridade nem sempre são falaciosos, procurei recordar-te que não estava isolado da mesma maneira que tu te fartaste de citar autores. É exactamente a mesma tentativa de credibilização de afirmações.
Endividamento quer ao nível público quer ao nível privado tem o seu papel e os seus perigos. São analgésicos. E se por um lado a dor existe por alguma coisa, por outro não seria muitas vezes possível operar sem anestesiar. Não podemos é ficar viciados em analgésicos e não tratar dos nossos problemas.
Ser contra o despesismo não é ser contra a despesa.
Os regulares actuarem mal não quer dizer que eles não devam existir. Claro que a actividade deles é extremamente complexa mas não me parece mais impossível, especialmente considerando a alternativa a haver reguladores que é não haver reguladores.
Creio que se depreenderá do meu torrencial uso de citações, que o intuito nelas é decerto mais a auto-zombaria do que um qualquer reforço argumentativo ;) a falácia do "Roma locuta, causa finita" é de empregar por Claravais incapazes de sustentar uma ideia nas suas próprias valências. Se isso é tolerável, apesar de tudo, nos menos hábeis na arte de bem querelar, já é menos aceitável vinda de um veterano com provas dadas no exercício dessa competência, como é o teu caso.
Sobre os analgésicos, bem, quanto a esses temos aqui um dissenso, pois creio que o endividamento neste caso acaba mais por ser pura distanasia, prolongando artificialmente o que melhor faria em terminar. Os biliões gastos na General Motors, que acabou por falir deviam fazer-nos ponderar se um mero adiamento do inevitável foi o modo mais sensato de utilizar aquele dinheiro. Principalmente porque o mesmo não cresce nas árvores e provém do sobreendividamento Norte-Americano e do crescimento do seu titânico défice. Esta brincadeira, meu caro, acabará por nos custar a todos, e sentiremos deveras as suas implicações futuras...
Continuando, ser contra o despesismo não é efectivamente ser contra a despesa. Mas repara também aí que o problema aqui é estares a considerar como "despesa útil" algo que poderá não o ser se tivermos como perspectiva de fundo um Estado cuja dívida pública supera já e gravemente metade do PIB e tende para o aumento (segundo a Comissão Europeia, em 2010 estaremos a falar de 90% do PIB norte-americano e 80% do Português). Comparar isto com os valores ao tempo do New Deal é puramente anedótico.
Finalmente, claro que devem existir reguladores. O que me causa forte apreensão é o tipo de competências e intenções que lhes querem atribuir. Um regulador atento às práticas bancárias, evitando que clientes comprem gato por lebre sob a bela designação de "aplicações de capital garantido"? Com certeza. Reguladores que previnam a prática de carteis nas panificadoras e gasolineiras? Pois claro. E poderia pensar noutros exemplos.
Mas um regulador que vem decidir a fixação de taxas de juros orientando os mercados num dado sentido? Que opção racional pode ser esta? Isso apenas vem causar distorções artificiais, como bem demonstra o Peter Schiff naquele vídeo.
O caso do subprime é paradigmático, já que assenta primordiamente na política de taxas da Fed, que fomentou a canalização de crédito fácil para uma área que assim cresceu acima do que naturalmente poderia comportar e o resultado final foi, claro, esta explosiva bolha.
O problema está hoje em muito boa gente vir de modo populista alegar que terá sido a excessiva liberdade do Mercado a causar a crise. Não o foi. Chamar "liberal" a qualquer dos dirigentes mundiais da actualidade, sempre tão disponíveis para fomentar a intervenção do Estado na Economia, de uma maneira ou de outra, é um pensamento risível e perigoso. Veremos o que acontecerá dentro de alguns anos, após este "novo Bretton Woods".
Acho que dificilmente se estará a criar um novo seja o que for, quanto mais um novo Brenton Woods. Tenho expectativas muito baixas quanto qualquer alteração para bem ou para mal.
Há inevitabilidades e evitabilidades. Pode dar-se morfina a um soldado para ele conseguir suportar as dores e sair dali vivo e isso é bom ou para prolongar além do razoável a vida e o sofrimento de alguém. O mesmo acontece com as anestesias deste tipo. Vou confiando na competências dos médicos destas doenças.
Acho que com responsabilidade, profissionalismo, prudência e sem eleitoralismos (perigo que hoje creio afastado na Europa e nos EUA) é possível não descartarmos a taxa de juro como um instrumento ao serviço da suavização dos ciclos económicos.
A crítica feita ao liberalismo a propósito desta crise pode ser injusta por ser simplista, mas não é de todo absurda. Claro que houve populismos e aproveitamentos políticos, mas como dizia António Aleixo "mentira para ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura sempre um pouco de verdade".
E bolhas especulativas tem-nas por ventura mais o capitalismo que a regulação.
Per aspera ad astra! Fez-se luz nesta nossa querela. O que nos distingue pois, na análise da realidade, mais não é do que uma questão de Fé!
Tu caro Ary és notoriamente mais optimista que moi. Talvez por ter tido a infelicidade de privar com o brinquedo do senhor Guillotin, terei uma mundividência menos animadora.
Desde logo, porque tenho maiores expectativas no facto de ao mexerem ainda mais nos cestos, aqueles senhores irem quebrar mais ovos.
A competência dos médicos destas doenças, a julgar pelas palavras do nosso ilustre Vítor Constâncio, poderá não ser das melhores. Ao que parece os "doutores" do Ministério Público, das auditorias e os seus próprios vice-governadores deixaram muito a desejar. Será que ao menos sobra ele, qual Fernando Nobre com quem possamos contar? Uhm, I wonder...
O eleitoralismo, um perigo afastado na Europa e nos EUA? Bem não precisamos de ir muito longe para comprovar essa tão evidente observação. É óbvio que o nosso actual Primeiro Ministro Pinto de Sousa, ao contrário do Primeiro Ministro Pinto de Sousa que tínhamos antes das Europeias, é um homem ponderado, humilde, autêntico e nada eleitoralista...
Mas enfim, é sempre melhor ser-se optimista que pessimista. No final, quando tudo correr mal, o optimista sempre terá sofrido menos ;)
Não se podem culpar os médicos pelas doenças. Médicos têm como fado começar sempre a perder e nem sempre conseguem dar a volta ao resultado. Daí termos de apostar na medicina preventiva. A melhor forma de curar um doente é fazer com que ele não adoeça e talvez seja aí que os médicos reais e os médicos metafóricos mais têm para caminhar.
Não é apenas o optimismo, mas ele é capaz de contar por boa parte das nossas divergências.
Quanto aos eleitoralismos eu referia-me à variação das taxas de juro por motivos eleitoralistas e não a outras coisas.
11 comentários:
Mon Cher Ary,
Estou verdadeiramente surpreendido.
Não obviamente pela presciência de Peter Schiff, de longe um dos "ursos" cujas opiniões mais vim a respeitar, pela sua prudência, discernimento e sensatez, um dos poucos corretores que consegue evitar a mentalidade de rebanho e a cegueira gananciosa que impera em Wall Street.
Não, estou surpreso contigo, caro Ary. Pensava que te enquadravas nos partidários dessa sinistra esquerda socialista, defensora de um maior Estado, apologista do investimento público, fã pueril das políticas intervencionistas do Presidente Obama, que culpa a desregulamentação financeira e o cliche do neoliberalismo pela crise actual.
Portanto, ver-te a reconhecer a exactitude das opiniões do Sr Schiff, apoiante da candidatura Presidencial de Ron Paul, seguidor dos ensinamentos da Escola de Viena e de Hayek, partidário do mercado livre e opositor da regulação estadual, foi de facto uma surpresa.
Apraz-me contudo que partilhes as suas posições. A produção e a poupança são efectivamente as forças motrizes de um crescimento económico sustentado, e não o consumo alicerçado no crédito fácil, como "especialistas" menos avisados muitas vezes parecem crer. Os pacotes de estímulo, os baliouts e outros artifícios do género mais não são que peneiras, que a prazo resultarão num futuro sombrio, em Estados sobreendividados, gerações comprometidas e com o espectro da inflacção à porta...
Vemos hoje a classe política a defender o reforço dos reguladores, o aumento das competências dos bancos Centrais. Mas isso é um erro, só compreensível á luz da ignorância e populismo que grassa na nossa classe política.
Como bem demonstra von Mises, é precisamente a tentativa por parte dos Bancos Centrais de manipular as taxas e tentar controlar o complexo e multifacetado Mercado que cria voláteis ciclos de crédito fácil, estimulando artificialmente a economia e permitindo excessivo aumento do dinheiro em circulação. Isso dá falsos sinais ao mercado quanto às tendências económicas, gerando clusters de mau investimento, a prazo insustentáveis (como foi agora o caso do subprime).
É triste ver a cegueira dos nossos dirigentes, que, incapazes de superar os seus preconceitos ideológicos vêm na raiz do cancro a sua cura.
Crêem eles que agora o Mundo caminha para a salvação. Cantemos hossanas, pedem eles, a uma regulação económica fortemente sentida, acreditando que teremos um progresso económico milenar, ao substituirmos as naturais leis do mercado pelas decisões que eles, seres iluminados, pois claro, tomarão nas suas secretarias...
Porque não lembramos hoje Paul Krugman e Alan Greenspan, aquando da crise dot-com, quando a Fed viu na disponibilização de crédito fácil no mercado imobiliário a solução para retirar o país da moribunda situação da economia à época? Talvez assim percebamos melhor que, a prazo, nada prejudica mais a economia do que a vinda dos "sábios" reguladores para chafurdar numa realidade demasiado complexa para que eles a possam beneficamente controlar.
Laissez faire, mes amis, laissez faire,
Um abraço Jacobino,
Maximilien Robespierre
Não percebo é como é que apreciar a capacidade de antecipação de alguém numa questão em particular me impede de discordar dele em muita coisa.
Eu ensino-te como funciona: quando concordas tiras o chapéu, quando não concordas vais explicando porquê.
Eu reconheci a exactidão de uma opinião e não e "exactitude" das suas opiniões.
Quanto ao que fazer para evitar a crise, para a ultrapassar e o que fazer depois dela eu discordo desses senhores. Recordo-te que não sou apenas eu que acha que são eles que estão cegos e que os seus remédios sim nem a peneiras chegam.
Já vimos que qualquer teoria económica levada ao absurdo é ridícula.
O capitalismo pode ser perfeitamente esquizofrénico, o comunismo muito pouco entusiasmante, o keynesianismo naif e o monetarismo cínico e niilista.
Acho que já devíamos ter aprendido que na economia há uns quantos truques, mas não há fórmulas mágicas. E vou tender a concordar com todos os que reconhecerem isto.
Não percebo porque mudaste de nome Manuel.
Mon Cher Ary,
Nem eu disse o contrário do que afirmas.
Podes certamente discordar do senhor Schiff em múltiplos assuntos, divergindo das suas opiniões. Apenas depreendi que nessas questões deverias estar de acordo com ele, já que reproduzes o vídeo sob o título "I told You so...". Como bem denotas, "quando concordas tiras o chapéu, quando não concordas vais explicando porquê". Como não colocaste quaisquer objecções ao conteúdo do vídeo, percebi que concordavas plenamente com a natureza das suas intervenções.
Agora observa, nesse vídeo Schiff relata o que pensa sobre os malefícios de um "progresso" económico alicerçado no consumo, havendo necessidade de incrementar a produção e a poupança. Logo, depreender-se-ia daí que estarias de acordo com uma política adversa ao endividamento, o que a nível público se traduz na contenção da dívida, por oposição às medidas despesistas.
Paralelamente, está patente no vídeo que aí colocas uma crítica bem clara à política conduzida pela Fed de facilidade de crédito e de artificial aumento do dinheiro em circulação disponível. Logo, serias também, nesse aspecto, um crítico da actuação dos reguladores, que agora se vêm também apresentar como parte da solução.
Se assim não o é, faço aqui o mea culpa e apresento as minhas desculpas.
Quanto à rejeição das "fórmulas mágicas", é evidente que para utopias já bastaram Morus e Proudhon. Apenas verás que na minha anterior intervenção me limitei a criticar a visão maniqueísta dos que rejeitam o conceito "neoliberal", que aliás nem entendem, abraçando ideais keynesianos como se fossem a panaceia de todos os males.
Não posso contudo deixar de reparar que a seguinte observação:
"Recordo-te que não sou apenas eu que acha que são eles que estão cegos e que os seus remédios sim nem a peneiras chegam"
É algo infeliz. Há algo de magister dixit nela, totalmente desnecessário. As opiniões valem por si, pela sua lógica e conteúdo. Vê como o senhor Schiff parecia isolado naqueles debates. Mas, isolado ou não, tinha a verdade consigo, e numa discussão não pode existir melhor companheira.
Finalmente,como colocas o "exactitude" entre aspas e nesse contexto, depreendo que não terás percebido o francesismo correspondente às minhas origens francas ;)
Saudações jacobinas,
Maximilien Robespierre
Os argumentos de autoridade nem sempre são falaciosos, procurei recordar-te que não estava isolado da mesma maneira que tu te fartaste de citar autores. É exactamente a mesma tentativa de credibilização de afirmações.
Endividamento quer ao nível público quer ao nível privado tem o seu papel e os seus perigos. São analgésicos. E se por um lado a dor existe por alguma coisa, por outro não seria muitas vezes possível operar sem anestesiar. Não podemos é ficar viciados em analgésicos e não tratar dos nossos problemas.
Ser contra o despesismo não é ser contra a despesa.
Os regulares actuarem mal não quer dizer que eles não devam existir. Claro que a actividade deles é extremamente complexa mas não me parece mais impossível, especialmente considerando a alternativa a haver reguladores que é não haver reguladores.
Confesso que não percebi o francesismo.
Mon Cher Camarade,
Creio que se depreenderá do meu torrencial uso de citações, que o intuito nelas é decerto mais a auto-zombaria do que um qualquer reforço argumentativo ;) a falácia do "Roma locuta, causa finita" é de empregar por Claravais incapazes de sustentar uma ideia nas suas próprias valências. Se isso é tolerável, apesar de tudo, nos menos hábeis na arte de bem querelar, já é menos aceitável vinda de um veterano com provas dadas no exercício dessa competência, como é o teu caso.
Sobre os analgésicos, bem, quanto a esses temos aqui um dissenso, pois creio que o endividamento neste caso acaba mais por ser pura distanasia, prolongando artificialmente o que melhor faria em terminar. Os biliões gastos na General Motors, que acabou por falir deviam fazer-nos ponderar se um mero adiamento do inevitável foi o modo mais sensato de utilizar aquele dinheiro. Principalmente porque o mesmo não cresce nas árvores e provém do sobreendividamento Norte-Americano e do crescimento do seu titânico défice. Esta brincadeira, meu caro, acabará por nos custar a todos, e sentiremos deveras as suas implicações futuras...
Continuando, ser contra o despesismo não é efectivamente ser contra a despesa. Mas repara também aí que o problema aqui é estares a considerar como "despesa útil" algo que poderá não o ser se tivermos como perspectiva de fundo um Estado cuja dívida pública supera já e gravemente metade do PIB e tende para o aumento (segundo a Comissão Europeia, em 2010 estaremos a falar de 90% do PIB norte-americano e 80% do Português). Comparar isto com os valores ao tempo do New Deal é puramente anedótico.
Finalmente, claro que devem existir reguladores. O que me causa forte apreensão é o tipo de competências e intenções que lhes querem atribuir. Um regulador atento às práticas bancárias, evitando que clientes comprem gato por lebre sob a bela designação de "aplicações de capital garantido"? Com certeza. Reguladores que previnam a prática de carteis nas panificadoras e gasolineiras? Pois claro. E poderia pensar noutros exemplos.
Mas um regulador que vem decidir a fixação de taxas de juros orientando os mercados num dado sentido? Que opção racional pode ser esta? Isso apenas vem causar distorções artificiais, como bem demonstra o Peter Schiff naquele vídeo.
O caso do subprime é paradigmático, já que assenta primordiamente na política de taxas da Fed, que fomentou a canalização de crédito fácil para uma área que assim cresceu acima do que naturalmente poderia comportar e o resultado final foi, claro, esta explosiva bolha.
O problema está hoje em muito boa gente vir de modo populista alegar que terá sido a excessiva liberdade do Mercado a causar a crise. Não o foi. Chamar "liberal" a qualquer dos dirigentes mundiais da actualidade, sempre tão disponíveis para fomentar a intervenção do Estado na Economia, de uma maneira ou de outra, é um pensamento risível e perigoso. Veremos o que acontecerá dentro de alguns anos, após este "novo Bretton Woods".
Saudações Jacobinas,
Maximilien Robespierre
Acho que dificilmente se estará a criar um novo seja o que for, quanto mais um novo Brenton Woods. Tenho expectativas muito baixas quanto qualquer alteração para bem ou para mal.
Há inevitabilidades e evitabilidades. Pode dar-se morfina a um soldado para ele conseguir suportar as dores e sair dali vivo e isso é bom ou para prolongar além do razoável a vida e o sofrimento de alguém. O mesmo acontece com as anestesias deste tipo. Vou confiando na competências dos médicos destas doenças.
Acho que com responsabilidade, profissionalismo, prudência e sem eleitoralismos (perigo que hoje creio afastado na Europa e nos EUA) é possível não descartarmos a taxa de juro como um instrumento ao serviço da suavização dos ciclos económicos.
A crítica feita ao liberalismo a propósito desta crise pode ser injusta por ser simplista, mas não é de todo absurda. Claro que houve populismos e aproveitamentos políticos, mas como dizia António Aleixo "mentira para ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura sempre um pouco de verdade".
E bolhas especulativas tem-nas por ventura mais o capitalismo que a regulação.
Ia agora confirmar esses dados PIB vs Dívida mas não foi necessário =)
Ah mon ami,
Per aspera ad astra! Fez-se luz nesta nossa querela. O que nos distingue pois, na análise da realidade, mais não é do que uma questão de Fé!
Tu caro Ary és notoriamente mais optimista que moi. Talvez por ter tido a infelicidade de privar com o brinquedo do senhor Guillotin, terei uma mundividência menos animadora.
Desde logo, porque tenho maiores expectativas no facto de ao mexerem ainda mais nos cestos, aqueles senhores irem quebrar mais ovos.
A competência dos médicos destas doenças, a julgar pelas palavras do nosso ilustre Vítor Constâncio, poderá não ser das melhores. Ao que parece os "doutores" do Ministério Público, das auditorias e os seus próprios vice-governadores deixaram muito a desejar. Será que ao menos sobra ele, qual Fernando Nobre com quem possamos contar? Uhm, I wonder...
O eleitoralismo, um perigo afastado na Europa e nos EUA? Bem não precisamos de ir muito longe para comprovar essa tão evidente observação. É óbvio que o nosso actual Primeiro Ministro Pinto de Sousa, ao contrário do Primeiro Ministro Pinto de Sousa que tínhamos antes das Europeias, é um homem ponderado, humilde, autêntico e nada eleitoralista...
Mas enfim, é sempre melhor ser-se optimista que pessimista. No final, quando tudo correr mal, o optimista sempre terá sofrido menos ;)
Um Abraço jacobino,
Maximilien Robespierre
Não se podem culpar os médicos pelas doenças. Médicos têm como fado começar sempre a perder e nem sempre conseguem dar a volta ao resultado. Daí termos de apostar na medicina preventiva. A melhor forma de curar um doente é fazer com que ele não adoeça e talvez seja aí que os médicos reais e os médicos metafóricos mais têm para caminhar.
Não é apenas o optimismo, mas ele é capaz de contar por boa parte das nossas divergências.
Quanto aos eleitoralismos eu referia-me à variação das taxas de juro por motivos eleitoralistas e não a outras coisas.
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