quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Não destruam os livros!"

"Onde se queimam livros, acaba-se por queimar homens"

Heinrich Heine


A Imprensa Nacional Casa da Moeda vai passar a ter como política a destruição de todos os livros que não sejam vendidos no prazo de 3 anos, diminuindo assim os custos na manutenção e gestão dos stocks. Nos últimos dias tem vindo a contactar os autores avisando-os disso mesmo, logo me parece que não estejamos mais perante uma simples ideia, um projecto, uma ameaça ou um boato. Pelo que consegui apurar estamos a meio da concretização de um plano que terminará com a destruição, a curto prazo, de dezenas de milhares de livros.

O Movimento Internacional Lusófono, reagindo a esta notícia impulsionou uma petição para que a INCM e as restantes editoras nacionais que procurem seguir o seu exemplo não destruam os livros oferecendo-os em vez disso a bibliotecas, escolas, universidades, quer em Portugal, quer nos países lusófonos, quer nos locais ou se aprende e ensina português como língua estrangeira.

Creio que todos os leitores deste blog sentirão repulsa pelo enorme disperdício que isto representa e pelo desrespeito ao livro que subjaz a esta ideia. A petição está disponível aqui.
Peço a todos que procurem divulga-la através de email ou nos vossos blogs.

19 comentários:

D. disse...

não entendo porque é que se conseguem ter sempre as ideias mais estúpidas quando se podiam fazer coisas úteis. enfim :/

Ary disse...

Eu admito que talvez seja mais fácil. Se um livro não se vende em três anos talvez compense mais queima-lo que oferecê-lo, uma vez que isso implica pagar custos de transporte, recolher contactos de milhares de instituições que possam querer os livros, etc. Para mais quando tens dois mil exemplares de um determinado livro em armazém deve ser complicado decidir o que fazer com todos eles enquanto eles continuam a ocupar espaço. Mas neste caso acho que valores mais altos que os económicos se levantam.

JF disse...

Seria boa ideia até, penso eu, disponibilizarem-nos gratuítamente os livros em livrarias, FNAC's e assim. Ou então podiam fazer uma oferta do género: pague 1 leve 2, até seria mais apelativo para eles e para o leitor

JF disse...

Errata: disponibilizarem os livros gratuítamente.É do sono...

Maximilien Robespierre disse...

Disponibilizarem-nos gratuitamente, caro JF? Em que Mundo vive? Isto é Portugal e o sistema é de "capitalismo" à Portuguesa. O ideal de que "o Homem que morre rico, morre desonrado", de justiça social, de filantropia e de retribuição à Sociedade, é prática dos "boçais" norte-americanos. Pensa que um Andrew Carnegie que monte 2800 bibliotecas, museus, salas de concertos e outros projectos educacionais, científicos e de caridade se encontra por estas ruas lusas? Tivemos um estrangeiro da Arménia que veio cá fundar a Gulbenkian e já foi muita sorte...

Pura e simplesmente a mentalidade dos nossos empresários e dirigentes é demasiado mesquinha, sovina e limitada para que consigam chegar a um intuito que vá para além do lucro fácil e imediato...

Mas enfim, costumam ao menos preocupar-se com a má publicidade. Pode ser que se esta petição reunir assinaturas em número considerável,ao menos se dêem ao trabalho de doar alguns livros, nem que seja "para Inglês ver".

Max

TR disse...

Certeiro: causa mesmo repulsa.

(Robespierre: aa propósito, aqui, em Portugal, a biblioteca da Faculdade de Letras não "disponibiliza" gratuitamente. Oferece esses livros que tem a mais. Felizmente, há quem, mesmo para os livros, queira mais que a guilhotina ou que o, arcaico, fogo.)

Ary disse...

Max, concordo com tudo, mas estranho ver um francófono sempre tão anglófilo =)

JF disse...

Max, eu apenas disse que seria uma boa ideia. Não que seria feita aqui em Portugal. O que faltam aliás (não só no uso a dar aos livros, mas em tudo, genéricamente falando) são boas ideias... De todo o modo já vi várias editoras fazerem iniciativas do género leve 2 pague 1, muito comum até em "verdadeiras" feiras do livro, não a comercial que existe todos os anos com preços iguais aos demais locais de venda.

JF disse...

Aliás, ou muito me engano, ou uma "doação" de livros em stock já foi feita no ínicio deste ano lectivo na FDUP, agora não sei se por boa vontade da editora ou do autor ou de ambos... É só uma questão de seguir o exemplo...

DC disse...

Curiosamente, e apesar de "a cavalo dado não se olha o dente", parece que a maior parte desses livros disponibilizados na FDUP nem sequer encontraram dono, apesar de serem OFERECIDOS!

É o Portugal que temos, nem os empresários os querem oferecer, nem as pessoas querem ficar com eles...

A ideia de queimar livros parece bastante estúpida, até porque os livros de um autor, que eu não revelo o nome, publicados por essa editora, eram sem dúvida dos mais interessantes que li do autor...mas isto é só a minha opinião.

DC disse...

a petição já está adaptada ao novo acordo ortográfico, o que deixa entristecido...

Inês P. disse...

além do enorme desperdício, há ainda a questão de os autores menos conhecidos terem pouco tempo para se afirmarem. esta medida vai provavelmente favorecer os autores já conhecidos e deixar que grandes obras nos passem ao lado.

D. disse...

prefiro acreditar que é um erro do pensar que é o raio do acordo ortográfico já a fazer efeito :'(

Maximilien Robespierre disse...

Sobre o problema do Acordo Ortográfico, recordo que a petição é da autoria do "Movimento Internacional Lusófono", que a par da petição referenciada pelo Ary, tem outras, entre as quais esta:

http://www.gopetition.com/online/17740.html

"PETIÇÃO À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA EM PROL DE UMA MAIS RÁPIDA IMPLEMENTAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO"

Portanto, Daniela, não creio que as tuas esperanças tenham fundamento ;)

Mas de qualquer modo, causa assim tanta espécie aos augustos tribunos da SDD a entrada em vigor do mesmo?

Não é o Acordo um sinal de pragmatismo da Lusofonia, estabelecendo os acordos possíveis, em prol do fortalecimento de uma Língua que é o seu Património Comum mais valioso e duradoiro?

A aproximação de grafia e fonologia com os demais Povos que connosco partilham a Língua-Pátria de Pessoa é assim tão severa ofensa cultural? Escrever "elétrico" ao invés de "eléctrico", "fato" em vez de "facto" é mais ofensivo para a Língua de Camões do que quando se passou a escrever "fósforo" em vez de "phosphoro", "exausto" em lugar de "exhausto" ou quando abandonámos a acentuação nos advérbios de modo? Uma Língua não se quer como força viva, sempre evoluindo e progredindo, acompanhando os tempos e ficando cada vez mais rica e abrangente?

Devemos realmente considerar a ortografia como um baluarte da identidade portuguesa, assumindo uma postura autista face à vontade dos demais povos da Lusofonia em construir e reforçar pontes culturais?

Porque nos sentimos fascinados com o inglês nas escolas ensinado a alunos cada vez mais jovens, mas horrorizados perante a aproximação da língua-mãe aos irmãos do Brasil e das ex-colónias?

Custa assim tanto reconhecer que hoje a influência da Língua Portuguesa no Mundo e o interesse que suscita vem, não apenas de Saramagos e Lobos Antunes, mas também de Chicos Buartes, Paulos Coelhos, Loyola Brandãos, Arménios Vieira e Mia Coutos?

Pode Portugal verdadeiramente afastar-se deste processo, agarrado, qual Gollum decrépito ao seu "Precioso", enquanto o Mundo e a própria Língua mudam em seu redor?

Não é este Acordo um instrumento fundamental para uma mais forte e fraterna relação entre todos os países lusófonos e até para uma mais clara relação deles no seu conjunto nos fóruns internacionais, na ONU?

Como se podem orgulhar os portugueses de ser sua a quinta língua do Mundo e depois ver como satânica uma aproximação àqueles que também contribuem para essa proeminente posição?

O português no continente europeu não está sequer entre as dez línguas mais faladas, com um número de falantes comparável ao búlgaro e checo.

Na África, o português é eclipsado como língua franca pelo inglês e francês, falados nos países que cercam os PALOPs.

Na Ásia, um continente de várias línguas de centenas de milhões de falantes, a única nação lusófona é o pequeno Timor-Leste, onde o próprio dialecto local compete com o português pela posição de supremacia.

Neste contexto não deveria ser um imperativo patriótico querer manter a dimensão e força global do Português, já que essa globalidade é é aliás parte da própria identidade da Língua e testemunho da sua História? E para tal não é necessário que os mais de 260 milhões de falantes se exprimam a uma só voz?

Ary disse...

Eu compreendo as virtudes do acordo ortográfico e acho que este acordo é melhor que nenhum. O problema é que parece-me que o Brasil só não conseguiu manter o trema e nós vergámos-nos a todas as suas exigências. É natural que assim tenha sido porque os brasileiros são muito mais que os portugueses mas acho que numa negociação deste género não pode haver critérios únicos muito menos esse.

Mas o pior é que este acordo provavelmente já vem demasiado tarde.

D. disse...

eu agora não tenho tempo de estar aqui a fazer uma explicação enorme sobre os meus motivos, devido ao meu exame de administrativa já amanhã. mas como já disse antes, acho que a riqueza de uma língua se mostra pela forma como ela pode diferentemente falada e escrita e nas várias vertentes que ela assume nos diversos países onde é falada. pelo que uniformizar apenas lhe retirar essa mesma riqueza, fazendo perder as várias formas.
ou sejas, nem sequer é o achar que o português de portugal é mais digno ou correcto, mas apenas o achar de que as suas variantes são preciosas precisamente por serem variantes, não fazendo sentido castrar essas diferentes evoluções com regras.

p.s - eu assinei precisamente a petição contra o acordo ortográfico :P

Maximilien Robespierre disse...

Cherie Daniela,

Começando por te desejar boa sorte para o exame de amanhã, venho expor o seguinte:

Não creio que os teus receios sejam proporcionais às mudanças em causa. Um Acordo Ortográfico que muda dois por cento das palavras que escrevem os portugueses (e um por cento das que os brasileiros escrevem) não impõe um totalitarismo unitário sobre a língua, não apaga as ricas variantes regionais da mesma.

Paralelamente, podemos mesmo indagar se importar para Portugal "brasileirismos" vem empobrecer a língua ou enriquecê-la. Não creio que o Português tenha ficado mais pobre com a importação de francesismos, anglicanismos, arabismos, latinismos, hebraísmos, americanismos, orientalismos e muitos outros "ismos".

Quanto ao desequilíbrio das cedências de que fala o Ary, creio que o critério não é meramente uma questão de contabilidade numérica, mas até de peso cultural. A título exemplificativo, muito antes da aprovação deste Acordo, já os PALOPs demonstraram uma vontade de aproximação à fonética brasileira, até por questões de Mercado. Nos programas informáticos, no «software» dos correctores ortográficos, nos manuais de instruções de todo o tipo de produtos, é o português do Brasil que predomina. Entende-se por isso que tenham de ser feitas cedências também da parte "tuga". E se cumularmos isto com a habitual indecisão dos portugueses, que nunca têm posições bem definidas quando se encontram com parceiros já bem cientes do que querem (vide exemplo do acordo TGV com Espanha no Governo Barroso) podemos melhor entender o porquê de raramente levarem a água ao seu moinho.

Havendo que obviamente fazer uma ponderação de prós e contras das alterações em causa, torna-se evidente que os custos da não aprovação deste acordo parecem bem superiores às cedências que o mesmo teve de comportar para a diversidade ortográfica.

Desde logo, numa era de crescente globalização, há uma concorrência feroz entre línguas, até como modo de afirmação de identidades culturais próprias. Quando hoje entras numa livraria francesa e vês expressões do género "Traduit du brésilien" e quando verificas que no Brasil muitos apreciam esse equívoco, compreenderás o risco que assim passa a correr o Português. Na era global, quem não se adapta morre.

Nos tempos modernos, com o intercâmbio cultural proporcionado pelas novas tecnologias e novos sistemas de comunicação, facilidade das deslocações e liberalização das trocas, é normal que a tendência seja para a centralidade das línguas mais fortes (para já e maxime o inglês, mas a médio prazo em concorrência com o Mandarim), influenciando e subalternizando as menos difundidas e de menor influência.

Podemos tomar a posição saudosista, fechados no alfarrabista vendo o Mundo mudar em nosso redor e o Português a ser reduzido à dimensão de pequena língua local, ignorando a veia expansionista e globalizante que a História deste país sempre preconizou. Ou podemos reconhecer o Mundo como ele hoje é e partir para a luta, em prol da Língua e Cultura que queremos ver prosperar.

Todo o Mundo é composto de mudança, como bem recordava o Camões. É uma questão de saber se queremos mudar com ele, antecipando-nos até às alterações e sendo players activos nas mesmas, ou sermos forçados a mudar, em condições decerto ainda menos vantajosas.

Aluno que tirou 10 a fiscal disse...

E o da gloria teixeira? Esse serve para acendalha, nao?

Aluno que tirou 17 a fiscal disse...

Ouvi dizer que dá muito boas brasas ...

Enviar um comentário