terça-feira, 9 de junho de 2009

uma coisa chamada Ética Republicana

Bastará a um partido estar em funções para ter legitimidade para condicionar a vida político/económica do país, mesmo quando se torna claro que a população não apoia as decisões políticas desse governo?

Em Portugal sim, claro. Mas Portugal não é um país civilizado a ponto de ter uma tradição democrática séria.

Vejamos outros países, com graus de civilização superiores e até próximos do nosso.

Em Inglaterra, por exemplo, vários são os Primeiro-Ministros que resignam dos seus cargos antes do fim do mandato. Ora, isto dá-se devido a alguma cláusula constitucional, tão ciosamente aguardada pela esquerda daqui do sítio?
Nada disso.
Margaret Thatcher deixou o cargo após ter notado uma profunda oposição por parte do seu próprio partido. Não havia qualquer obrigação formal para que o fizesse.
Neville Chamberlain também é um exemplo de resignação famosa, porque as suas políticas de negócios estrangeiros correu horrivelmente mal.
Mas vá lá, a Grã-Bretanha não tem constituição escrita, esses bárbaros costumeiros.

Em Itália, Romano Prodi resignou após perder o voto de confiança do Parlamento. Nada, no entanto, o obrigava a isso.

Em que consiste esta estranha ética republicana? Porque faz este ser invisível, esta informalidade, este tipo de coisa estranha, que é fabricar a demissão de governos?
Logo a tal informalidade, logo aquele princípio do Estado de Direito que não está subscrito na nossa sacrossanta constituição! Oh, por Zeus, que eu vejo tão boas cabecinhas desta boa casa a andar às voltas e voltas, de consternação e pesar.

Esse tipo de coisas explica-se facilmente.
É muito fácil admitir que a autoridade do governo socialista saiu minada destas últimas eleições.
Digam o que disserem, que a derrota foi de um ex-comunista, que a derrota foi partilhada pela geralidade dos partidos socialistas da Europa. A verdade é que o Partido Socialista português foi o partido socialista que mais votos perdeu nas eleições europeias. O povo português preferiu votar nos neo-liberais "fássistas" do PSD e na extrema-esquerda.

E isto, ao contrário do que parece, tem muita importância. Perder uma eleição não é apenas vir choramingar para os blogues a dizer o quanto se ficou triste e desiludido. Isto da democracia é mesmo assim, uns dias malha-se, outros é-se malhado.

Acontece que quando um governo perde a autoridade que a legitimidade democrática lhe confere, mais facilmente acontecem situações como esta.
E como anda toda a gente muito desiludida com a prestação do governo, e as sondagens e os resultados eleitorais assim o mostram, era de esperar que o governo iniciasse uma era de contenção, pelo respeito dos princípios democráticos, que se baseasse na criação do mínimo possivel de compromissos político/económicos que comprometesse o governo seguinte, principalmente nos casos em que se tem a certeza que o governo seguinte será da oposição.

É este tipo de cavalheirismo, de ética, que marca a política dos países civilizados.

No entanto, este governo não preenche a ética necessária para ser um governo de um país necessário.
Vê-se claramente isto aqui:

Governo à beira de assumir compromissos de construção no TGV

Assim, procuro provar que governo e democracia não é tudo o que está na Constituição, porque se fôssemos todos a seguir à risca a Constituição, não haveria latifúndios.

Há um espírito de democraticidade que ultrapassa o legalismo e o constitucionalismo. Chamem-lhe honra, ética republicana, etc. Invenções chatas, mas é a vida.

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